Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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O ensino e a sistematização da assistência de enfermagem: revisão integrativa da literatura
Débora Sakamoto Silva, Juliana do Nascimento Serra, Maria Auxiliadora de Souza Gerk, Cristina Brandt Nunes

Última alteração: 2015-10-27

Resumo


APRESENTAÇÃO: A evolução tecnológica encontra-se cada vez maior e mais veloz e as instituições de saúde visam à maximização de recursos, diminuição de custos e melhoria da qualidade do cuidado prestado. A enfermagem está envolvida nessas transformações, sendo constantemente convocada a responder os recentes desafios, desenvolvendo sua equipe e fundamentando e aperfeiçoando suas atividades, o que torna imprescindível a sistematização da assistência de enfermagem (SAE). A SAE trata de uma metodologia científica que visa o emprego de um roteiro sistematizado que orienta o pensamento, possibilitando a investigação da realidade, auxiliando o enfermeiro na sua tomada de decisão e permitindo a atuação sobre essas decisões, bem como a comunicação dos seus resultados. É considerada como organizadora do trabalho profissional, no que diz respeito ao método, pessoal e instrumentos. Tornando possível a operacionalização do processo de enfermagem (PE), cujo modelo mais conhecido e seguido no Brasil é o de Wanda de Aguiar Horta, de 1979, que possui os seguintes passos: histórico de enfermagem, diagnóstico de enfermagem, plano assistencial, prescrição de enfermagem, evolução de enfermagem e prognóstico de enfermagem. Considerado como instrumento científico norteador da prática assistencial, o PE leva à cientificação profissional almejada pelos enfermeiros, contudo ainda existem dificuldades na sua aplicação prática. Dessa forma, cabe às instituições de ensino o fomento e operacionalização de uma grande discussão a respeito do mesmo, fornecendo a estes profissionais o embasamento necessário. Considerando o exposto, este estudo teve como objetivo caracterizar a produção científica a respeito do ensino da sistematização da assistência de enfermagem. METODOLOGIA: Trata-se de revisão integrativa da literatura realizada entre março a junho de 2014. Foram rastreados artigos sobre o ensino da SAE, indexados nas bases de dados LILACS, MEDLINE e BDENF constantes no site da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e os descritores utilizados foram: “processos de enfermagem”, “ensino”, “educação em enfermagem” e “enfermagem”. Os critérios de inclusão foram: artigos publicados no período de 2009 a 2014, em português e inglês, encontrados na íntegra de forma gratuita em meio on-line e que retrataram a temática proposta e foram excluídos aqueles que não atenderam aos critérios anteriores e/ou que estivessem repetidos. Após a seleção, os estudos foram analisados e registrados em formulário específico para este fim, o qual orientou a coleta dos dados. A análise do nível de evidência foi realizada classificando os estudos em sete níveis. Nível 1: revisão sistemática ou metanálise de ensaios clínicos randomizados bem delineados; Nível 2: ensaio clínico randomizado controlado bem delineado; Nível 3: ensaio clínico bem delineado sem randomização; Nível 4: estudo de coorte e de caso-controle bem delineados; Nível 5: revisão sistemática de estudos descritivos e qualitativos; Nível 6: estudo descritivo ou qualitativo e Nível 7: opinião de autoridades e/ou relatórios de especialistas. RESULTADOS: Foram identificados 341 estudos, sendo 281 indexados na base de dados MEDLINE, 36 na BDENF e 24 na LILACS. Após análise foi obtida uma amostra final de 10 estudos, sendo 5 indexados na base de dados LILACS, 3 na base BDENF e 2 na MEDLINE. Em relação ao ano de publicação, verificou-se predomínio de estudos em 2011 com quatro (40%) estudos, seguido por 2009 com três (30%) estudos. Foi demonstrada maior ocorrência de publicação na Revista Brasileira de Enfermagem com três (30%) estudos, seguida da Online Brazilian Journal of Nurse com dois (20%) estudos. Quanto ao delineamento metodológico três (30%) estudos são de revisão de literatura e um (10%) trata-se de relato de experiência, portanto não apresentam nível de evidência e os seis (60%) estudos restantes são qualitativos, classificados como nível seis de evidência. A respeito do país de origem, houve predomínio do Brasil, o