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Formação em saúde na rede de atenção à saúde mental do trabalhador
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
Relatamos a experiência do desenvolvimento de um projeto voltado à promoção de Saúde Mental Relacionada ao Trabalho (SMRT), desenvolvido dentro de um Programa de ensino pelo trabalho (PET), cujo tema era a Vigilância em Saúde do Trabalhador, em parceria com um equipamento da rede pública de um município paulista. Inicialmente, trabalhamos junto com a equipe do PET saúde do trabalhador intervindo no Centro de Referência em Saúde do Trabalhador CEREST, no sentido de promover discussões sobre a vigilância em saúde do trabalhador e saúde mental (VS SMRT). Apresentamos as políticas públicas de assistência e vigilância em saúde voltada aos trabalhadores; investigamos a realidade territorial e o escopo de ações da CEREST; promovemos rodas de conversa e entrevistas com profissionais do serviço sobre saúde mental relacionada ao trabalho; e orientamos os estudantes a participar de eventos relacionados à saúde coletiva. Constatamos que as ações da CEREST ficavam restritas à assistência e limitadas à unidade; as iniciativas relativas à vigilância em saúde eram reduzidas à fiscalização (motivada por denúncia), voltada aos acidentes de trabalho. As ações do PET, ressaltando a importância das notificações e da sistematização de informações para a qualificação de ações e planejamento estratégico, provocaram pequenas modificações na maneira de organizar os fluxos entre os níveis de atenção e serviços. Passou-se a observar o preenchimento completo dos prontuários e a organização de planilhas de dados relativos aos atendimentos. O número de notificações ganhou peso em relação aos parâmetros do Estado. Trabalhamos com populações que consideramos de alto risco aos problemas de SMRT. A categoria dos bancários tem liderado essas estatísticas no serviço. Também percebemos a importância de sensibilizar os profissionais do CAPS sobre as possíveis interfaces com a saúde do trabalhador. Elaboramos dois projetos de pesquisa que foram submetidos ao Comitê de ética. Realizamos uma série de eventos sobre SMRT com presença de pesquisadores renomados. O processo de produção de encontros e debates, entre vários atores, provenientes de diferentes setores estratégicos, objetivou dar oportunidade aos trabalhadores e estudantes para questionarem os modos de funcionamento estabelecidos, identificados como nefastos à SMT; além de provocar à intersetorialidade e mobilizar as categorias de trabalhadores a retomar a discussão e a protagonizar ações de VS SMRT. As questões e desafios que ficaram são: como articular tantas lógicas de pensamento e funcionamento diferentes, considerando tantos atores e contextos, de modo a operar efetivamente em prol de um objetivo comum pactuado? Como conceber, organizar e viabilizar ações coletivas que potencializem o PET, que admitam a participação efetiva dos estudantes como atores de sua formação em serviço e de transformação social? O PET nos permitiu constatar que o processo de ensino em serviço é complexo e difícil de ser colocado em prática de maneira eficaz, mas, apresenta grande potencial. Restam ainda debates a serem feitos, dúvidas a serem esclarecidas, para que se possa melhorar esse dispositivo, de modo que ele se torne operacional e indutor de mudanças, mas, sem dúvida, ele aponta para um caminho interessante que vale a pena ser trilhado.
Palavras-chave
saúde do trabalhador; saúde mental relacionada ao trabalho; ensino em serviço