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O conhecimento do território como possibilidade da construção de vínculos
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
APRESENTAÇÃO: A primeira autora deste relato é doutoranda, desenvolvendo sua pesquisa sobre “a percepção e os sentidos atribuídos ao fenômeno da violência de gênero, pelas agentes comunitárias de saúde (ACS) atuantes na Unidade de Saúde da Família da Vila dos Pescadores no município de Cubatão, SP”, sob orientação do segundo autor. A escolha pelos ACS se deu pelo fato dos mesmos serem considerados importantes na implementação do Sistema Único de Saúde (SUS), especialmente por fortalecer a Atenção Básica, além de em seu trabalho apresentarem uma ligação com a realidade da comunidade, o que possibilita o fortalecimento do vínculo entre profissionais e sujeitos. Este relato de experiência objetiva discutir as reflexões oriundas da entrada da pesquisadora em um território totalmente novo e desconhecido, registradas em diários de campo construídos a partir da pesquisa-ação. Desenvolvimento: Quando do início das visitas (há um ano) ao território de alta vulnerabilidade social, a pesquisadora acompanhou as ACS em visitas domiciliares, para conhecer a realidade do território, ir se familiarizando com o contexto em que a pesquisa irá acontecer como para também ir criando um vínculo mais próximo, com as agentes de modo a possibilitar que elas também conheçam um pouco mais a pesquisadora, adquiram confiança e possam se interessar em participar na pesquisa e das oficinas a serem oferecidas posteriormente. Trata-se da construção do cenário de pesquisa, ou seja, do espaço social para envolver os participantes na pesquisa. RESULTADOS: Durante essa fase de aproximação houve um concurso público que implicou na troca de quase todas as ACS. A pesquisadora pode vivenciar então um período de muita frustração pelas ACS anteriores. E o vínculo que havia sido construído durante meses está sendo reconstruído com as novas ACS, que assumiram o serviço há apenas um mês. Embora seja visto como positivo a contratação por concurso público, praticamente a construção do cenário da pesquisa teve que ser reiniciado. O acompanhamento das ações desenvolvidas pelas ACS permitiu apreender a necessidade de dedicação por parte delas, pois se trata de comunidade onde a pobreza e a violência andam lado a lado. É um trabalho onde é exigida muita criatividade para responder às demandas, pois ao mesmo tempo representam o Estado e os cidadãos de uma comunidade onde o ACS também mora. A falta de condições propícias de trabalho, bem como a ausência de valorização e reconhecimento dos munícipes, dos profissionais da equipe e até de gestores, pode gerar deficiências na qualidade do trabalho, bem como o sofrimento patogênico. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Os autores acreditam que a fase de conhecimento do território, tendo a metodologia qualitativa como base, possibilita a construção de vínculos entre o pesquisador e os atores sociais da comunidade e da USF, pois a presença nas visitas, juntamente com as ACS, possibilitou uma proximidade onde as mesmas encontraram espaço para estabelecer diferentes diálogos, tanto em relação a questões pessoais, como profissionais. Nesse sentido a relação com a pesquisadora serve de respaldo e de apoio na busca da promoção da saúde desses trabalhadores.