Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida
Suplemento Revista Saúde em Redes ISSN 2446-4813 v.2 n.1, Suplemento, 2016
Estudo das Reações Adversas do Trastuzumabe
CLARISSA LOBO PORTUGAL DA CUNHA, MARIA ANGELA RIBEIRO, SIMONE ARAÚJO MEDINA
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
APRESENTAÇÃO: O câncer de mama é a neoplasia mais incidente e a principal causa de morte por câncer em mulheres na população mundial e no Brasil. A maior compreensão das bases moleculares do câncer, aliada aos avanços no campo da genética favoreceu o desenvolvimento de novas e efetivas terapias, que atuam em sítios específicos, nas células acometidas pela doença, se tratam das chamadas terapias-alvo. O trastuzumabe foi o primeiro medicamento desta classe de drogas a ter benefícios comprovados inicialmente para o tratamento do câncer de mama metastático e atualmente também no estágio inicial. O trastuzumabe foi incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS) em 2012. Frequentemente o trastuzumabe é utilizado combinado com outros agentes citotóxicos no tratamento do câncer de mama. Com o objetivo de se obter a cura as pacientes são submetidas a tratamentos agressivos, com múltiplas drogas, que estão associados a reações adversas. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), reação adversa a medicamentos (RAM) é qualquer resposta prejudicial e não intencional que ocorre no homem decorrente do uso de algum medicamento em sua dose usual. A ocorrência de reações adversas durante o tratamento podem contribuir para hospitalizações, aumento do tempo de permanência hospitalar e até mesmo óbitos, aumentando, portanto, os custos da atenção à saúde. As RAM podem ser classificadas como Tipo A ou Tipo B. As reações do tipo A estão relacionadas com a ação farmacológica do medicamento, são comuns, geralmente dose-dependente e bastante previsíveis. As reações do tipo B são produzidas por processos idiossincráticos, independentes da farmacologia da droga. São raras, não relacionadas com a dose e não são previsíveis. Estas costumam ser observadas somente após a fase de comercialização do medicamento e, ao contrário das reações do tipo A, apresentam baixa incidência e morbidade, porém a letalidade pode ser alta. As reações adversas estão contempladas na classificação de Problemas Relacionados ao Uso de Medicamentos (PRM) quanto à segurança ao medicamento. Um PRM existe quando um paciente desenvolve ou é provável que desenvolva um sintoma ou doença que pode estar relacionado com a terapia medicamentosa. Para identificar, prevenir ou resolver PRM foi utilizado o raciocínio clínico “Pharmacotherapy workup” (PW), processo sistemático de tomada de decisão racional relacionado à farmacoterapia. Este processo permite ao profissional fazer uma avaliação das necessidades dos pacientes relacionadas ao medicamento de forma abrangente e se todos os medicamentos foram devidamente indicados, se estão sendo efetivos e seguros e se o paciente está disposto e é capaz de utilizá-los como recomendado. Quanto mais complexa a terapia medicamentosa, maior é o risco de o paciente experimentar PRM, dentre eles as reações adversas. Considerando a recente incorporação do trastuzumabe ao rol de medicamentos fornecidos pelo SUS e a ampliação de seu uso na prática clínica (visto que é um medicamento de alto custo que estava limitado a uma pequena parcela da população antes da disponibilização no SUS), este estudo teve como objetivos descrever as RAM do trastuzumabe assim como de comorbidades associadas, identificadas a partir da classificação de PRM em usuárias do hospital dia de um hospital universitário do interior de Minas Gerais; classificá-las como RAM tipo A ou B e comparar as mesmas com o perfil de segurança do medicamento já descrito na literatura. DESENVOLVIMENTO: Foram entrevistadas 22 mulheres em tratamento do câncer de mama HER2+ de uma população com 904 pacientes em tratamento do câncer de mama com tratuzumabe, no período de março a dezembro de 2014. Os dados foram obtidos no período de março a dezembro de 2014, em dois encontros. No primeiro encontro, foi aplicado um instrumento utilizado para a coleta de dados contendo dados sócio-demográficos, história clínica e farmacoterapêutica atual. Estas informações permitiram