Última alteração: 2014-11-08
Resumo
Frente aos desafios da formação em saúde adequada aos princípios do SUS, urge que busquemos estratégias pedagógicas coerentes com a nossa aposta político-pedagógica, que valoriza os sujeitos, os saberes, relações e que se pauta na integralidade do cuidado. O presente relato tem como objetivo compartilhar a experiência na utilização do Psicodrama e da problematização como abordagens teórico-metodológicas para a Educação Permanente e Ensino na Saúde. Serão apresentadas três experiências, realizadas em três níveis de formação: 1) Graduação, 2) Residência Multiprofissional e 3) Educação Permanente - curso para profissionais de saúde vinculados a Secretaria de saúde do DF. As duas primeiras experiências referem-se à utilização desta proposta em espaços de aprendizagens formais (disciplina e estágio curricular) e a terceira experiência refere-se a participação em um curso de capacitação das equipes vinculadas a Captação de Órgãos. O Psicodrama está contido na Socionomia, obra de Jacob Levy Moreno cuja fundamentação é o foco no encontro entre mundo subjetivo, psicológico e mundo objetivo, social, contextualizando o indivíduo em relação ao seu contexto vivido; a intervenção psicodramática tenciona a vivência segura e ressignificativa da realidade das relações e mobiliza a busca de possibilidades para o manejo do conteúdo emergente, expandindo os recursos disponíveis. Em todas as experiências foram utilizadas técnicas psicodramáticas como duplo, espelho e inversão de papéis a fim de aproximar o sujeito da realidade vivenciada e refletir sobre o papel profissional e sobre os sentimentos envolvidos na relação de cuidado em saúde. Buscou-se realizar avaliação ao final do processo acerca da proposta pedagógica, bem como dos sentidos atribuídos pelos profissionais ao processo formativo e como este influenciou ou não no desempenho do seu papel profissional. As avaliações apontaram para a importância de abordagens pedagógicas mais reflexivas e vivenciais que apoiam o desenvolvimento de novas respostas e caminhos discutidos e vivenciados em grupo. Percebe-se em comum nas experiências que as metodologias utilizadas proporcionaram a reflexão do papel profissional sob um olhar mais voltado para a experiência vivida e buscando desenvolver reflexão crítica sobre a intervenção na realidade. Este comportamento de autorreflexão e imersão na realidade para nela intervir ativa e conscientemente é o que podemos observar como desejável para os profissionais de Saúde hoje, bem como o que consideramos alinhado à nossa concepção político-profissional, quando o contexto é de demandas totalmente novas que ensejam versatilidade e humanização na construção de suas respostas. Também consideramos que traz uma concepção diferenciada de cuidado ao ressaltar a perspectiva do usuário do serviço como válida e relevante no processo de promoção e recuperação de saúde; mas, mais ainda, por permitir ao profissional cuidador que se observe e acolha enquanto sujeito pessoalmente implicado no processo de saúde daqueles que atende. Um dos desafios que permanecem é inserir essa proposta didático-pedagógica em outras atividades de Educação Permanente é buscar fortalecer o vínculo nas equipes.
Palavras-chave
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