Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Projeto de Extensão - Integração CAPS-AD/USF
Lorena do Rosario Gomes, João André Santos de Oliveira, Leandro Dominguez Barretto, Luan Franco Carvalho dos Santos, Vandré Rodrigues dos Santos, Caê Marques Corrêa, Rodrigo Alves Rodrigues, Jakercia Souza Mascarenhas da Silva

Última alteração: 2016-03-21

Resumo


APRESENTAÇÃO: Projeto interdisciplinar desenvolvido em Unidade de Saúde da Família Terreiro de Jesus e CAPSad Gregório de Matos do Distrito Sanitário do Centro Histórico de Salvador (BA). O projeto se estrutura basicamente a partir de 1) Vivência no território, com ênfase nos encontros com os sujeitos e nas afetações que ocorrem nos mesmos e 2) Processamento do vivido periodicamente e em coletivo. Ele surgiu de uma parceria entre docentes do Departamento de Saúde da Família da Faculdade de Medicina da Bahia e estudantes de graduação de diversos cursos da área da saúde vinculados à Liga de Atenção Primária à Saúde (LAPS) da Universidade Federal da Bahia. Fundada em 2012 por estudantes interessados em questões relacionadas à APS a produção do cuidado em saúde, a consolidação do Sistema Único de Saúde - SUS, entre outros. Uma organização estudantil de caráter interdisciplinar, vinculada ao Diretório Acadêmico de Medicina da Faculdade de Medicina da Bahia, que se propõe a realizar atividades de ensino, pesquisa e extensão relacionados ao tema da Atenção Primária à Saúde, como forma de produzir outros percursos formativos para o futuro profissional de saúde. A LAPS tem entre suas atribuições a realização de discussões sobre novas tecnologias de acesso à atenção primária, organização de simpósios, organização de projetos, além de seus membros serem beneficiados por meio de um estágio de vivência associado à liga.  Dentre essas atividades, a liga pretende, por meio de uma parceria com a Unidade de Saúde da Família do Terreiro de Jesus e com o CAPSad, ampliar sua caixa de ferramentas a partir das experiências vividas no cotidiano desses serviços de saúde  e da cooperação em torno das atividades já desenvolvidas pelos mesmos. Através do Projeto, a LAPS busca estreitar a relação entre a Faculdade de Medicina da UFBA e os dois serviços, na perspectiva da integração ensino-serviço preconizada pelas Novas Diretrizes Curriculares para o curso de medicina. Nesse sentido, a LAPS pretende colaborar com a USF e com o CAPSad no fortalecimento das ações que já desenvolvem, assim como fortalecendo a relação entre a atenção básica e a atenção psicossocial através das atividades do Projeto e da inserção dos estudantes e docentes. Esse processo, na medida em que possibilita que os estudantes, de forma interdisciplinar, compreendam melhor como ocorre o processo de cuidado na atenção primária e o cuidado às pessoas usuária de álcool e outras drogas, contribui para enriquecer a formação dos mesmos.   Vivência no Território A vivência nesse território do Centro Histórico permite uma longitudinalidade no processo de atenção aos indivíduos, que tem provocado nos estudantes reflexões sobre a importância do vínculo entre profissional e usuário na produção do cuidado, a perspectiva do encontro na subjetividade do trabalho vivo em ato, e a potência de atuar em rede. Todas essas questões estão em evidência no projeto, cuja atuação nas Unidades do CAPS-AD e USF Terreiro de Jesus, território onde os elementos da construção social aparecem fortemente, proporcionando aos integrantes uma construção do olhar sobre a saúde de forma ampla e diferenciada. A vivência em uma unidade de atenção psicossocial traz questões ainda mais fortes. Apresentam-se aí a relação com as outras maneiras de enxergar a realidade, a problematização sobre as formas de produzir a existência e uma possibilidade de problematização da atitude do cuidador em relação ao que ele tem para si como melhor modo de viver a vida e o que o outro enxerga ser melhor para si. A convivência com diferentes setores da saúde permite um aprendizado multidisciplinar mais verdadeiro e tem levado os estudantes a refletir sobre as ferramentas de cuidado que fazem parte do saber das pessoas e que não estão sobre o domínio de uma única categoria profissional; colocando assim os profissionais, antes de serem atuantes da sua aérea específica, como profissionais da saúde, como agentes do cuidado. A possibilidade de vivenciar os vários serviços de saúde que atuam num mesmo território (contato com o Ponto de Cidadania, com a equipe do Consultório na Rua, com movimentos sociais que atuam junto à população em situação de rua, entre outros) e a riqueza que essas interações adquirem quando os profissionais se enxergam como elementos vivos da rede de cuidado. DISCUSSÕES PERIÓDICAS: Os encontros mensais buscam trazer a narrativa dos estudantes como dispositivos pedagógicos com potência de trazer a implicação, os afetos e a experiência para a cena, contribuindo para um aprendizado significativo para todos (as). Nesse modelo são consideradas como centrais, na construção do olhar sobre o cuidado, a perspectiva de quem vivencia o encontro; são relevados os afetos que surgem a partir da vivencia e os elementos que os mobilizam nas relações estabelecidas (com usuários, profissionais e colegas). A partir das discussões, autores e conceitos são chamados para o diálogo, de forma a fortalecerem a experiência vivida e o aprendizado. OBJETIVOS GERAIS: Permitir uma compreensão diferenciada da relação de cuidado, tendo a clínica como um dos saberes para prática do cuidado; mas não como um elemento indispensável, tampouco como central no processo. Proporcionar a vivência em território e a interação com a rede de serviços e atenção à saúde de forma mais integrada, considerando suas potencialidades e desafios. Objetivos Específicos: Expor os estudantes aos processos, contribuindo com a afetação dos mesmos a partir dos encontros com os diversos atores em cena e da problematização do vivido. Desconstruir uma formação médica-centrada focada na clínica e no procedimento. Permitir que o estudante se reconheça como cuidador tomando o outro que busca cuidado como sujeito e produtor de sua própria existência e não como objeto das práticas profissionais.Permitir que haja predisposição ao encontro com o outro nas relações desenvolvidas no serviço de saúde. Reconhecer os desafios de uma prática profissional que se dispõe a abrir o leque de possibilidades a partir do encontro com o outro, bem como relevar a potência que existe nessa disposição. Permitir, a partir da discussão interdisciplinar, a vastidão de ferramentas que podem ser acionadas para o cuidado. Entender a prática de cuidado, antes de tudo, como uma prática relacional, uma produção social e subjetiva. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O projeto interdisciplinar tem caminhado desde agosto de 2015, em plena atividade. Interessante notar como, mesmo com pouco tempo de execução, já tem dado sinais de transformação no olhar dos participantes bem como uma ampliação dos dispositivos de formação em saúde entre estudantes professores e profissionais do serviço. Tem contribuído na intensificação do processo - recentemente iniciado - de estabelecimento do vínculo docente-assistencial com a USF. Tem também impactado os profissionais, oferecendo maior possibilidades de refletirem sobre seus cenários de atuação a partir das indagações e percepções dos estudantes. Por se propor a um aprendizado que permite um fluxo vivência-reflexão-vivência, o projeto tem permitido aos participantes uma leitura cada vez mais crítica da sua experiência e um avanço notável na percepção de saúde e das possibilidades de construção dos diversos saberes que produzem o cuidado.

Palavras-chave


Produção do Cuidado; USF; CAPSad; Extensão em Saúde; Processamento das Vivências