Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Vivência Integrada na Comunidade: O aprendizado em serviço na Escola Multicampi de Ciências Médicas do Rio Grande do Norte
Lucas Pereira Melo, Tiago Rocha Pinto, Ana Luiza Oliveira Oliveira, George Dantas Azevedo

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


APRESENTAÇÃO: Trata-se de um relato de experiência sobre o processo de implantação e execução de um inovador módulo teórico-prático desenvolvido dentro da estrutura curricular do curso de graduação em medicina da Escola de Ciências Médicas do Rio Grande do Norte (EMCM/UFRN) na cidade de Caicó, Rio Grande do Norte (RN). O módulo “Vivência Integrada na Comunidade” (VIC) é parte integrante e obrigatória na grade curricular dos 40 alunos ingressantes no curso a cada ano. Desenvolvido do 2º ao 8º semestre do curso, sendo dividido em sete blocos mensais de 120 horas de imersão nos cenários da Atenção Básica à Saúde de oito municípios da região do Seridó potiguar e paraibano. Os blocos que antecedem o período do internato, iniciado no 9º semestre do curso, obedecem a uma organização sequencial com diferentes objetivos e em grau crescente de complexidade. Sua organização requer também a articulação prévia junto a gestores municipais e trabalhadores da saúde, pautada por negociações e pactuações que envolvem diversos atores e instâncias.  Operacionalizado dentro da área da Saúde Coletiva, a integração ensino-serviços e comunidade demanda a organização de docentes e apoiadores da área em espaços de reunião e supervisão de campo, assim como na oferta de disciplinas teóricas e laboratórios de habilidades exigidas durante o período de experiência. DESCRIÇÃO DO TRABALHO: A escolha dos municípios sede das atividades obedeceu a lógica multicampi do próprio curso, além de respeitar os municípios de origem da maioria dos alunos e onde residem seus familiares. Assim, 40 unidades básicas de saúde dos municípios de Caicó, Currais Novos, Santa Cruz e São João do Sabugi e Ipueira no RN e Patos, Pombal e Sousa na Paraíba passaram a receber 40 alunos do curso de medicina em vivências mensais nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). A partir dos acordos firmados, cada aluno passa a experenciar a rotina de atendimentos de uma UBS e de tudo aquilo que permeia o processo de trabalho, como: o trabalho em equipe, a integração com o território e com os outros níveis de atenção, a requisição de exames e encaminhamentos, a participação de ações cotidianas e campanhas de saúde, entre outras. A cada bloco diferentes objetivos e propostas são traçados, configurando uma estratégia de aprendizado em serviço que se coaduna aos preceitos orientadores de uma formação profissional atrelada as características e particularidades do SUS. Além de acompanhar o cotidiano assistencial em serviço, os alunos recebem a supervisão semanal de um docente da EMCM, além do trabalho de preceptoria realizado pelo médico e demais profissionais das equipes de saúde. As supervisões são agendadas conforme as singularidades de cada UBS e disponibilidade de deslocamento do docente durante a semana. Às sextas-feiras, os alunos retornam à EMCM para participarem dos momentos teóricos que compõem o módulo, assim como em outras atividades e ações que se mostrem necessárias. Resultados: Pode-se afirmar que desde o início dos trabalhos a EMCM já conseguiu fomentar inúmeras ações nos cenários da AB destes diferentes municípios. Entre estas, ressalta-se sua missão de potencializar a formação e fixação de profissionais médicos na região do semiárido nordestino além de qualificar as práticas profissionais e o cuidado em saúde ofertado à população. Os instrumentos de avaliação e rodas de conversa revelaram que a experiência foi em sua grande parte positiva, contribuindo de modo significativo para consolidar conhecimentos teóricos obtidos no estudo individual e espaços de discussão coletiva em sala de aula, bem como uma oportunidade única de aprendizado na concretude do SUS com todas as suas potencialidades e fragilidades. Apesar disso, os (as) alunos (as) também manifestaram sentimentos de descontentamento frente a percalços e problemáticas que se apresentaram no caminho, como: a precariedade das instalações das UBS, a falta de insumos e medicamentos, a dificuldades de diálogo e interação com o preceptor médico, a não participação em grupos, atividades de educação em saúde e ausência de matriciamento e equipamentos sociais que qualifiquem a assistência, ociosidade no período de vivência, entre outras. As ponderações entre o que é positivo e negativo na experiência trazida pelos estudantes é estimulada pela figura dos coordenadores e docentes do curso que julgam fulcral a manutenção de canais abertos de comunicação e espaços periódicos de interlocução, qualificando assim o acompanhamento, avaliação e reformulação das atividades de modo constante e processual. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Neste momento, encontros docentes periódicos estão sendo realizados para dar início ao terceiro bloco do VIC, o que demanda, mais uma vez, novas rodadas de negociação e pactuação com os todos os envolvidos. Entre os trâmites, burocracias e ações que são requeridas na organização das atividades, estão a criação de convênios entre a EMCM e Secretarias Municipais de Saúde, além da realização de oficinas voltadas aos preceptores e gestores da Atenção Básica que abordam entre outras questões a importância dos momentos de supervisão, discussão de casos e outros mecanismos e aportes que dão sustentação ao papel formador do SUS. Seja no discurso dos alunos como dos próprios trabalhadores da rede de saúde das diferentes localidades, pudemos constatar o reconhecimento pela oportunidade de vivenciar de modo intenso a concretude do SUS em tudo aquilo que compreende suas fortalezas e fragilidades, bem como o estreitamento de relações com a EMCM e das possibilidades de construção de novas parcerias, a exemplo dos projetos de Mestrado Profissional e Residência Multiprofissional em Atenção Básica, já submetidos e em fase de análise, ambos com previsão para o início de 2016. Do mesmo modo, é notório que ainda restam inúmeros obstáculos e entraves a serem superados, principalmente em uma proposta permeada por múltiplas instâncias, atores e serviços. Além disso, a legitimidade e o sucesso das ações dependem da negociação de interesses distintos e de necessidades que não são homogêneas, mas que, ao mesmo tempo, conferem a caracterização de um novo curso de graduação em medicina que já nasce com uma proposta pedagógica diferenciada e concatenada as idiossincrasias da realidade brasileira. Assim, temos convicção de que estamos traçando uma história comprometida com um modelo de formação atenta e compromissada com a população, mas que também é forjada na concepção de um aluno que tenha capacidade crítico-reflexiva para pensar e atuar imbuído de autonomia e responsabilidade social.

Palavras-chave


educação Médica; Integração Ensino-Serviços e Comunidade; Atenção Básica à Saúde