Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida
Suplemento Revista Saúde em Redes ISSN 2446-4813 v.2 n.1, Suplemento, 2016
Polifarmácia e analfabetismo: o desafio de tornar o uso de medicamentos racional a partir da visita domiciliar, por alunos do 4º ano de Medicina na UFMS
Carolina Jorge Segantini, Adélia Delfina da Motta Silva Correia, Elizete da Rocha Vieira de Barros, Daniel Felipe Gomes da Costa, Ana Flávia Silva Pina, Carolina Benitez de Souza
Última alteração: 2015-10-27
Resumo
O presente resumo relata a experiência de acadêmicos no estágio de integração ensino - serviço, do 4º ano do Curso de Medicina da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (FAMED-UFMS), na Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) São Conrado, região oeste de Campo Grande/MS. Nesta integração à Saúde da Família e Comunidade o grupo teve contato nos dias de estágio, durante visita domiciliar, com uma família onde um paciente com sequelas neurológicas de um atropelamento era cuidado pela esposa não alfabetizada e hipertensa. Diante da situação sentiu-se a necessidade do desafio de fazer algo pela família. Quando se percebeu a grande dificuldade da cuidadora em administrar adequadamente os diversos medicamentos do esposo e os seus próprios, já que, mesmo com boa vontade, não sabia ler. Na busca de uma maneira eficaz do uso de medicamentos por aquela família, constatamos que a principal causa de descompensação de doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, é o uso incorreto de medicamentos, principalmente por idosos e analfabetos. Quando o paciente é analfabeto, é necessário diferenciar os medicamentos, com alternativas como fitas, adesivos, canetas coloridas, números ou sinais que facilitem seu uso. Assim, buscou-se uma adaptação, capaz de facilitar o uso adequado dos medicamentos pela família, nas doses e horários corretos. A visita domiciliar colocou os alunos frente a frente com realidades jamais imaginadas no ambiente hospitalar e de solução complexa. Neste caso, a partir da literatura, decidiu-se por construir duas caixas, em MDF, sendo uma para cada membro da família. As caixas tinham tamanho e formato diferentes para que cada um pudesse identificar a sua própria caixa. Dentro das caixas havia divisões para os diversos medicamentos, identificados por cor e símbolos por período de administração (manhã/tarde/noite). Pensando no momento de dispensação dos medicamentos na UBSF, foram confeccionadas sacolas em TNT, nas cores correspondentes às da caixa, para que, ao chegar à casa a Sra. M. pudesse organizar os medicamentos. Houve dificuldades de encontrar a família em novas visitas, mas a entrega foi realizada e todas as orientações feitas. O uso racional de medicamentos se apresenta como um desafio para a Estratégia de Saúde da Família. Pacientes polifármacos devem ter acompanhamento, com revisão regular e pré-definida (agendada) de prescrição e redução de medicamentos ao máximo possível. Há evidências disponíveis que comprovam que, em idosos frágeis, a suspensão ou redução de medicamentos colabora para melhora substancial na mortalidade e em encaminhamentos para cuidados agudos, sem eventos adversos causados pela suspensão. O desafio desta redução da polimedicação implica tanto no ajuste da visão que a pessoa tem de si mesma e da doença, quanto modificar a visão de que o bom cuidado exige a presença de medicamento. No caso estudado, com o paciente com sequela neurológica, a suspensão completa de medicação é inviável. Portanto, havia que se criar meios de melhor uso das medicações para o caso. Vale registrar que nesse desafio, o estágio finalizou antes que pudéssemos observar, com longitudinalidade, a adesão da família e a funcionalidade da solução proposta, mas a abertura da nossa visão enquanto acadêmicos para a polifarmácia e a complexidade que a cerca, foi alcançada com a atividade.
Palavras-chave
Prescrições de Medicamentos; Polimedicação; Estratégia Saúde da Família
Referências
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