Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida
Suplemento Revista Saúde em Redes ISSN 2446-4813 v.2 n.1, Suplemento, 2016
O comparativo de duas experiências: estágio em uma Unidade Básica de Saúde versus Hospital Geral Privado
CLAUDIA DA CRUZ PARIS, Carol Lanne Moura, Joana D'Arc Alves da Silva, Flavio Sampaio David
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
APRESENTAÇÃO: trata-se de um relato da experiência de comparação qualitativa de duas realidades distintas: a de uma Unidade de Atenção Básica (UBS) do Município de Duque de Caxias, Rio de Janeiro, especificamente na sala de curativos desta, e em um hospital particular de grande porte de média e alta complexidade, no CTI. A comparação do conjunto das duas vivências despertou a atenção, haja vista as disparidades no tocante aos recursos materiais para a realização de curativos de qualquer natureza. Tem por objetivo trazer novamente à tona o conceito de saúde, como “direito de todos e dever do Estado”, como bem define a Constituição Federal Brasileira de 1988 em seu Art. 196, além de proporcionar uma reflexão sobre as disparidades entre serviços de saúde públicos e privado brasileiros. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: No primeiro executamos curativos em pacientes acometidos prioritariamente de úlceras venosas ou arteriais. Tais curativos são realizados em uma sala de curativos da UBS, que conta com uma maca, uma pia (tanque), armário de medicações. Quanto ao material utilizado nos curativos, dispõe-se de: pomada Colagenase, Ácido Graxo Essencial (A.G.E), pomada Acetato de Betametasona 1mg/g, pomada Sulfato de Neomicina 5mg/g + Bacitracina Zíncica 250 UI/g, pomada Uréia 10%, Soro Fisiológico 0,9%, solução tópica PVPI (IODOPOVIDONA) 10%, Sulfadiazina de Prata 1% 10mg/g, ataduras de crepe, gazes estéreis, compressas cirúrgicas estéreis, luvas de procedimento, máscaras cirúrgicas, luvas estéreis. Todos os materiais em quantidade reduzida. Não se dispõe de campos estéreis, capotes, bandejas, cubas, toucas cirúrgicas, óculos de proteção. O ambiente é bem precário, com paredes de azulejos pintadas em péssimo estado de conservação. A sala é pouquíssima ventilada e não conta com sistema de ar-condicionado. O tanque utilizado para proceder à lavagem com soro fisiológico das feridas de todos os pacientes e o papel que envolve as luvas estéreis é utilizado como forma de proteção para que os pacientes apoiem o membro a ser higienizado. Em nenhum momento é feita a limpeza ou desinfecção das superfícies contaminadas de todos os curativos realizados. Embora esta exposição, neste caso, se dê numa curta duração de tempo, ela é diária e prejudicial, pois não respeita os preceitos básicos de biossegurança nem de controle de infecções. Os curativos são feitos o mais rapidamente possível, pois a demanda é relativamente grande (em média 15 pacientes no período que vai de 8 – 12h). Com exceção das orientações fornecidas pelas acadêmicas, não se presenciou nenhum tipo de informação disponibilizada para cada paciente, individual ou coletivamente, bem como o direcionamento destes para tratamento clínico de comorbidades ou necessidades nutricionais necessárias para uma melhora eficaz dos quadros de úlceras. Quanto aos medicamentos utilizados, conta-se, como descrito acima, com estes materiais, porém o que mais nos chamou a atenção foi a utilização indiscriminada da pomada Colagenase, um desbridante enzimático, em praticamente todas as lesões, e a mistura desta com o A.G.E. (ácido graxo essencial). A profissional da unidade, quando questionada do porque de tal procedimento, simplesmente não soube explicá-lo. Além disso, esta mistura é aplicada e toda a região da ferida, não lançando mão de critério para esta administração medicamentosa, o que evidência a falta de conhecimento sobre a mesma, bem como a falta de uma supervisão de enfermagem presente ou de educação continuada. Qualquer outro tipo de recurso material, como por exemplo, compressas de carvão ativado, ou botas de Unna, são adquiridas com recursos dos próprios pacientes, não estando disponíveis no serviço para estes, os quais contam com reduzido poder aquisitivo. Em contraponto, vivenciamos a realidade de um hospital de grande porte, privado, de atendimento em nível de média e alta complexidade, especificamente no CTI. No ano de 2011 a instituição recebeu pela segunda vez o certificado da Accreditation Canadá e pela ONA em nível III de excelência. O hospital conta com recursos de ultima geração para a prevenção e tratamento de feridas, como por exemplo, o sistema de proteção de cutânea Cavilon™. Também dispõem de recursos como os curativos Tegaderm™ CHG e Tegaderm™ (Fixadores de Cateteres com e sem Clorexidina), Adaptic ®, o Sistema de Terapia Integrada V.A.C.®, que fornece pressão negativa para o tratamento de feridas. Os recursos disponíveis supracitados são somente para exemplificar a qualidade e o acesso dos pacientes às tecnologias em termos de coberturas e curativos. RESULTADOS E/OU IMPACTOS: Não pretendemos comparar ou equiparar os níveis de atenção à saúde, nas suas diversas complexidades, mas sim, trazer à baila questões como a possibilidade positiva de vivenciar duas realidades tão antagônicas, situadas em unidades de saúde de municípios vizinhos e tão próximos. No que diz respeito à saúde como direito, vemos que, uma parcela privilegiada da população tem um nível de atendimento e acesso a estas tecnologias de forma muito eficaz, a saber, a atendida na unidade privada, enquanto que, a despeito do direito, outra parte menos privilegiada, tenta sobreviver com o que a unidade pública disponibiliza, muitas vezes, a título de caridade. Para nós acadêmicos o resultado da experiência no todo foi bastante positivo, pois nos permitiu refletir, questionar problematizar as situações. De um lado, um público que tem acesso a dispositivos de ultima geração para tratamento de feridas. Do outro, um público carente, que não tem suas necessidades de saúde atendidas pelo órgão público que deveria supri-las. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Em ambos os casos, percebemos as experiências como de suma importância para o exercício da profissão, tendo em vista que estas realidades representam campos de trabalho e estudo reais, que expressam exatamente a disparidade existente no sistema de saúde brasileiro. Não podemos deixar pensar na questão social envolvida, quando a enfermagem, profissão que historicamente contempla o atendimento e o cuidado visando o bem estar do cliente, e não tendo sua posição social como pré-requisito para uma boa execução dos deveres práticos, representa categoria de trabalho predominante em todos os níveis e serviços de saúde, alem de ser parte primordial integrante da equipe multidisciplinar de saúde, trabalhando na promoção, prevenção e manutenção da saúde da população, por meio do atendimento, do cuidado de qualidade e da educação em saúde e buscando assim, cooperar para a diminuição das desigualdades e exclusões.
Palavras-chave
Assistência de Enfermagem; Educação Continuada; Terapêutica
Referências
1. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Programa Nacional de Avaliação de Serviços de Saúde. Brasília: Agência Nacional de Vigilância Sanitária; 2007
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