Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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FREQUÊNCIA DE PROBLEMAS ÉTICOS DECORRENTES DA RELAÇÃO ENTRE OS PROFISSIONAIS DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA
Rose Manuela Marta Santos, Tatiana Almeida Couto, Adilson Ribeiro SANTOS, Nathalie Oliveira Gonçalves, Sérgio Donha Yarid

Última alteração: 2015-10-27

Resumo


INTRODUÇÃO: O Programa Saúde da Família – PSF foi reordenado como uma estratégia de reformulação e transformação do sistema de saúde da atenção primária, assim, após diversos direcionamentos em sua operacionalização, o PSF passou a ser considerado como Estratégia Saúde da Família – ESF que, define como principal ação o fortalecimento do vínculo entre profissionais e comunidade. Desta forma, as necessidades advindas da comunidade se apresentam nos problemas biopsicossociais encontradas na subjetividade e singularidade de cada usuário. Diante da complexidade do cuidado na ESF que demanda muito mais que assistência voltada para o tecnicismo, os profissionais de saúde, em seu atendimento, observam questões referentes à ética. No que tange a operacionalização dos princípios da integralidade, universalidade e equidade no Sistema Único de Saúde - SUS, um dos principais problemas demonstrados pelos profissionais é a dificuldade em lidar com a dimensão subjetiva do cuidado. Neste contexto, não é difícil encontrar problemas éticos envolvidos na produção do cuidado, especialmente os problemas encontrados entre os profissionais das equipes de Saúde da Família, que lidam com a singularidade advinda da dos usuários da comunidade adstrita. Para que a ESF consiga dar respostas às demandas sinalizadas pela comunidade, os profissionais se deparam com alguns problemas éticos, visto que há o encontro de entre profissional-usuário, cada um com suas crenças e culturas. Os profissionais lidam também com outros aspectos como, a dificuldade no acesso a exames e procedimentos de alta complexidade, a impossibilidade do trabalho em rede, o que também pode gerar conflitos e problemas éticos em sua atuação. Neste ínterim, diante das diversas questões e problemas éticos que envolvem os profissionais da ESF, este estudo tem como objetivo descrever a frequência com que ocorrem problemas éticos na relação entre os profissionais da equipe de Saúde da Família. METODOLOGIA:  Trata-se de um estudo quantitativo e exploratório. Os participantes foram 53 profissionais de nível superior (12 médicos, 26 enfermeiros e 15 cirurgiões-dentistas) que compõem as equipes de Saúde da Família de um município do sudoeste da Bahia - Brasil. Foi utilizado para a coleta de dados o Inventário de Problemas Éticos na Atenção Primária em Saúde - IPE/APS que contém 41 questões em escala likert que visam à mensuração de problemas éticos na Atenção Primária à Saúde. Os dados do IPE/APS estão divididos em 03 grupos e para este estudo foi abordado os dados do segundo grupo, que se refere às relações entre as equipes e é composto por 09 problemas éticos, onde, os profissionais assinalam a frequência com que vivenciam tal problema em sua atuação: nunca, raramente, frequentemente e sempre. Os dados foram analisados no SPSS 21.0. Foi utilizada a estatística descritiva com frequência absoluta e relativa. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética, tendo recebido parecer favorável com o nº 475.600. RESULTADOS E DISCUSSÃO:  Sobre a falta de compromisso e envolvimento da equipe na atenção à saúde, houve o predomínio da resposta nunca na maioria das questões dos cirurgiões-dentistas onze (73,3%), médicos sete (58,3%) e enfermeiros 15 (57,7%). As maiorias das respostas demonstram que pouco acontece este problema na dimensão da ESF. Na questão relacionada a não colaboração entre equipes, 6 (54,5%) dos médicos, 11 (44%) dos enfermeiros e 8 (53,3%) dos cirurgiões-dentistas demonstraram que nunca vivenciaram este problema, ou seja, mais da metade dos profissionais entrevistados 28 (58,8%) se deparam com este tipo problema ético na atuação profissional. A estratégia de alocar equipe multiprofissional na unidade de saúde requer uma relação