qual foi responsável por oito (80%) estudos; os dois (20%) estudos restantes foram originados dos Estados Unidos e publicados em inglês. Posteriormente à análise, as informações obtidas foram agrupadas na categoria denominada ensino e nas subcategorias denominadas raciocínio clínico, pensamento crítico, teorias de enfermagem e sistematização da assistência de enfermagem/processo de enfermagem, de acordo com suas características, podendo cada artigo ser enquadrado em uma ou mais subcategorias. Na subcategoria Raciocínio Clínico identificou-se dois estudos, os quais evidenciaram a indissociabilidade entre raciocínio clínico e sistematização da assistência de enfermagem, uma vez que os acadêmicos e profissionais percebem o mesmo como meio condutor do diagnóstico de enfermagem, favorecendo a implementação do cuidado. Essa relação íntima é permeada por desafios, pois demanda maior capacidade de pensamento crítico, bem como maior motivação e comprometimento. Sendo assim, o raciocínio clínico deve ser estimulado a partir das instituições de ensino, pautado em estratégias que fomentem o uso de habilidades cognitivas, pensamento crítico e lógico e incorporação da prática. A subcategoria Pensamento Crítico revelou quatro estudos, os quais convergem no fato de que o este tipo de pensamento é uma habilidade essencial para os enfermeiros. Para a prática de uma assistência sistematizada e de qualidade é necessário que o profissional esteja alerta todo o tempo, refletindo e analisando a situação. O pensamento crítico deve estar presente diariamente, auxiliando estes profissionais a serem hábeis, competentes e proporcionarem uma assistência de enfermagem resolutiva. Mudanças nos serviços de saúde são um dos objetivos visados com a utilização desta ferramenta, contudo é observada uma desvalorização da mesma, possivelmente iniciada ainda no processo de formação deste profissional. É necessário, portanto, a adoção de estratégias durante o ensino, com vistas à incorporação do pensamento crítico ao PE. Na subcategoria Teorias de Enfermagem foi encontrado apenas 1 estudo, o qual tratou do referencial teórico de Wanda de Aguiar Horta, que se embasa principalmente na Teoria das Necessidades Humanas Básicas. Conforme o estudo, para a implantação do PE é imprescindível a adoção de um referencial teórico-filosófico, o qual é representado por uma teoria de enfermagem. A Teoria das Necessidades Humanas Básicas foca na condução do ser humano ao estado de equilíbrio, atendendo suas necessidades humanas básicas. A adoção deste referencial durante as práticas dos alunos contribui para que estes possuam uma visão do paciente em sua totalidade, conduzindo à aproximação entre teoria e prática e facilitando o processo de humanização do cuidado. Assim, evidencia-se a importância do uso deste método durante o ensino, buscando uma prática pautada na ciência, ultrapassando aspectos técnicos e mecanicistas. A última subcategoria Sistematização da Assistência de Enfermagem, e, Processo de Enfermagem foi apresentado em cinco estudos, evidenciando a essência desta revisão. Com o passar dos anos e de inúmeras tentativas em ordenar o trabalho de enfermagem e desenvolver um conhecimento específico para a mesma, o PE foi apresentando como instrumento para a SAE. Porém, o ensino da mesma ainda encontra-se em descompasso com o real esperado para o futuro enfermeiro, devido frequente desarticulação entre as bases teóricas com o mundo da prática, onde o cenário ideal seria a construção de habilidades respaldadas pelo conhecimento construído e pela formação de atitudes respondendo as demandas complexas de cuidado. Assim salienta-se que para que esse descompasso entre no eixo ideal serão necessárias mudanças e investimentos e até mesmo revoluções ideológicas e normativas. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Diante do exposto, é preciso incentivar o ensino da SAE através de metodologias que favoreçam a articulação entre a teoria e a prática, com enfoque no desenvolvimento de habilidades como o raciocínio clínico e pensamento crítico. Neste contexto, evidencia-se a necessidade de maiores estudos sobre o assunto, enfatizando metodologias com aplicabilidade prática e de resultados efetivos.

Palavras-chave


processos de enfermagem; ensino; educação em enfermagem.

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