Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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RELATO DE EXPERIÊNCIA DO PROJETO VER-SUS LITORAL PIAUIENSE: AS LUTAS SOCIAIS EM MOVIMENTO PELA GARANTIA DO DIREITO A SAÚDE
Antonio Ciro Neves do Nascimento, Vilkiane Natercia Malherme Barbosa, Gleyde Raiane de Araujo3, Sabrina Kely Magalhães de Araújo, Larisse de Sousa Silva, Raksandra Mendes dos Santos, Renata Viviane Malherme Barbosa, Bianca Waylla Ribeiro Dionísio

Última alteração: 2015-10-27

Resumo


O presente trabalho visa apresentar a experiência do projeto Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde (VER-SUS) Litoral Piauiense 2015, ocorrida a partir de um processo de cooperação técnica e científica entre acadêmicos e docentes que constituem o Coletivo Parnaíba. As vivencias do projeto VER -SUS Litoral Piauiense aconteceu nos municípios de Cajueiro da Praia/PI, Ilha Grande do Piauí/PI, Luís Correia/PI e Parnaíba/PI. Tendo a participação e apoio de atores sociais e comunitários que foram de grande importância para esta vivência. Vindo de encontro com as necessidades sociais e com a participação popular como importante fator para a transformação social do Sistema Único de Saúde e das realidades sociais. Teve como objetivo perceber as práticas pedagógicas e as lutas sociais do campo e da saúde na construção da hegemonia de um projeto de sociedade. Provocando reflexões dos acadêmicos acerca do seu papel enquanto agente transformador da realidade e contribuir para a construção da consciência acerca da saúde como direito social. A metodologia utilizada foi a observação – participante e a produção de diários de campo, individuais em grupo (constituídos por seis estudantes de áreas diversificadas da saúde), provocando a reflexão e (re) construção de paradigmas, olhares e a troca de conhecimentos e saberes. A fim de compreender alguns aspectos que viabilizassem conhecer a vivência de movimentos sociais e sua intrínseca ligação com a luta por direitos, especialmente o direito a saúde, foram realizadas visitas in lócus nos seguintes movimentos sociais: o Assentamento Cajueiro do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra, Colônia dos Pescadores Z-38, Associação de Marisqueiras e filetadeiras de Luís Correia, Associação das Rendeiras da Ilha Grande do Piauí, Colônia dos Pescadores da Ilha Grande do Piauí. Durante estas visitas utilizou-se da observação - participante, pressupondo que há implicação do investigador a partir do momento em que é inserido em contextos sociais. Ainda ocorreram, rodas de afetos com representantes das minorias, como representantes de movimentos Lésbicas, Gays, Travestis e Transexuais – LGBT´S da cidade de Parnaíba, sendo estes o Grupo Guará e o Grupo Boneca de Pano. Estes encontros com os movimentos sociais colaboraram para a construção de um olhar ampliado para as realidades sociais e para as concepções de saúde envolvidas para com estas populações historicamente desfavorecidas, dando lugar a voz destas, para que sejam consideradas no fazer saúde, através de seus modos e significações de vida. Oportunizando aos estudantes redirecionamento da ótica profissional para os campos de sentidos e significados atrelados a vida de tais sujeitos sociais, sendo importante para que haja a construção de saúde da práxis para os futuros profissionais da saúde. Foram despertadas afetações, discussões e reflexões no encontro do universo dos movimentos sociais e da experiência dos atores sociais e comunitários a cerca das realidades vividas por estes, das implicações nas práticas e concepções de saúde que são atravessadas pelas condições de vida destes. Cabe ressaltar algumas peculiaridades de cada movimento, sendo assim, iniciando pelo Assentamento Cajueiro, comunidade do Movimento dos Trabalhadores Sem- Terra, este fica localizado na cidade de Parnaíba. A comunidade vive em estrema vulnerabilidade social, sendo excluída das políticas públicas com pouquíssimas condições de sobrevivência. A líder comunitária nos apresentou a história de luta e resistência da comunidade, os desafios e as potencialidades do território. Fomos apresentados ao projeto de extensão e pesquisa Cirandas (UFPI) e ocorreram diálogos e reflexões com os participantes do projeto VER-SUS. O projeto atua junto à comunidade Cajueiro (re) inventando as práticas de saúde comunitárias, através da junção da sabedoria popular com o saber dito científico, oferecendo à comunidade a possibilidade da promoção em saúde, numa perspectiva educação popular em saúde. Também fomos apresentados a uma senhora da comunidade que desenvolve práticas integrativas de saúde, através das ervas medicinais e também de rezas. Ela nos contou sua história de luta e resistência e reiterou a importância da Universidade e de profissionais de saúde atuarem no território. Sendo assim, para os estudantes esta vivência foi importante, pois nos coloca diante ao papel social da Universidade, dos trabalhadores de saúde para as realidades sociais, assim como compreender que há outras produções de saúde que foge as práticas hegemônicas postas e como no fazer saúde de cada profissional, essas práticas podem ser integradas e potencializadas na construção do Sistema Único de Saúde. Visitamos também os povos que denominamos de “povos do mar”, onde foi possível o encontro com colônias de pescadores e associações de marisqueiras e rendeiras. Aproximando-se da realidade dos movimentos locais conhecemos atores e processos que passaram a inspirar as nossas praticas, visto que estes enfrentam muitos desafios nos seus trabalhos cotidianos para manter viva a essência do movimento. A luta pelos direitos e reconhecimentos confronta-se com a escassez de recursos e consequente diminuição da implicação social nas práticas econômicas e culturais na comunidade. Mediante as dificuldades enfrentadas percebeu-se que esses movimentos são vistos por alguns como fonte de renda e não como uma riqueza cultural. Um aspecto importante a ser ressaltada na visita a Associação de Marisqueiras e filetadeiras de Luís Correia, formado exclusivamente por mulheres, que realizam o trabalho braçal e administrativo para manter a associação. É a questão de gênero, uma vez que estas mulheres enfrentaram resistência na fundação da associação pelos demais pescadores que acreditam “que essa não é uma atividade para mulheres”. Questão essa que incomodou bastante as destemidas marisqueiras, mas que não chegou a desmotivá-las, ao contrário, as encorajou nesse processo de luta. Por fim, tal experiência oportunizada pelo projeto, promoveu reflexões para repensar nossas práticas cotidianas enquanto profissionais de saúde e também enquanto cidadãos implicados com as realidades sociais. Considerando o sujeito e a importância do entendimento dos diversos atravessamentos do processo saúde. Levando-nos a problematizar a importância da relação econômica, cultural, sexual e social para as práticas em saúde.

Palavras-chave


Projeto VER-SUS; Educação Permanente em Saúde; Movimentos Sociais; Direito à saúde.