Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Sintomas Depressivos em Diabéticos Usuários de Uma Estratégia de Saúde da Família em Blumenau- SC
Juliana Cecconello, Rafaela Roedel, Alessandra Martinenghi, Luiza Pinto de Macedo Soares, Eduardo José Cecchin, Miria de Souza Effting, Karla Ferreira Rodrigues, Nevoni Goretti Damo

Última alteração: 2015-11-12

Resumo


A Diabetes mellitus (DM) é uma condição que necessita de acompanhamento ininterrupto, seja do próprio diabético (autocuidado), seja do sistema de saúde, haja vista a dificuldade de manter as mudanças nos hábitos de vida necessárias ao tratamento. É considerada problema de saúde pública de grandes proporções e de difícil controle, uma vez que sua prevalência, morbidade e mortalidade aumentam progressivamente em escala internacional. Para tanto, o acompanhamento ideal do paciente diabético deve envolver também a esfera psicológica, pois a saúde mental desses pacientes tem relevância no que se refere à adesão ao tratamento e às consequentes complicações da doença. Sabe-se, por exemplo, que a depressão é fator de risco para a piora do controle glicêmico e está presente em 20-30% dos diabéticos. Pesquisas sugerem que o risco de desenvolver depressão aumenta em pessoas com diabetes, sendo essa a justificativa das altas taxas relatadas acima. Em 2000, a Organização Mundial da Saúde estimou que a depressão era a primeira causa de incapacidade e a quarta principal causa de anos de vida perdidos por incapacidade. Estima-se que em 2020 a condição atinja o segundo lugar nesse ranking. Esta pesquisa objetivou identificar o perfil e a possível presença de sintomas depressivos em usuários portadores de diabetes mellitus da Estratégia de Saúde da Família (ESF) Germano Puff de Blumenau – SC. A coleta de dados foi realizada por cinco bolsistas calibrados do PROPET-Saúde da Universidade Regional de Blumenau, em julho de 2015, em visita domiciliar pré-agendada via telefone com os usuários. Os critérios de inclusão da pesquisa foram: diagnóstico de DM, ter idade superior ou igual a 18 anos e aceitar participar da pesquisa voluntariamente, mediante assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Aqueles que não responderam ao contato telefônico e não foram encontrados em casa após duas tentativas foram considerados como perda. A pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética da Universidade Regional de Blumenau em 25/06/2015 sob o parecer de nº 1.124.673. Neste trabalho, foi aplicado o “Patient Health Questionnaire – 9” (PHQ-9), além de um questionário socioeconômico elaborado pelos autores. O questionário PHQ9 é um instrumento de autoavaliação, consolidado, que identifica a presença e o grau de severidade dos sintomas depressivos, sendo utilizado por vários autores para o acompanhamento da patologia em pacientes portadores de doenças crônicas. Ele trabalha com nove itens de avaliação, sendo que cada um pontua um dos nove critérios para diagnóstico de Transtorno Depressivo Maior segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais IV (DSM IV). Sua avaliação é focada nas últimas duas semanas do paciente e a cada um de seus itens é dado um escore de zero a três (sendo zero nunca ter sentido o problema apresentado, um ter sentido em vários dias, dois em mais da metade dos dias e três quase todos os dias). Assim, o questionário traz um escore de 0 a 27, sendo que, segundo os critérios, com escore entre 0 e 4 o sujeito não apresenta sintomas depressivos; entre 5 e 9, são encontrados sintomas mínimos; entre 10 e 14 configura-se sintomas depressivos leves; entre 15 e 19 a apresentação é moderada e entre 20 e 27 os sintomas são classificados como severos. Para o diagnóstico do Transtorno Depressivo o paciente deve pontuar a primeira ou a segunda questão com escore dois ou três. Em seguida, deve apresentar pelo menos cinco critérios ao total com escore dois ou três, sendo que o