Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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O Estágio de Vivência do SUS enquanto princípio educativo para formação em saúde: relato de experiência
adriana glay barbosa santos, antônio carlos santos silva, daniel dias sampaio, eliana gusmão oliveira, edison vitório de souza júnior, eduardo nagib boery, adson pereira silva, gabriele novaes

Última alteração: 2015-11-03

Resumo


APRESENTAÇÃO: De acordo com o artigo 200, Inciso III da Constituição Federal, é atribuição do Sistema Único de Saúde ordenar a formação de recursos humanos para o setor. A Política de Educação em Saúde busca reverter o descompasso atual entre a formação hegemônica praticada nas instituições de ensino e as necessidades de saúde da população em todo o território nacional, sobretudo no Estado da Bahia. Paradoxalmente, a formação em saúde continua sendo reconhecida como área crítica do processo de reorientação do setor. Neste sentido foram sendo articuladas ações e estratégias na perspectiva de reorientar a formação dos profissionais de saúde, traduzidas pela implementação de instâncias e projetos, tendo a Escola Estadual de Saúde Pública como alicerce desse processo e a vivência no SUS como prerrogativa. O Estágio de Vivência no SUS constitui-se como uma estratégia de reorientação da formação profissional em saúde, na medida em que possibilita ao estudante vivenciar o SUS em sua essência, refletindo, transcendendo e, invariavelmente, conclamando o sujeito para o compromisso ético-político nos processos de transformação do setor saúde. Permite ao sujeito a vivência em sistemas locais de saúde e em áreas de reforma agrária onde residem populações (comunidades quilombolas, assentadas e acampadas) que foram historicamente excluídas do acesso aos cuidados básicos de saúde. O objetivo do estagio de vivência no SUS é provocar no estudante o compromisso ético-político nos processos de transformação do setor saúde, refletindo acerca do seu papel enquanto agente construtor e modificador das práticas sociais. DESENVOLVIMENTO: Este relato de experiência trata do Estágio de Vivência nos serviços de saúde e movimentos sociais (MST) realizado no município de Eunápolis-Ba, no período de 01 a 07 de agosto de 2010. O grupo fora formado por 2 mediadores de aprendizagem (01 estudante de nutrição do 7º semestre e 01 estudante de fonoaudiologia do 6º semestre) e 15 alunos de graduações diferentes da área de saúde (educação física, enfermagem, medicina, fisioterapia, farmácia, bacharelado interdisciplinar em saúde, fonoaudiologia, assistência social, odontologia, psicologia) de instituições superiores (públicas e privadas) e contextos diferenciados de várias cidades baianas, com o intuito de identificar e refletir sobre as fragilidades e potencialidades presentes no contexto da assistência a saúde desta população. O município de Eunápolis localiza-se na região sul da Bahia, com uma população estimada de 100 mil habitantes, apresentava peculiaridades, necessidades e potencialidades que a designam enquanto cidade de porte médio, de grande importância para macrorregião de saúde do sul da Bahia. Quanto maior a cidade percebe-se a necessidade de adoção e implementação de ações e serviços de saúde, enfatizados através de uma política pública que venha intervir de forma direta nas necessidades da população, garantindo o direito a saúde como dever do Estado e direito de todos. RESULTADOS: A realidade da situação de saúde de um município, a forma de organização das ações e serviços de saúde locais, a necessidade do exercício de cidadania em defesa do SUS ou mesmo o processo de formação nas graduações em saúde, por exemplo, são temáticas que apresentam muitas possibilidades de se transformarem em conhecimento, se problematizadas coletivamente, se questionadas sobre sua situação atual e se pensadas num contexto de corresponsabilidade para transformação do olhar e das práticas. Os estudantes selecionados para o estágio de vivência na cidade de Eunápolis foram inseridos num processo educativo aprendizagem significativa, fazendo observações e realizando reflexões sobre o serviço de saúde local e a realidade ora posta, tematizando coletivamente sobre questões pertinentes tanto a sua formação enquanto futuro profissional de saúde, como também sobre os desafios da área de saúde. A observação critica e reflexiva da realidade do