Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Nas trilhas da Saúde da Família: Empoderando Vidas na Leveza do Cortejo de Saúde
José Amilton Costa Silvestre, Bianca Waylla Ribeiro Dionisio

Última alteração: 2015-12-03

Resumo


APRESENTAÇÃO: "Somos quem podemos ser. Sonhos que podemos ter". Entender o processo saúde-doença dentro de um contexto ampliado abre espaço para novas perspectivas de enfrentamento das adversidades nos mais distintos territórios. Impulsionado pelo movimento da Reforma Sanitária a Promoção da Saúde no Brasil incorpora em seu aspecto mais radical as nuances do empoderamento, da participação popular e a libertação para tantas dores e sofrimentos que se descortinavam num Brasil que caminhava para uma abertura política com o fim do regime militar já em meados da década de 1980. Empoderamento constitui-se como fator primordial para guiar o processo de participação comunitária e engajamento dos cidadãos na deliberação e construção de políticas pautadas na realidade local. Aliado a este fundamento da promoção da saúde e não menos importante pode-se citar, também, a intersetorialidade, interdisciplinaridade e equidade. A Estratégia Saúde da Família (ESF) é coordenadora e ordenadora das ações de saúde na Atenção Básica. Dentro de suas atribuições está a necessidade do reforço e resgate da educação popular. Dessa forma, intentamos colocar em prática os conceitos deste movimento pautado no protagonismo popular através de uma relação ensino-serviço com dialogicidade numa experiência viva dentro do território. "Vem, vamos embora. Que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora. Não espera acontecer...". Nossa experiência se deu no mês de junho de 2015 no Centro de Saúde da Família (CSF) Pedrinhas na cidade de Sobral – CE; município de referência quando falamos em Saúde Coletiva. Sobral é sede de uma macrorregião de saúde composta por 55 municípios, onde residem mais de 1.632.000 habitantes, e possui um Sistema Saúde Escola que tem como premissa a integração entre serviço-ensino e ensino-serviço, qualificando o processo de gestão participativa e democrática.  Os primeiros passos de nossa vivência foram possibilitados em decorrência do estágio em Saúde Coletiva dos acadêmicos de Odontologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) cujo objetivo era conhecer o fluxograma e as ações da unidade de saúde e ao final implementar um projeto para promover saúde e colaborar com a divulgação das ações ofertadas pelo CSF para a comunidade adscrita. Durante o percurso do estágio foram criados laços com os profissionais de saúde da equipe de referência e os profissionais que fazem parte da Residência Multiprofissional em Saúde da Família (RMSF) do município, surgindo a idealização de um projeto que contemplasse a capacitação de pessoas e comunidade tendo em vista as modificações dos determinantes de saúde em benefício da qualidade de vida, descrito na Carta de Ottawa (1986) sobre promoção de saúde. Nesse sentido, a definição traz em sua essência o protagonismo do sujeito e a necessidade do empoderamento para que possam desenvolver as habilidades como pessoas e/ou comunidades ativas atuando na qualidade de vida. Em nosso primeiro encontro, privilegiamos a escuta dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), pois os mesmos são empoderados quanto ao perfil dos usuários da área adscrita; e através do discurso ficou notório que a população idosa é um dos grupos mais significantes do território. Partindo desse princípio, e objetivando promover saúde e prevenir doença através de um trabalho multiprofissional traçamos os objetivos e resultados que gostaríamos de alcançar, dos quais foram: (a)Esclarecer sobre os cuidados com uso da dentadura; (b) Orientar sobre o câncer bucal; (c) Apresentar os serviços ofertados no CSF e seu fluxograma de atendimento; Pensamos como poderíamos compartilhar essas informações partindo da realidade em que os sujeitos estão inseridos, uma vez que na perspectiva freiriana  educar vai além de transmitir conhecimento, e sim por meio de uma relação dialógica, problematizadora, participativa e libertadora. METODOLOGIA: Por tanto, optamos por trabalhar com metodologias que possuam um caráter de ação-reflexão-ação, fazendo com que os usuários falassem sobre suas experiências e partindo de suas falas fossemos complementando sobre a temática com o propósito de sensibilizar e criar vínculos entre o centro de saúde e a população. Esta perspectiva fortalece em seu discurso a cultura como capaz de promover reações de mobilização coletiva, com grande sentimento de cooperação e solidariedade para o enfrentamento de problemas que são de todos. Sendo assim, em nosso segundo encontro optamos em articular uma metodologia que envolvesse as linguagens da cultura e abraçasse a educação popular como forma de unir o setor saúde e educação. Mediante essa premissa e por meio do diálogo emergiu a ideia de realizamos um Cortejo de Arte em Saúde para trabalharmos através do lúdico os objetivos propostos, saindo das paredes da unidade de saúde e adentrando a comunidade, ampliando nosso público alvo, nossas possibilidades de acolher esses usuários e provocar sentidos dentro do ambiente que eles se sentem mais seguros que são seus lares e ruas. Captando a essência da animação para que os usuários possam se sentir atraídos pelos sons, músicas, cores e fantasias, permitindo uma criação de laços que remetam a cultura circense, propondo através dessa abordagem a participação ativa das pessoas, quebrando os muros do conhecimento instituído e edificando saberes correlacionados entre o empírico e cientifico. Assim, entende-se que a educação popular possibilita uma reflexão crítica e descortina espaços/cenários de dialogicidade, cuja singularidade está na polifonia de vozes e na estruturação de ações em que convivem  múltiplos saberes emoldurados sob a óptica da inclusão.   RESULTADOS: "Eu não deixo o tempo parar. Nesse desfolhar de rosa. Para toda força que nos dobra". Uma vez que, abraçando as linguagens culturais aumenta-se a possibilidade da aproximação com a comunidade, saindo das paredes da unidade básica e emergindo no território vivo, conversando sobre a temática com os moradores em suas casas, ruas e praças. A música, a imagem circense, as cores, as máscaras trouxeram uma aproximação com a população. O canto de cada um, por vezes permeado de dores e dissabores, ficou com um ar de cores e sons alegres. São cantos de vidas, são vidas que encantam. Fomos encantados pela leveza de ser de um povo que, certamente ainda desconhecíamos, e fomos além dos profissionais de saúde que estão diariamente na unidade básica, fomos seres humanos que escutam e trocam experiências.   CONSIDERAÇÕES FINAIS: "Toda a vida. O dia inteiro. Não seria exagero. Se depender de mim. Eu vou até o fim". O espaço construído em equipe proporcionou a dialogicidade, capturando o conhecimento e as dúvidas e permitiu conhecer a realidade e reconstruir esses saberes, incentivando o protagonismo do sujeito sobre sua qualidade de vida, e trabalhando uma práxis capaz de diminuir as distâncias entre ensino-serviço.

Palavras-chave


(Saúde da Família; Promoção da Saúde; Educação em Saúde).

Referências


  1. GIOVANELLA, Ligia (org.). Políticas e Sistema de Saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2012.
  2. ALMEIDA FILHO , Naomar de; PAIM, Jairnilson Silva. Saúde Coletiva: Teoria e Prática.Rio de Janeiro:Medbook; 2013.
  3. PAULO, Freire. Pedagogia do Oprimido.São Paulo: Paz e Terra; 2005.
  4. DANTAS, V. L. A. Dialogismo e arte na gestão em saúde: a perspectiva popular nas cirandas da vida em Fortaleza-CE.  Fortaleza, 2009. 323 p. Tese (Doutorado) – Universidade Federal Do Ceará, Fortaleza, 2009.