último critério (“pensar em se ferir de alguma maneira ou que seria melhor estar morto/a”) pode ser pontuado como um, dois ou três para ser significativo. Por último, a décima pergunta que questiona o grau de dificuldade que os sintomas causaram no dia-a-dia do paciente, deve ser pontuada de um a três. Foram entrevistados 34 usuários, o que correspondeu a 57,6% da população de diabéticos da ESF. A maioria eram mulheres (58%), a média de idade foi de 61 anos, sendo os extremos 25 e 94 anos de idade e a maioria (64%) acima de 60 anos. O nível de escolaridade encontrado foi de 61% com apenas o primeiro grau parcial ou completo, sendo que 38% da amostra pertence à classe social D com o rendimento familiar entre R$ 1.085,00 e R$ 1.734,00. Dentre os avaliados, a maioria casados (44%), apenas dois usuários moram sozinhos e 58% estão aposentados. A média de tempo de diagnóstico de DM é de 9,94 anos, sendo que apenas três usuários não fazem uso de nenhum medicamento e 20% faz uso de insulinoterapia. Quando questionados sobre o uso de medicamentos para depressão, apenas 23% (n=8) afirmaram estar em tratamento. Desses oito usuários, apenas dois apresentaram diagnóstico de depressão ao responderem o PHQ-9, sendo que um apresentou depressão leve e, o outro, depressão moderada. Em relação à apresentação e nível dos sintomas, 29% não apresentaram sintomas significativos para quadro depressivo. Sintomas mínimos foram encontrados em 26% da amostra, sendo que a conduta nesse caso seria o suporte da equipe de saúde e a orientação de reavaliação no caso de mudança do quadro. Foram encontrados 29% com sintomas leves, sendo necessário para esses pacientes um suporte, orientações sobre o quadro e início de tratamento com medicação ou acompanhamento com a psicologia. A população de 8,8% com sintomatologia depressiva moderada deveriam iniciar tratamento medicamentoso ou psicológico. Sendo obrigatórias ambas as terapias para os dois usuários (5%) com sintomas graves. Mesmo sendo qualificados os sintomas depressivos da amostra, apenas cinco usuários (14%) foram diagnosticados com Transtorno depressivo maior pelo questionário, sendo que apenas três já fazem uso de medicação específica, um possui depressão leve, três a patologia é apresentada de forma moderada e um está com o transtorno de apresentação severa, sendo que esse não está em tratamento. Ao analisarmos cada item do questionário, observa-se que o mais pontuado foi a pergunta “com que frequência nas últimas duas semanas se sentiu cansado/a ou com pouco energia” com 52% da amostra pontuando dois ou três nesse critério. Vale ressaltar que 44% da amostra afirmou ter alguma dificuldade em seu cotidiano por causa de algum ou todos os sintomas apresentados. Não foi avaliado a presença de Diabetes Mellitus e Transtorno Depressivo nesses pacientes possui alguma relação. Entretanto, percebe-se que como as duas patologias coexistem leva a aferir a hipótese de uma forte relação, a ser comprovada em futuras pesquisas. Entretanto a implicação dessas comorbidades na prática clínica é incerta, e mais estudos sobre o assunto devem ser realizados. Considerando os resultados, esta pesquisa sugere que tanto os espaços de formação devem se voltar para intervenções mais ativas junto ao diabético, de forma multiprofissional e interdisciplinar, em sua mudança de estilos de vida. Ofertar atividades voltadas para a melhoria do componente de saúde mental dos usuários e a introdução deste tema junto ao planejamento das ações da unidade de saúde. Como exemplos, temos as rodas de conversa e convivência entre diabéticos, presença de matriciamento da saúde mental junto a ESF, oferta de eventos de convivência para todos os portadores de condições crônicas, além da divulgação e socialização destas experiências.

Palavras-chave


Depressão; Diabete Mellitus; Atenção Primária à Saúde

Referências


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