Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A implementação do quadrilátero da formação na educação permanente: discutindo Residência Multiprofissional em Saúde - Cuidados Continuados Integrados - UFMS
LUCIANA SHIRLEY PEREIRA ZANELA, Laís Alves de Souza Bonilha, Mayara Pereira de Souza, Amanda dos Santos Ferreira, Larissa Nakahata Medrado, Adriane Pires Batiston

Última alteração: 2015-10-27

Resumo


APRESENTAÇÃO: A formação dos trabalhadores em saúde traduz-se em um dos grandes “nós críticos” para o modelo tecnoassistencial existente, que priorizam diferentes interesses em detrimento da saúde da população. Esta é uma realidade a ser trabalhada, a partir dos eixos que fundamentam o Sistema Único de Saúde, considerando-se a Educação Permanente em Saúde importante estratégia de transformação profissional, problematizando as práticas. Neste cenário, as Residências Multiprofissionais em Saúde atuam na formação de profissionais para consolidação do SUS, com a finalidade de construção coletiva de saberes, valorização dos trabalhos em equipe e reorientação da lógica tecnoassistencial. O conceito de quadrilátero da formação para a área da saúde: ensino, gestão, atenção e controle social, surge neste contexto enquanto possibilidade de educação responsável, capaz de promover interações, mobilizações e transformações na realidade instigando o protagonismo dos atores envolvidos no universo individual, coletivo e institucional. Esta pesquisa objetivou investigar em que medida os pilares do Quadrilátero de Formação estão contemplados no Programa de Residência Multiprofissional em Saúde - Cuidados Continuados Integrados com área de concentração: Atenção à Saúde do Idoso da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e prática realizada no Hospital São Julião. MÉTODO DO ESTUDO: Trata-se de um estudo exploratório, no qual foram incluídos quatro residentes que estavam no segundo ano da Residência, fator importante para a identificação dos pilares componentes do Quadrilátero da Formação, considerando o contato mais aprofundado com o aporte teórico disponibilizado pelos projetos pedagógicos dos Programas de Residência, foco de nosso trabalho. Elaborou-se um roteiro de entrevista semi-estruturada, o qual foi submetido a um teste piloto. O objetivo foi verificar sua pertinência, adequação e compreensão das perguntas em relação ao objetivo do estudo. A análise da mesma apontou para a necessidade de melhor organizar o roteiro, bem como alertou os pesquisadores para a forma de condução da entrevista, possibilitando maior expressão de idéias por parte dos entrevistados. Os residentes foram entrevistados por uma única pesquisadora por ordem de sorteio. As entrevistas foram gravadas, mediante consentimento dos participantes, sendo posteriormente transcritas e organizadas pela pesquisadora. Foi perguntado aos participantes: como a gestão, a educação, o trabalho e o controle social se relacionam no processo de cuidado? Além disso, foi solicitado que o residente descrevesse um caso real, exemplificando como se estabeleceu a relação entre os eixos, caso ele já houvesse vivenciado essa situação. Para análise dos resultados, utilizou-se a abordagem qualitativa por meio do método de análise de conteúdo preconizado por Bardin (1977). A abordagem de análise de conteúdo teve a finalidade de explicar e sistematizar o conteúdo das mensagens, significando as mesmas a partir de sua origem com seu contexto e efeitos. Buscou-se analisar a frequência das mensagens, bem como a ausência destas, a partir do crivo da classificação. Utilizaram-se três etapas na avaliação e tratamento dos dados: 1- Pré-análise: consistiu na sistematização e organização das informações coletadas nas entrevistas estruturadas, por meio de leituras sucessivas. Foi necessário ainda identificar a relevância dos indicadores por meio da frequência com que estes apareceram no texto. A ordem a ser estabelecida ocorreu naturalmente, a partir das leituras realizadas; 2- Frequência: instância em que foi avaliada ainda a importância que cada unidade de registro representou a partir do número de aparições deste elemento na entrevista. A partir da saturação dos dados, fora realizada interrupção de captação da amostra; 3- Exploração do material: referiu-se a indicação