de complementaridade, com articulação dos saberes e práticas com um ideal comum, num esforço contínuo e seguindo a ideia da integração da equipe na assistência à saúde da comunidade. Na questão relacionada à falta de respeito entre os membros da equipe, em sua maioria, os médicos 9 (75%) e os cirurgiões-dentistas 12 (80%) nunca vivenciaram. E, entre os enfermeiros, 12 (46,2%) declaram nunca ter vivenciado e 12 (46,2%) vivenciaram raramente. Na questão relacionada aos profissionais não apresentarem perfil para trabalhar na Estratégia de Saúde da Família, 5 (41,7%) dos médicos relataram que nunca vivenciaram, 4 (33,3%) vivenciam raramente e 3 (25%) vivenciam frequentemente. A maioria dos enfermeiros 14 (53,8%) e dos cirurgiões-dentistas 8 (53,3%) relataram que nunca vivenciaram tal problema. Na questão relacionada à dificuldade de cumprir, na prática, o papel e as responsabilidades de cada profissional da equipe de saúde da família. Dentre os médicos três (25,0%) nunca vivenciaram tal problema e seis (50%) vivenciaram raramente, dois (16,7%) vivenciam frequentemente e apenas um (8,3%) vivencia sempre o problema em sua atuação. Os enfermeiros 7 (30,4%) nunca vivenciaram, 9 (39,1%) vivenciam raramente e 7 (30,4%) vivenciam frequentemente. A maioria dos cirurgiões-dentistas 10 (71,4%) vivencia tal problema raramente em sua atuação. Estes dados demonstram que o profissional tem observado em seu âmbito de trabalho profissionais que não sabem ou compreendem seu papel social no âmbito da ESF, o que pode acarretar um mau direcionamento das ações de saúde para a comunidade. No que se refere aos profissionais se omitirem diante de uma prescrição inadequada ou errada, a metade dos profissionais médicos seis (50,0%), a maioria dos enfermeiros dezesseis (61,5%) e dos cirurgiões-dentistas onze (73,3%) nunca vivenciaram o problema. Na questão que se refere aos usuários que pedem a um dos membros da equipe de saúde da família que os outros membros não tenham acesso a alguma informação relacionada à sua saúde, a maioria dos médicos oito (66,7%), dos enfermeiros treze (52,0%) vivenciam este problema raramente e a maioria dos cirurgiões-dentistas oito (53,3%) nunca vivenciaram tal problema. Nota-se que os profissionais médicos e enfermeiros encontram este tipo de problema em sua vivência mais vezes que com cirurgião-dentista. Referente aos funcionários da UBS levantarem dúvidas sobre a conduta do médico da equipe da ESF, a metade dos profissionais médicos seis (50,0%) nunca vivenciaram tal problema e quatro (33,3%) vivenciam raramente. A maioria dos enfermeiros onze (44,0%) vivencia o problema raramente e nove (36,0%) nunca vivenciaram e a maioria dos cirurgiões-dentistas oito (57,1%) afirmou nunca ter vivenciado este problema em sua atuação. Com relação aos usuários pedirem a um dos membros da equipe de saúde da família que os outros membros não tenham acesso a alguma informação relacionada à sua saúde, mesmo em situação em que seja necessária a participação da família no cuidado, dentre os médicos cinco (41,7%) nunca vivenciaram tal problema e cinco (41,7%) vivenciam raramente. Os enfermeiros doze (46,2%) nunca vivenciaram e onze (42,3%) vivenciam raramente. E, a maioria dos cirurgiões-dentistas nove (60,0%) nunca vivenciou este problema. Sabe-se que a confidencialidade na atenção à saúde é um direito de todo usuário, está descrito na Carta dos Usuários do SUS. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Percebe-se que a resposta nunca teve maior prevalência, o que demonstra que os problemas éticos em relação à prática da equipe na Estratégia Saúde da Família não estão ocorrendo pouco, o que se torna algo positivo. Em contrapartida, a minoria dos profissionais respondeu que vivencia o problema ético raramente e frequentemente, o que denota que ainda assim os problemas éticos acontecem no âmbito do processo de trabalho da equipe Saúde da Família e precisam ser observados para que não atrapalhe a atenção à saúde dispensada aos usuários. 

Palavras-chave


Bioética; Ética; Atenção primária à saúde; Saúde da Família.

Referências


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