Descrição da experiência

Relato sobre experiência vivenciada durante a coleta de dados de uma pesquisa de mestrado em Enfermagem, que teve como objetivo avaliar a qualidade de vida (QV) e autoeficácia de pessoas com Úlcera Venosa (UV) atendidas na atenção primária à saúde em Nata/ Rio Grande do Norte, Brasil. A pesquisa foi realizada em todas as unidades de saúde da família e unidades mistas do município. Diante da supervalorização de pesquisas quantitativas nas publicações da área da saúde e enfermagem, nacionais e internacionais, optou-se por investigar os aspectos da QV e autoeficácia por meio de instrumentos quantitativos, que geram escores, sendo eles o Short Form Health Survey (SF-36) e a Escala de autoeficácia para dor crônica, ambos validados para o Brasil. Na maioria dos casos, os questionário foram aplicados no domicílio da pessoa entrevistada ou, algumas vezes, na unidades onde estas pessoas erama atendidas. Durante as conversas para realização da entrevista, percebeu-se diversas nuances que envolvem o indivíduo que convive com uma ferida crônica do tipo UV, percepções que qualquer questionário meramente quantitativo seria incapaz de traduzir em números e escores. Entre os entrevistados, haviam idosos abandonados pela família, pessoas que moravam sozinhas, outros sem conhecimento sobre o seu estado de saúde, vivendo em um ambiente de sujidades, com alimentação inadequada, trabalhadores que não conseguiam aderir ao tratamento pela carga de trabalho exercida, pessoas sem assistência adequada de saúde das unidades onde estavam adscritos, e ainda fora da área de abrangência da estratégia de saúde da família. Vale salientar que também tiveram aqueles que eram ajudados e bem tratados por familiares, com melhor poder econômico para aquisição de materiais para o curativo e acesso a boa nutrição, melhor nível educacional e autocuidado efetivo.

Resultados alcançados e repercussões da experiência:

Adentrar nas casas das pessoas com UV e poder conversar com elas evidenciou o quanto a lesão exerce influência negativa nos aspectos físicos, sociais e emocionais, como também nos sentimentos de capacidade para realização de tarefas diárias, mesmo com a condição crônica. Foi possível perceber que números não conseguem traduzir conceitos tão subjetivos como a QV e autoeficácia, sendo necessário estudos qualitativos para uma percepção mais apurada, a fim de encontrar resultados passíveis de intervenções futuras dos profissionais de saúde, da sociedade e do Estado.