Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida
Suplemento Revista Saúde em Redes ISSN 2446-4813 v.2 n.1, Suplemento, 2016
Núcleo de Apoio à Saúde da Família: Apoio Matricial e Processos de Trabalho
Karina Prestupa de Sousa, Carla Roberta Ferraz
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
APRESENTAÇÃO: A pesquisa trata da questão do Apoio Matricial nos processos de trabalho de equipes de Núcleos de Apoio a Saúde da Família (NASF). Com base na percepção de profissionais que atuam nestas equipes, este estudo tem como objetivos identificar práticas e ações do processo de trabalho nas quais se observe aplicação do pressuposto teórico e operacional do Apoio Matricial e evidenciar potencialidades e/ou limites relacionados à operacionalização desta ferramenta. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Trata-se de uma pesquisa de campo, descritiva, transversal, qualitativa. Foi realizada nas microrregiões de Cidade Tiradentes e Guaianases, da Coordenadoria Regional de Saúde Leste, no Município de São Paulo. Participaram da pesquisa profissional atuantes no NASF em Unidades Básicas de Saúde da Família nas regiões citadas que se enquadraram no critério de inclusão e que voluntariamente depois de orientados e esclarecidos sobre os objetivos deste estudo concordaram em participar da pesquisa assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE. Foi estabelecido como critério de inclusão estar atuando no Núcleo de Apoio a Saúde da Família há no mínimo seis meses. O projeto foi submetido à apreciação da Coordenadoria Regional de Saúde Leste e do Comitê de Ética e Pesquisa da Prefeitura Municipal de São Paulo e aprovado pelo Parecer nº 115/11 – CEP/SMS. Cada sujeito foi contatado pessoalmente, por visita às unidades de trabalho, realizadas pelo pesquisador responsável – verificou-se neste momento se o sujeito se enquadrava no critério de inclusão, se sim e após o aceite e assinatura do TCLE, foi realizada a coleta de dados por meio de entrevista, com aplicação de roteiro pré-estabelecido. Para coleta de dados foi utilizado roteiro com pergunta aberta no qual se manteve ênfase no “processo de trabalho do Nasf relacionado à utilização e aplicação da ferramenta Apoio Matricial”. A criação do roteiro foi necessária diante do fato de não ter sido encontrado nenhum instrumento específico, validado pela literatura e que pudesse fundamentar a pesquisa, sendo então utilizados como base conceitos contidos no Caderno de Diretrizes do Nasf. O instrumento de coleta foi subdividido em: dados dos indivíduos (idade, sexo, formação, categoria profissional, especialização e tempo de atuação no Núcleo de Apoio a Saúde da Família) e uma questão aberta sobre aplicação do Apoio Matricial. Para tratamento e análise dos dados foi utilizado o procedimento metodológico de análise temática de conteúdo, baseada na lógica da categorização das respostas e falas dos entrevistados. As categorias foram formuladas após exaustiva leitura das respostas e falas dos entrevistados, onde se buscou responder as seguintes questões: O que é o apoio matricial? Em que espaço, de que forma e quando ele é aplicado? Quais as limitações e/ou as possibilidades para a prática do apoio matricial? Após categorização e análise das respostas dos entrevistados foi realizada a discussão utilizando-se literatura de referência. RESULTADOS: Na apresentação e discussão dos resultados as categorias formuladas a partir das falas dos profissionais evidenciaram o Apoio Matricial como espaço de compartilhamento de saberes trabalha em conjunto, capacitação para a equipe de referência e atuação em rede. A operacionalização do Apoio Matricial foi percebida nas reuniões de equipe, nas discussões de casos, em pontuais educações permanentes e em grupos educativos. Os limites e dificuldades colocados se relacionam à lógica do sistema que não permite consultas compartilhadas, demanda excessiva, não corresponsabilização da equipe de referência, busca por atendimentos individuais pelas especialidades, falta de reflexão sobre as práticas realizadas e rotatividade dos profissionais que compõem as equipes. Como possibilidades e propostas foram citadas: criação de espaços de educação permanente, bloqueio de agenda dos profissionais médico e enfermeiro para as consultas compartilhadas, realização de ações conjuntas entre equipes e ampliação da visão para a aplicação do apoio matricial. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Por meio deste estudo foi possível conhecer alguns aspectos do processo de trabalho das equipes NASF junto à equipes de saúde da família, identificando práticas e ações deste processo que indicam a aplicação do Apoio matricial e evidenciando também limites, dificuldades, possibilidades e potencialidades para a sua operacionalização. As percepções dos profissionais que atuam nos NASF estão ligadas àquilo que este representa para eles: compartilhamento de saberes trabalho em conjunto, capacitação para a equipe de referência e atuação em rede. Nota-se também que as práticas e ações do dia a dia são executadas objetivando a aplicação do pressuposto do apoio Matricial, buscando que se efetive nas reuniões de equipe, nas discussões de casos, em pontuais educações permanentes e até em grupos educativos ou de orientação – porém, ainda há que se trilhar um caminho para que este arranjo organizacional passe a ser incorporado e visto como fundamental para o trabalho das equipes – e pensado enquanto se faz. Como principais limites e dificuldades foram colocados questões relacionadas à lógica do sistema que não permite consultas compartilhadas com os profissionais de nível superior das equipes de referência, a demanda excessiva que consequentemente angustia as equipes de saúde da família em “passar” casos e impede o matriciamento durante as mesmas, a transferência de responsabilidade e a não corresponsabilização da equipe de referência, a busca por atendimentos individuais pelas especialidades do NASF, a falta de tempo para refletir e pensar sobre a prática e a rotatividade dos profissionais que compõem as equipes, tanto do NASF quanto da ESF. Apesar de terem sido apontadas estas dificuldades, os profissionais colocam possibilidades e propostas para o apoio matricial, como por exemplo, a criação de espaços de educação permanente – que seja contabilizada em sua produção, a organização de agenda dos profissionais médico e enfermeiro para que estes possam executar consultas compartilhadas com objetivo de matriciamento, a realização de ações em conjunto com as equipes de saúde da família, como por exemplo, o planejamento de grupos educativos e terapêuticos, construção de PTS, etc., e a ampliação da visão para a aplicação do apoio matricial não só em momentos ou espaços pré-determinados, mas, inserindo-o nos processos e ações do trabalho de uma forma natural. Potencialmente o apoio matricial foi visto como facilitador do trabalho multiprofissional, como aquele que favorece a sensação da segurança de saber que não se está só, e como ferramenta importante para a disseminação de informações. Diante destas colocações entende-se que a ESF e as equipes NASF estão em processo de sintonização – o que é esperado para dispositivos novos e em processo de construção, mais precisamente em relação ao NASF. É importante lembrar que a Atenção Primária no Brasil esta ainda em processo de consolidação e que mudanças na cultura, história e formação dos profissionais de saúde não se dão de forma instantânea, mas são construídas ao longo do tempo – e diante de situações que não condizem com nossas expectativas há de se adotar uma postura de quem acredita que é possível e perseverar enquanto a história se faz, adequando e repensando aquilo que ainda não está de acordo e fortalecendo os fazeres positivos. Enfim, espera-se que esse estudo possibilite a reflexão e que as informações e impressões levantadas a partir da atuação dos profissionais neste recente período de implantação possam oferecer subsídios para a avaliação e adequação das práticas e dos processos de trabalho em questão – ampliando a resolutividade e contribuindo assim com a consolidação da Atenção Primária a Saúde.
Palavras-chave
apoio matricial; nasf; processo de trabalho
Referências
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