Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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EDUCAÇÃO EM SAÚDE: RELATO DE UMA INTERVENÇÃO REALIZADA POR PETIANOS EM UMA ALDEIA INDÍGENA
GESSIANI FATIMA LARENTES, VIVIAN BREGLIA ROSA VIEIRA, VANESSA DA SILVA CORRALO, RENATA DE MACEDO, DIANA ZEM, ELOISE BERLANDA, ALISSON MONTEIRO, TÂNIA MARA LARA PADILHA

Última alteração: 2015-10-29

Resumo


INTRODUÇÃO: A Universidade Comunitária da Região de Chapecó juntamente com a Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina e a Secretaria da Saúde de Chapecó, em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos da saúde, tem promovido processos de reorientação da formação profissional, de acordo com dispositivos dos Ministérios da Saúde e da Educação. Em 2013 foi aprovado, neste contexto, o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde): Redes de Atenção à Saúde da População Indígena. Tal aprovação corrobora o compromisso da instituição de ensino e do serviço público em promover mudanças na formação e nos processos de educação em saúde, com foco na realidade e ênfase nas diretrizes e princípios do Sistema Único de Saúde. O PET-Saúde propõe o envolvimento de grupos tutoriais de estudantes, docentes e trabalhadores da saúde, organizados a partir do princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. No PET-Redes de Atenção à Saúde da População Indígena estão envolvidos professores e estudantes de dez cursos da Unochapecó, profissionais e gestores da secretaria de saúde do município de Chapecó, além de profissionais vinculados ao Pólo Base da Secretaria de Saúde Indígena. Cabe ressaltar que os cursos envolvidos no processo de reorientação da formação profissional em saúde são: Ciências Biológicas, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Medicina, Nutrição, Odontologia, Psicologia e Serviço Social. Com base na compreensão de que o processo de ensino-aprendizagem se dá de forma participativa e considerando que o PET-Saúde busca qualificar ações voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde dos indivíduos envolvidos, foi realizado uma ação de educação em saúde com mulheres de uma aldeia indígena como parte das ações do Outubro Rosa 2014. Objetivou-se esclarecer dúvidas frequentes com relação à saúde da mulher, além de qualificar a formação de estudantes. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS: A proposta da atividade de educação em saúde se deu a partir de um encontro tutorial do PET. Foi solicitado ao grupo de estudantes e preceptores o planejamento de uma intervenção, que ocorresse em meio às ações do Outubro Rosa, em outubro de 2014. O grupo responsável pela atividade em uma das aldeias indígenas era composto por estudantes de psicologia, enfermagem, odontologia, nutrição e farmácia, além da preceptora e enfermeira da aldeia e de uma professora tutora do PET Redes de Atenção à Saúde da População Indígena. Após diversos encontros de planejamento, definiu-se que o método utilizado seria a dinâmica da dança circular, acompanhada de pausas para debater aspectos da saúde da mulher. O local escolhido para realização da atividade foi uma área verde, situada em frente à unidade de saúde da aldeia. A coordenação da dança e dos conteúdos ficou sob responsabilidade dos acadêmicos. Cada estudante ficou responsável por promover o debate a partir de uma informação relacionada com a sua área de qualificação profissional e que tivesse vínculo com problemas da comunidade previamente conhecidos. Todos se comprometeram a aprofundar os estudos sobre todos os assuntos, para auxiliar na condução da atividade. Os temas abordados foram: vacinação, uso de contraceptivo oral, saúde mental/depressão, higiene bucal e autoexame das mamas. Ao final da ação foram avaliados os resultados obtidos. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Participaram da ação cerca de 50 mulheres, além da equipe de saúde da unidade de saúde da comunidade. Como primeira estratégia, de acolhimento, foi realizada uma dança circular com passos e ritmo calmos. Alguns estudantes formaram um círculo, inicialmente com os agentes indígenas de saúde (AIS), e outros se dispersaram no local e incentivaram as mulheres a se aproximarem da roda. No início algumas se sentiram envergonhadas, porém com o passar do tempo acabaram se integrando ao grupo. A metodologia da dança circular foi escolhida pelo grupo, pois esse tipo de dança acolhe e honra diferentes povos e tradições. Durante a roda compartilham-se gestos e significados de culturas diversas, não é necessário ter conhecimentos nem habilidades específicas sobre dança, basta o desejo. Entre uma música e outra o debate e esclarecimento de dúvidas acontecia. É importante destacar a participação dos AIS na roda. Os AIS são motivadores de transformação e têm papel essencial na melhoria da qualidade de vida e autonomia dos povos indígenas. Nesse contexto, a participação desses profissionais enriqueceu a roda e, concomitantemente, gerou um processo de educação permanente. A problematização, a partir da realidade, é essencial para que se promova a educação e foi isso que o grupo buscou fazer. Pode-se considerar que a grande maioria das indígenas participou de forma ativa e puderam esclarecer dúvidas em relação aos temas abordados. Um aspecto interessante diz respeito ao fato de que os questionamentos feitos por elas possuíam vínculo com a própria saúde e com a saúde de familiares. Tal situação evidencia a premissa de que a mulher é promotora da saúde, principalmente na família. Também cabe ressaltar que a atividade proporcionou aos estudantes conhecer algumas crenças e costumes da população. Diversas vezes, durante a dinâmica, as índias relataram ações de cuidado com a saúde comuns na aldeia, mas distintas das utilizadas pela população não indígena. Ao fim de todas as danças e orientações as participantes puderam avaliar verbalmente a ação de educação em saúde. Muitas referiram satisfação com relação à abordagem utilizada e citaram a importância de poder esclarecer dúvidas relacionadas à saúde. Ficou evidente o fato de que a metodologia utilizada promoveu articulação de saberes e que a atividade ao ar livre imprimiu uma conotação de promoção de saúde e lazer. Os petianos também avaliaram a atividade de forma positiva. Um dos estudantes relatou: “foi uma experiência que será levada para toda a vida. Nós, futuros profissionais da saúde, temos compromissos para com a saúde de nossa população, seja ela de qual etnia for. Deve-se respeitar a cultura de cada povo”. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Quando se fala em educação em saúde, estão imbuídos conceitos e práticas de promoção e prevenção, que remeteu ao público participante da atividade, a preocupação não somente com a saúde das mulheres, foco da ação, mas também com a saúde da família, uma vez que se trata de mudança de comportamento, o que inclui todos os membros. A adesão da comunidade feminina e envolvimento nas atividades de orientação sobre vacinação, o uso de contraceptivo oral, questões sobre saúde mental/depressão, higiene bucal e autoexame das mamas, para prevenir doenças, certamente tornou o resultado da intervenção satisfatório. A dinâmica da dança circular inovou e facilitou o caminho para percorrer estratégias de promoção da saúde. Importante destacar que a inserção acadêmica e profissional junto a população indígena requer respeito a sua cultura, reconhecimento de seus costumes no cuidado com sua saúde e valorização do saber popular, e o grupo tutorial levou isso em consideração no planejamento de sua vivência. Esta experiência traz consigo a responsabilidade acadêmica e profissional de promover a saúde da população a partir das necessidades e realidade identificada.

Palavras-chave


Educação em Saúde; Outubro Rosa; PET-Saúde