Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
RELATO DE VIVÊNCIAS DOS GRUPOS DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE DO PROPET NA ESF GUSTAVO TRIBESS I E II
Bruno Dalri Menestrina, Julia Soares Pereira, Luís Armando da Silva, Karla Ferreira Rodrigues, Marlene Santes Klitzke Gabriel, João Luiz Gurgel Calvet da Silveira

Última alteração: 2015-10-27

Resumo


Nos serviços de saúde, durante anos, a assistência à gestante vem sendo oferecida quase que exclusivamente vinculada à consulta médica individual. As ações de saúde não propiciam um acolhimento às ansiedades, às queixas e temores associados culturalmente à gestação. Desta forma, a gestação é conduzida pelos profissionais de saúde de modo intervencionista, tornando a assistência e as atividades educativas fragmentadas, sem que a realidade da mulher gestante seja tratada na sua individualidade e integralidade. (Delfino et al. 2004) Sobre isso Delfino cita “Em vista desses pressupostos, entendemos que o contexto grupal desenvolve naturalmente um espaço para o movimento da promoção da saúde através de um processo de ensinar - aprender”, por isso os grupos de gestantes são importantes para a educação de saúde das mulheres, acompanhantes e acadêmicos participantes. O grupo de gestantes do ESF GUSTAVO TRIBESS I e II ocorrem semanalmente, com conteúdos fixos, sempre das 13h00min às 13h30min, em que há o debate entre grupo e apresentadores. O grupo visa educar os envolvidos no parto e também agregar os acadêmicos participantes, tanto para escolha de sua área, como para reflexão de assuntos cotidianos. O processo educativo é flexível, dinâmico, complexo, social, reflexivo, terapêutico e ético e se constrói a partir das interações entre os seres humanos. Nele, quem ensina aprende e quem aprende, ensina, havendo troca de conhecimentos e experiências, uma vez que cada ser que interage, o faz com suas ideias, valores, atitudes e experiências. O processo educativo é um instrumento de socialização de saberes, de promoção da saúde e de prevenção de doenças. (Zampieriet al. 2010). A educação em saúde, um dos principais elementos da promoção da saúde, constitui-se em um processo político e pedagógico que leva ao desenvolvimento de um pensar crítico e reflexivo e à autonomia do ser humano, ao possibilitar a construção e produção de um saber que propicia a este ser humano ser capaz de propor mudanças e decidir sobre as questões relativas aos seus cuidados, aos de sua família e aos cuidados da coletividade. (Zampieriet al. 2010) Em setembro de 2015, o poder de apresentação foi concebido ao grupo de estudantes de medicina do PET-Saúde, na qual foi abordado “os sinais de alerta”, optando-se pelo modo power point, a descrição dos sinais mais característicos e intrigantes do trabalho de parto: o rompimento da bolsa, as contrações e o tampão mucoso. O primeiro desafio foi realizar uma apresentação para mulheres que, ou estavam em estado final de parto, ou que já haviam passado por essa experiência. O conhecimento prático decorrente de sensações vividas pelas gestantes ultrapassa o conhecimento técnico do grupo. Isso gerou outro tipo de preocupação: fazer uma apresentação com fluidez, trazendo novos horizontes para as mães e alcançando seus interesses. O objetivo primário seria, então, alertar as gestantes das diferenças entre os partos e os momentos de procura ao atendimento médico. No momento do diálogo, três gestantes e um acompanhante compareceram. A experiência se tornou inesquecível, não durante a apresentação, mas depois dela. Os temas foram debatidos e a colaboração das mães foi de extrema valia. Tal qual o conhecimento técnico fora passado a elas, para os acadêmicos foi passada uma experiência real de como é o parto. A primeira gestante teve três (3) filhos e estava no 4º parto. Todos nasceram de parto normal e, segundo ela, revelou ser completamente diferente para cada filho. No primeiro, não houve dor por parte da gestante, já no