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CONFLITOS INTERPESSOAIS EM UMA EQUIPE DE SAUDE DA FAMILIA
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
Apesar do pioneirismo do município de Niterói (RJ) na implantação do Programa Médico de Família, a inserção de equipes de saúde bucal ocorreu com um atraso de aproximadamente 10 anos. Como uma das protagonistas deste contexto, tenho como objetivo, relatar as minhas experiências como cirurgiã-dentista nesse programa. Situar-me neste platô, traz para cena um território de produção de cuidado e de subjetividade constitutivos, da minha vida e com os quais tenho grande implicação que é a unidade de saúde da família Maruí Grande. O início da minha experiência no programa foi em 2008, em uma comunidade localizada no bairro do Fonseca, a Vila Ipiranga. A produção do cuidado odontológico foi centrado em crianças, com faixa etária de 2 a 10 anos de idade e gestantes, objetivando provocar mudanças nos seus hábitos deletérios em saúde bucal. Em 2012, através do programa de saúde na escola, desenvolvida pelo governo federal, pude comprovar os resultados favoráveis expressos nas mudanças dos indicadores de placa e de CPOD. Nesse ano, de 2012, fui para um novo desafio, um território com 5.843 usuários cadastrados, sob a responsabilidade de 3 equipes de Saúde da Família, com 20 anos de experiência nesta comunidade, lugares de poder, regras de funcionamento, operando sob a tutela do modelo hegemônico, com uma agenda subsidiada pela livre demanda, uma demanda espontânea e significativa devido à expansão das velhas doenças evitáveis ou contornáveis, abstencionismo, falta de comunicação entre os membros da equipe e estes com os usuários, o anti-sus. Neste contexto, iniciei as minhas atividades e ao mesmo tempo, ingressei no Curso de Especialização em Gestão das Clínicas promovido pelo Hospital Sírio Libanês, por indicação da gestão. Esse curso trouxe para cena todas as minhas angustias. O trabalho de conclusão do curso foi um plano de intervenção estruturado para esse território, mas nunca foi implantado. As tensões relacionais entre os sujeitos e destes com os usuários eram mais intensas e frequentes, equipe desmotivada e conformada, usuários insatisfeitos. Ao mesmo tempo, situar-me, neste território, disparou diversos afetos que impactaram intensamente em minha subjetividade, imprimindo uma identidade subjetiva, na alteridade. Analisando o meu processo de trabalho, observei o potencial produtivo de trabalho em ato que imprimia nos usuários. Esses processos operavam através de relações intercessoras com os trabalhadores e usuários, formando um encontro, no qual, nos posicionávamos como atores/sujeitos durante a produção do cuidado, atravessados por uma intensa intersubjetividade, somado a isso, conectados com o mundo da saúde, formando uma produção de cuidado, para muito além do espaço sistêmico que cercava aquela Unidade, impulsionadas pelo inconsciente que encontra no desejo, sua força propulsora. Esse modo de produção egológico potencializou as tensões relacionais entre sujeitos, provocando disputa e inveja. O desfecho foi o atravessamento das forças “molares” no processo de trabalho desta autora, ocasionando a sua transferência para outra unidade de saúde da família, desse município. Fazendo uma analogia com o mito da caverna (Metáfora Platônica): A escolha de continuar no fundo da caverna é uma pré-disposição ao engano ou ao conformismo?
Palavras-chave
saude da família relacões interpessoais
Referências
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