a identificação e classificação de PRM. Entre os PRM identificados, nosso estudo debruçou sobre os PRM de segurança; reações adversas relacionadas ao trastuzumabe e aos fármacos utilizados em comorbidades. No segundo encontro do estudo, 21 dias após o primeiro, foi aplicado um plano de cuidado. Esta é uma etapa do processo de tomada de decisão em que o profissional estabelece um pacto com o paciente e assume responsabilidades mútuas pelas necessidades farmacoterapêuticas. Em conjunto estabelecem a melhor forma de controlar e/ou resolver os PRM identificados e garantir que os objetivos terapêuticos para cada problema de saúde do paciente sejam alcançados. A adaptação do segundo encontro corresponde aos princípios de responsabilização com o paciente preconizados pela Atenção Farmacêutica. Considerando um estudo de corte transversal, haja vista que um encontro a mais não proporciona resolutividade no processo de cuidado do paciente, todas as pacientes foram encaminhadas ao serviço de Gerenciamento da Terapia Medicamentosa (GTM) do hospital. Para avaliar a causalidade das RAM, foi aplicado o algoritmo de Naranjo. O estudo foi aprovado em comitê de ética (CAAE sob nº 538.991). RESULTADOS: A idade média das pacientes foi de 54,1 ± 8,7 anos. Cada participante tinha em média 3,87 ± 1,55 comorbidades de um total de 58. Foram identificados 41 PRM, uma média de 2,73 ± 1,53 PRM por paciente. O PRM5 está relacionado à reação adversa à medicamentos (RAM) e foi o mais prevalente com 51% do total de PRM. Em seguida, com 19,5% o PRM2 (relacionado à necessidade de farmacoterapia adicional); 15% de PRM7 (relacionado à não adesão ao tratamento) e 70% do total de PRM5 foram relacionados ao trastuzumabe. Ao confrontar as reações adversas relatadas pelas participantes do estudo em relação ao trastuzumabe com as reações adversas descritas nos compêndios oficiais, foram encontradas seis reações adversas ainda não descritas (cãibras, irritabilidade, dispaurenia, déficit de memória, aumento de apetite e xerostomia). De acordo com o algoritmo de Naranjo, todas foram classificadas como possível, exceto xerostomia, classificada como duvidosa. As reações adversas do trastuzumabe mais frequentes neste estudo foram astenia (12,90%), seguido por dormência em mãos e pés, sonolência, dispneia, dor óssea e arritmia (5,38%), náuseas e reações cutâneas (4,30%). As reações adversas mais frequentes (49,46%) foram de causalidade “possível” de acordo com o Algoritmo de Naranjo. Considerando o total de reações adversas a medicamentos (RAM) causadas pelo trastuzumabe, 92% foram classificadas como Tipo A e 8% como Tipo B. Em relação aos medicamentos para comorbidades e/ou hormonioterapia foram computados 79% e 21%, respectivamente. Estas reações foram classificadas como reações do Tipo A e, apesar da bula do fabricante apresentar um número maior de reações pós-comercialização, algumas reações encontradas no presente estudo não foram descritas até o momento e poderão complementar as bases de dados de Farmacovigilância do país. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Este estudo demonstrou que a identificação e classificação de RAM durante o cuidado clínico farmacêutico é eficiente. Para os medicamentos recém-comercializados, é uma tarefa imprescindível. Na pós-comercialização o medicamento passa a ser utilizado na população em geral seja aprovado pelo órgão sanitário responsável, seja como off-label. Está incluído na necessidade social investigar reação adversa, através de um serviço clínico farmacêutico, centrado no paciente por meio do serviço de Gerenciamento Terapia Medicamentosa (GTM). O GTM está pautado na filosofia da Atenção Farmacêutica e visa auxiliar pessoas que utilizam medicamentos a atingir os objetivos de seus tratamentos, identificando, resolvendo e prevenindo problemas relacionados à indicação, efetividade, segurança e adesão à farmacoterapia. É exatamente nesse processo que é possível a identificação das reações adversas e, sem dúvida à notificação aos órgãos responsáveis por catalogar os dados de uma Farmacovigilância eficiente e resolutiva.
Palavras-chave
Câncer de Mama; Problemas Relacionados ao Uso de Medicamentos; Trastuzumabe;Reações Adversas
Referências
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