Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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O humanismo no curso de medicina: construção de uma práxis pedagógica
Lí­gia Marques Vilas Bôas, Marta Silva Menezes

Última alteração: 2015-10-27

Resumo


A concepção científica centrada no modelo tecnicista que embasa a formação médica tem sido questionada como uma limitação para a inclusão das práticas humanísticas nos cursos de medicina. No Brasil, o surgimento de novos paradigmas no campo da educação médica ganha força a partir das orientações para a mudança curricular publicadas nas DCNs, em 2001, e de sua reedição em 2014. Esses documentos orientam a realização de uma educação médica humanista, crítica, reflexiva e integrada ao SUS, que deve extrapolar a visão técnico-científica centrada na abordagem puramente biomédica. Este trabalho traz um recorte da dissertação de mestrado intitulada: Expressões do Humanismo no Currículo de Medicina da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, apresentando um dos seus objetivos, que consiste em analisar a percepção do docente sobre a formação humanística proposta no currículo do curso de medicina. Trata-se de um estudo exploratório e descritivo de abordagem qualitativa, desenvolvido com 28 docentes, que atuam do primeiro ao sexto ano do curso. Nesse trabalho será apresentada a análise dos dados obtidos a partir das respostas a duas questões dissertativas de um questionário, nas quais os docentes realizaram comentários sobre a abordagem humanista no curso de medicina e sugeriram estratégias para o desenvolvimento de habilidades humanísticas no curso. A análise de conteúdo temática dos depoimentos gerou três categorias:  como o humanismo é (des) envolvido no curso de medicina; como o tema pode ser (des) envolvido no curso de medicina; limitações para o (des) envolvimento da proposta humanista no curso de medicina. Os depoimentos revelaram consenso sobre a importância da abordagem do tema no currículo, embora tenham demonstrado distintas compreensões conceituais e práticas. Alguns apontam para a crença no caráter intuitivo da educação humanística, como se esta não demandasse uma sustentação teórica; há, também, a ideia de que a formação humanística seja uma atribuição das ciências humanas ou de componentes curriculares específicos, a exemplo de Saúde Coletiva.  A inclusão sistematizada do tema na estrutura curricular do curso de forma interdisciplinar e transversal, a adoção de metodologias ativas como elemento facilitador, a realização de pesquisas nesse campo, além da formação humanística foram indicados como caminhos para o (des) envolvimento do humanismo no curso. A crença na dificuldade de associar os aspectos subjetivos à prática médica e a ideia de que a humanização e a educação “vêm de berço” e que, na academia, podem ser apenas melhoradas revelaram-se como elemento limitador para o (des) envolvimento do humanismo no curso de medicina. As diferentes visões acerca do desenvolvimento do humanismo no currículo de medicina evidenciam-se como necessidade de promoção de debate e produção de conhecimento coletivo acerca do tema. A construção de uma práxis pedagógica baseia-se no pressuposto de que não há mudança curricular sem o processo de ação-reflexão-ação docente. Assim, a construção de uma práxis deve ser entendida como um conjunto de ações intencionalmente articuladas, com base conceitual, capaz de produzir transformações físicas, subjetivas e sociopolíticas, que extrapolam o campo de conhecimento das ciências biológicas.      

Palavras-chave


Currículo. Educação Médica. Humanismo

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