Última alteração: 2014-11-09
Resumo
A discriminação baseada na orientação sexual e identidade de gênero no ambiente de trabalho não é recente, porém ainda há necessidade de se estudar os fenômenos relacionados a ela. Para tanto, objetivou-se analisar os discursos de profissionais de saúde, médicos e enfermeiros, quanto as suas concepções acerca das diversidades sexuais e suas implicações nas relações interprofissionais. A perspectiva sócio-histórica, sob a ótica de Vygotsky, foi o referencial adotado para se nortear os resultados encontrados, sendo que a psicologia social ofereceu na produção de sentidos o fundamento metodológico para a organização e análise dos discursos coletados. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em pesquisa da UFMS. Foram entrevistados 14 profissionais, médicos e enfermeiros, que atuam na cidade de Campo Grande, MS. Os discursos foram coletados no período de janeiro a abril de 2013, por meio de entrevistas individuais realizadas ou nos locais de trabalho dos participantes, ou em suas residências, conforme solicitado pelos mesmos. Das narrativas surgiram duas categorias representativas da experiência do profissional frente às diversidades sexuais. A primeira denominou-se “Refletindo sobre as diversidades sexuais”, desta emergiram os temas: “criando um conceito para diversidades sexuais”, “concepção pessoal de diversidades sexuais”, “as reações diante do paciente pertencente às diversidades” e “como administrar as mudanças exigidas”. A segunda denominou-se “Entendendo a relação entre o profissional de saúde hetero e homossexual”, desta surgiram: “a discriminação e o preconceito”, “a aceitação”, “a dicotomia nas relações profissionais”, “os estereótipos” e “a busca pelo respeito e igualdade”. Conceitos sedimentados sobre os papeis de gênero na sociedade ainda figuram nos discursos dos profissionais de saúde, fato que fomenta a legitimação da heteronormatividade como conduta dominante, excluindo toda forma de viver que se afaste desse padrão. Para tanto, discursos desestimando as expressões de liberdade buscadas pela população das diversidades são frequentes nas falas dos profissionais tanto homo quanto heterossexuais. Para que haja o respeito por parte da sociedade, as diversidades sexuais devem se portar dentro das regras pré-concebidas por esta. Apesar de sentirem-se aceitos em seus ambientes de trabalho, os profissionais de saúde homossexuais ocultam sua vida pessoal, dessa forma, fica a questão, eles seriam realmente aceitos ou respeitados por se portarem de acordo com as regras heteronormativas?
Palavras-chave
Referências
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