SUS, a partir dos eixos do projeto (Políticas de Saúde, Modelos de Atenção à saúde, Formação em Saúde e Participação Popular) somada às experiências individuais de cada estagiário e a participação dos mediadores de aprendizagem constituiu-se como dispositivo fundamental para o processo de aprendizagem. Considerando-se que é na interação com outros sujeitos que se vão internalizando conhecimentos, papéis e funções sociais, a interação de multiolhares permite a formação de conhecimentos e empoderamento. O estagiário deixa de ser visto como objeto da aprendizagem e passa a ser sujeito dela, aquele que aprende junto ao outro o que o seu grupo social produz, tal como valores, conhecimento e práticas. Quem faz o estágio acontecer é cada um de nós. Com o envolvimento dos estudantes nesta atividade, foi possível também colocar em discussão o projeto político-pedagógico das Instituições de Ensino Superior e a atuação de seus agentes. Torna-se necessário que a Academia se responsabilize pela produção de conhecimento a partir da realidade concreta da sociedade, aprofundando a articulação entre o ensino-pesquisa-extensão, na perspectiva de mudanças na formação coerentes com as necessidades de saúde da população. A relação dialógica entre a universidade e a sociedade, deve possibilitar uma troca e produção de saberes. As experiências das vivências nos municípios aliada ao resgate da importante participação dos estudantes na associação e participação nos grandes movimentos de transformação da sociedade brasileira, trazem a possibilidade de reflexão sobre as mudanças no processo de formação em saúde, a partir da aproximação dos estudantes nos processos de reforma curricular, na implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais, nos projetos Pró/Pet-Saúde, nas pesquisas voltadas para a transformação da realidade social, nos projetos de extensão, nas instâncias de representação/organização estudantil, dentre outros. Esta iniciativa aliada ao fortalecimento e ampliação dos processos de mudança das matrizes de formação da graduação do profissional de saúde, às parcerias efetivas entre instituições formadoras, agências fomentadoras e serviço de saúde, o envolvimento e fortalecimento dos movimentos sociais organizados, possibilitaram a reorientação de novas práticas pedagógicas, a partir da articulação do tripé universitário ensino-pesquisa-extensão e novas práticas de saúde, contribuindo para a implementação de políticas públicas em diferentes contextos locorregionais, com abertura para ações intersetoriais e aproximação do discente com o cotidiano do SUS. Outrossim, trazem também a possibilidade de pensar as mudanças na forma como se organizam as ações e serviços de saúde e principalmente como se processam o cuidado aos usuários/cidadãos. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Pautar o trabalho como princípio educativo significa, em última análise, recorrer à teoria e à prática do trabalho como referências permanentes na organização do trabalho pedagógico: do planejamento (definição das concepções, do perfil, dos conhecimentos, das formas metodológicas, das disciplinas, dos processos de acompanhamento), à efetividade dos programas em ação, isto é, à materialização dessas intencionalidades no cotidiano do cuidado em saúde. O Estágio de Vivência na cidade de Eunápolis-BA constituiu-se, indubitavelmente, como um instrumento de qualificação e reorientação profissional para nós, acadêmicos da área de saúde, evidenciando os entraves encontrados na aplicação prática do processo de saúde, bem como da necessidade do empenho, compromisso e satisfação do profissional atuante no serviço. Desde a atenção básica, perpassando pela média e alta complexidade, como também pelas parcerias com o setor privado e com autarquias estaduais, percebeu-se o engajamento social e ético que vem permeando as políticas nesse município. Nessa perspectiva, os estágios e vivências constituem importantes dispositivos que permitem o estudante experimentar um novo espaço de aprendizagem que é o cotidiano de trabalho das organizações de saúde, entendido enquanto princípio educativo, possibilitando a formação de profissionais comprometidos ético e politicamente com as necessidades de saúde da população.

Palavras-chave


Capacitação de Recursos Humanos em Saúde; Educação em Saúde; Estudantes

Referências


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