Rede Unida, Encontro Regional Centro-Oeste 2014

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Psicodrama e Comunicação de Más notícias: relato de experiência com equipes da Central da Captação de Órgãos
Larissa Polejack, Marina Nobre, Marina Fraga Palma, Pérolla Goulart

Última alteração: 2014-11-08

Resumo


O presente trabalho propõe uma reflexão acerca do papel da Psicologia na formação em Saúde para o SUS. Resultando da experiência de uma equipe de Psicologia convidada para abordar o tema “Entrevista Familiar e Comunicação de Más Notícias” no “Curso de Capacitação de Profissionais de Saúde em Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante”, realizado pela Central de Captação de Órgãos da Secretaria de Saúde do DF em maio de 2014, cujo público-alvo foram profissionais de Saúde desta. “Más notícias” são informes de conteúdo desagradável que, no âmbito da Saúde, frequentemente se referem a intercorrências inesperadas no trajeto terapêutico, ou mesmo crises imprevisíveis. Mobilizam a frustração pessoal do indivíduo ao mesmo tempo em que demandam respostas rápidas que tangenciam condições delicadas de vida e produzem diferenças significativas para clientes e profissionais. Para o profissional exige-se conhecimento técnico suficiente para esclarecimento de todos os tópicos necessários ao usuário para a tomada de decisão, assim como experiência e versatilidade para análise e manejo do contexto em busca do desfecho o mais adequado possível. Mas há também o aspecto subjetivo do indivíduo que desempenha o cuidado, que precisa oferecer apoio ao cliente e merece espaço e atenção acerca de sua experiência pessoal com tal adversidade.A atividade teve o Psicodrama como base teórico-prática: nesta abordagem psicológica o homem é um ser de ação e detentor de potencial criativo próprio, que se constitui e é constituído em relações grupais/sociais; desse modo o foco e objetivo das intervenções, pautadas em técnicas teatrais, é [re]experienciar e [re]criar tais relações, facilitando a busca de alternativas para a resolução do que é revelado e expandindo os recursos subjetivos disponíveis. Sugeriu-se ao grupo (enfermeiros, médicos e graduandos) a construção de uma cena sociodramática, com a informação de que aquele seria o momento de diálogo entre um membro da equipe de captação e um familiar do possível doador. Realizou-se a criação conjunta das personagens e conseguinte dramatização da situação descrita. Assim, os participantes puderam vivenciar tanto o papel que lhes é familiar, o de profissional, quanto o do usuário do serviço em momento de crise. Emergiram, então, falas sobre as dificuldades cotidianas que tornam ainda mais crítico o momento do diálogo em questão, sobre os entraves do sistema institucional acerca da relação entre profissional e familiar -e sua influência no sucesso da captação- e também expressões de reconhecimento dos sentimentos dos familiares, que ainda vivem o luto, e os deles próprios enquanto pessoas.

A observação do grupo é de que a formação oferecida no Ensino Superior regular não prepara técnica ou imanentemente o cuidador para estes momentos de crise subjetiva.

Entende-se necessário proporcionar ao profissional a Educação Permanente para instrumentalização técnica e desenvolvimento subjetivo, de forma humanizada e alinhada às perspectivas atuais de Saúde integral e equânime. A Psicologia traz a proposta de observar e refletir investindo no desenvolvimento humano necessário às demandas da saúde biopsicossocial; traz estratégias pedagógicas coerentes com a aposta político-pedagógica que valoriza os sujeitos, os saberes, as relações, e a integralidade do cuidado.


Palavras-chave


Psicodrama, Comunicação de Más notícias, Captação de órgão

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