segundo a dor aumentou de forma extrema, e ela relata ter vinculado o sofrimento do parto ao filho, gerando desconforto psíquico nos primeiros momentos pós-parto, atenuados após contato físico mãe-bebê. Essa gestante surpreendeu o grupo, uma vez que mesmo estando na terceira gestação levantava muitos questionamentos, como por exemplo, o tampão mucoso, que ela acreditava estar perdendo no terceiro mês de gestação. A segunda gestante estava em seu primeiro parto e relatou que diversas mulheres falavam que ele era muito doloroso. As outras duas do recinto não relataram dor e tranquilizaram a mãe. Isso mostra a troca de experiência entre os participantes do grupo, também revelada como uma estratégia da ESF. A terceira apresentava seu companheiro ao lado, portanto colocou em questionamento o acompanhamento durante o parto. Segundo ela, o conforto e a segurança passada pelo acompanhante são de suma importância e também sua compreensão de que em níveis de dor extremas, normalmente ocorrem situações inusitadas. Todos esses relatos e debates mostraram a verdadeira face de uma gravidez. O grupo fora com o intuito de levar conhecimento às mulheres, porém, os grandes beneficiados foram os que ouviram dos relatos. Ainda, o desconhecimento dos estudantes novatos da FURB (Universidade Regional de Blumenau), em termos práticos, foi contemplado por essa mistura de informações singelas, ajudando na construção de médicos mais humanos. O Grupo de Gestantes e Casais Grávidos constitui-se num fórum de reflexão, de diálogo, de construção e de socialização de saberes. Propiciando ao casal repensar seus papéis e a importância de eles próprios conduzirem e participarem ativamente do processo do nascimento. Além disso, é uma atividade que contribui para a formação pessoal e profissional e estimula a dinâmica de ensino aprendizagem e a prática interdisciplinar. (Zampieriet al. 2010). Para que o processo de aprendizagem seja completo, o grupo se reencontrará novamente em outubro de 2015 para debater o segundo tema: Parto normal e Cesárea. Desse dia, espera-se mais uma troca de conhecimentos, para que sejam esclarecidos os tipos de parto, suas consequências, benefícios e óbices decorrentes. Há outros projetos em andamento na ESF, como sua territorialização, com a formação de um mapa novo, formatado pelo AutoCAD para auxílio na unidade. A ESF contém um mapa inteligente bastante velho, por isso tão importante tal feito pelos acadêmicos. Ademais, a Fundação Universitária Regional de Blumenau, apresenta um mapeamento de toda a cidade, cobrindo todas as ruas e localidades da cidade, abraçando cada ESF inserida, melhorando as possibilidades de atendimentos, o conhecimento das áreas de risco, e ainda, tornando claras as informações necessárias para melhores e evoluídos envolvimentos entre os acadêmicos e as comunidades que os cercam. Também há na ESF Tribess o andamento de um grupo de adolescentes, similar ao das mães, com troca de experiências e aprendizados. As informações levadas aos adolescentes serão importantes para o seu desenvolvimento, seja no âmbito social, pessoal, profissional e cultural. Ou seja, uma contribuição para o futuro do povo jovem inserido na localidade desta ESF. Questões de difícil entendimento e de importante impacto na vida de cada jovem serão abordadas durante esses encontros periódicos, como a alimentação saudável e a sexualidade questões pujantemente que afetam na vida de um ser.

Palavras-chave


Atenção Primária à Saúde;Gestantes;Estratégia Saúde da Família

Referências


  • ZAMPIERI, Maria de Fátima Mota et al . Processo educativo com gestantes e casais grávidos: possibilidade para transformação e reflexão da realidade. Texto contexto - enferm.,  Florianópolis ,  v. 19, n. 4, p. 719-727, Dec.  2010.
  • DELFINO, R.R.M et al. O processo de cuidar participante com um grupo de gestantes: repercussões na saúde integral individual-coletiva. Ciência & Saúde Coletiva, v. 9, n. 4, p. 1057- 1066, 2004.