de uma unidade de significado, permitindo a delimitação de um cenário aos entrevistados. Sendo realizada a categorização dos dados buscando sua significação, chegou-se ao momento da inferência e da interpretação, com a análise dos dados previamente tratados e categorizados. RESULTADOS: Apropriando-se do método análise do conteúdo das quatro entrevistas realizadas com Residentes Multiprofissionais, foram detectados diferentes pontos de vista acerca de cada um dos pilares do quadrilátero da formação. Foi identificada na gestão quatro grandes áreas, sendo que em primeiro momento é concebida enquanto instância normativa, detentora das decisões institucionais e operacionais, definindo fluxos, demandas individuais e coletivas. Pontua-se ainda a responsabilidade da gestão junto ao processo de cuidado do paciente e na formação do trabalhador de saúde, devendo atuar na construção de uma rede de cuidados de saúde de forma eficiente. Os profissionais que se encontram à frente dos serviços foram identificados enquanto os gestores, sendo apontada a necessidade de descentralização e compartilhamento da gestão. A formação aparece em três grandes áreas, estabelecendo-se relação significativa entre formação e prática, com a percepção de relevante possibilidade de transformação da visão conservadora das práticas de saúde, demandando a problematização dos processos de trabalho. Os entrevistados relatam necessidade de busca de evidências teóricas ao diagnóstico, tratamento e condutas e domínio técnico-científico. A falta de autonomia da equipe multiprofissional foi afirmada a partir da persistência da valorização do modelo biomédico. Nas práticas de saúde, as múltiplas demandas são uma preocupação, que resultam na insegurança da atuação do profissional residente, requerendo ampliação do conhecimento técnico. Esta insegurança é associada ainda a falta de suporte da preceptoria em algumas áreas. Falhas de comunicação entre equipe e paciente foram o grande nó crítico percebido, sendo constatada a necessidade de compartilhamento na construção do Projeto Terapêutico Singular, incentivando a autonomia do paciente na participação da construção e decisões voltadas a seu tratamento. A corresponsabilização surge enquanto resultado da atuação da Equipe, buscando a prevenção de novos agravos. A percepção da totalidade, valorizando o princípio da integralidade no atendimento fica evidente a partir da apreensão dos aspectos biopsicossocial nas práticas do cuidado elucidados pelos entrevistados, o modelo tradicional perde espaço a partir de enfoque dado a nova forma de conceber o ser humano, chamada integralidade, que passa a considerar suas relações com o meio em que vive. Outro ponto evidenciado pelos entrevistados foi a necessidade de dinâmica diferenciada entre os atores do processo de saúde-doença, de forma que estes possam de fato se organizar no protagonismo da produção de saúde contando com a atuação de Equipes Multiprofissionais e dos usuários dos serviços. O controle social, em sua função é desconhecido por parte do grupo, sendo confundido com a atuação do assistente social. Em outra afirmação é percebido enquanto instrumento de controle, condicionando o sucesso do tratamento com a adequação da família e paciente com normas institucionais e condutas terapêuticas impostas. Entretanto, também foi sugerida enquanto dimensão ampliada do tratamento em diferentes aspectos, destacando a responsabilização do usuário e trabalhadores de saúde no processo de cuidado. CONSIDERAÇÕES FINAIS: As entrevistas analisadas inferem acerca da necessidade de se estabelecer relação entre pilares que compõem o quadrilátero da formação, destacando a preocupação dos residentes para que estes sejam presentes, considerando a proposta da educação permanente e as demandas institucionais e dos usuários do serviço. Todavia, não foi percebido equilíbrio entre os componentes do quadrilátero, afirmando existência de lacunas a serem solucionadas no processo de formação de residentes, profissionais dos serviços e alunos da graduação.  

Palavras-chave


EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE; POLÍTICAS DE FORMAÇÃO EM SAÚDE; SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE,

Referências


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