Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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EDUCAÇÃO EM SAÚDE: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS DE CIRURGIÕES-DENTISTAS DO SERVIÇO PÚBLICO
Poliana Gomes

Última alteração: 2015-10-27

Resumo


INTRODUÇÃO: Historicamente o desenvolvimento conceitual e metodológico do termo saúde orientou-se na noção de que saúde corresponde a ausência de doenças. Na odontologia, esta concepção levou à hegemonia um modelo de atenção à saúde bucal com enfoque prioritariamente curativo. Este modelo tem se mostrado insuficiente para explicar os diferentes perfis epidemiológicos bem como incapaz de produzir mudança significativa no cenário da saúde bucal do brasileiro. A transformação deste modelo tem sido amplamente estimulada e nesta trajetória destaca-se a proposta do Ministério da Saúde para a reorganização da atenção básica, almejando a integralidade da assistência a população, através da Estratégia de Saúde da Família (ESF). A educação em saúde é uma das práticas que integram a rotina da ESF, que pode ser operacionalizada com base no enfoque da promoção de saúde ou no enfoque higienista. Para a abordagem promotora de saúde, esta atividade deve ser um campo multifocal, permitindo intercâmbio de informações entre o saber científico o saber popular e a construção de uma visão crítica dos problemas de saúde. Envolvendo conhecimento, conscientização e aquisição de habilidades, uma vez que os processos educativos e os de saúde-doença incluem tanto conscientização e autonomia quanto a necessidade de ações coletivas e de participação. No entanto, muitas vezes, a educação em saúde é ainda definida como uma estratégia para fazer as pessoas mudarem comportamentos, assumindo um papel racionalista e higienista, de um processo tradicional que, geralmente, impõe normas e condutas, responsabilizando e culpabilizando os indivíduos por seus problemas de saúde. Assim também os processo educativo definirá se o profissional motivou o educando a internalizar e ter instrumentos para modificar determinantes do processo saúde-doença ou somente criou um processo de depósito de informações. OBJETIVO: Analisar o conceito e as práticas de educação em saúde de cirurgiões-dentistas que atuam dentro da estratégia de saúde da família, de oito municípios do estado do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. METODOLGIA: Pesquisa do tipo descritivo com abordagem qualitativa e quantitativa. A população-alvo constou de  cirurgiões-dentistas inseridos na ESF em cinco cidades da região do Alto Vale do Itajaí e três municípios do noroeste Rio-grandense, no Rio Grande do Sul. A amostra é não probabilística e foi obtida por conveniência, tendo como único critério o aceite. A coleta de dados deu-se através de entrevista estruturada gravada. O roteiro da entrevista foi efetuado em duas partes: a primeira parte teve por objetivo caracterização dos sujeitos, mediante obtenção de dados sobre: gênero; tempo de atuação no serviço público; tempo de obtenção do título de cirurgião-dentista; idade; atuação profissional. A segunda parte constou de duas questões norteadoras: "O que você entende por educação em saúde" e "Relate como são as ações de educação em saúde em seu local de trabalho". O método de análise dos dados para segunda parte da entrevista foi análise temática, empregando o método de Bardin, transcrevendo as evocações, identificando os núcleos descritivos dos objetos em estudo, pré-análise, categorização, agrupamento e registro das evocações. Para cada categoria foi calculada a frequência relativa. RESULTADOS: Um total de vinte cirurgiões-dentistas integrou a pesquisa, dos quais 40% eram do sexo feminino e 60% do sexo masculino. As idades dos participantes variaram entre 24 e 61 anos, sendo 40,3 anos a idade média do grupo. Com relação ao tempo de atuação no serviço público, identificou-se uma variação entre um e trinta e dois anos, sendo que 80% ficaram na faixa de 01 até 20 anos. O tempo decorrido desde a obtenção do título variou de 01 e 38 anos. A maior frequência (45%) foi para espaço compreendido entre 11 e 20 anos. Quanto às evocações para o conceito de educação em saúde, a categoria Enfoque de Promoção da Saúde foi a mais frequente (59%); e a frequência da categoria Enfoque Higienista foi de 41%. Com relação às práticas educativas desenvolvidas, as Práticas Tradicionais foram citadas por 93% dos pesquisados e somente 7% deles abancaram na categoria Práticas Inovadoras. DISCUSSÃO: No que se refere à conceptualização, houve o predomínio das evocações relacionadas a Promoção da Saúde, entendendo educação em saúde para a formação de sujeitos críticos pensantes, capaz de avaliarem suas posturas, do meio em que estão expostos, que articulem, questionem as dificuldades, potencializem a otimização de qualidade de vida, atuando de modo reflexivo e autônomo. Sendo assim capaz de realizar as escolhas mais saudáveis que terão reflexo em sua vida. No entanto, as práticas revelaram-se como ações tradicionais preventivas, focalizadas em normas de higiene, onde a prática educativa é confundida e limitada a intervenções tradicionais preventivas, A educação para a boa higiene, descende de leitura educacional dos anos 60 e 70 autoritária, tecnicista e biologicista, quando educação limitava-se a campanhas sanitaristas. Estas práticas não se enquadram hoje nos padrões de exigência da ESF, que surge na lógica de promoção e prevenção, rompendo com este modelo normatizador. Assim também levantamos alguns aspectos que possam ter orientado essa dicotomia nas falas dos profissionais, que seriam o próprio reflexo do modelo de formação destes profissionais, em sua maioria formado pelo modelo flexneriano, que se caracteriza por ser hospitalocêntrico, biologicista, fragmentado, que trabalha com repasse de informações de modo verticalizado, como também a estrutura que é oferecida para atuação profissional. A desvalorização da educação em saúde, culturalmente vista como atividade subjetiva de menor valor que as curtaivas e por fim o tempo de atendimento clínico que acaba por vezes somente suprindo a demanda curativa reprimida não conseguindo prover ações educativas. CONCLUSÃO: Imposto esta ambiguidade entre falas e práticas dos profissionais acreditamos que é relevante propiciar espaços para discussão com o objetivo de se buscar consistência conceitual aliada à efetivação das práticas educativas, que atendam as reais necessidades do modelo de atenção à saúde definido pelos pressupostos do Sistema Único de Saúde. Partindo do intento que aprender não é um mero domínio de técnicas, habilidades e muito menos memorização teórica. E, sim é a aquisição de capacidade de explicar, de aprender e compreender, de enfrentar criticamente situações. A concepção deve estar voltada a problematização, deve ser pautada na escuta qualificada, ou seja, primeiro ouvir para depois poder instrumentalizar o educando para que possa atuar como agente de transformação no seu meio. Visando assim uma cisão entre conhecimentos, sejam estes científicos, tecnológicos e saberes de culturas múltiplas e coexistentes numa mesma dinâmica. Formando-se cidadãos- críticos – pensantes, que se entendam capaz em todos os meios, sendo ativos políticos e socialmente.

Palavras-chave


Capacitação de Recursos Humanos. Educação em Saúde. Promoção da Saúde.

Referências