Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
Conscientização de profissionais de saúde da atenção básica sobre a dor e suas dimensões: uma ação educativa
Christiane Barbosa, Rogério Gavassa Ornella, Paulo César Carvalho, Aline Figueira Fidelis, Lucimeire Fátima Laurindo

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


APRESENTAÇÃO: No estudo dos sinais e sintomas das doenças, a dor é um dos sintomas mais presentes. Especialmente a dor crônica, quando vivenciada, torna-se uma experiência muito triste para o paciente e seus familiares. Isso se justifica, pois com a cronicidade, há a persistência da dor, que tem uma influência decisiva na deterioração da qualidade de vida e na atitude negativa perante a doença. O alívio da dor quer do doente, quer daqueles que com ele convivem, é uma exigência absoluta, e determina uma prioridade de ação dos profissionais de saúde. O profissional passa a ser o gestor da dor do outro, as suas ações compreendem a detecção, a avaliação e a intervenção nesse fenômeno. É fundamental saber o quanto os profissionais de saúde, que lidam com essa questão no dia a dia, estão conscientizados sobre esse problema. O suporte aos profissionais representa um novo desafio para o nosso sistema de saúde e para enfrentá-lo é necessário conhecer as bases do problema. Para elucidação dessa questão, o objetivo desse estudo foi conhecer o nível de conscientização de profissionais de saúde de uma equipe de saúde da família sobre a dor e suas implicações. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Além do método qualitativo, este estudo foi desenvolvido com delineamento transversal e é descritivo do tipo exploratório. As questões éticas foram respeitadas, conforme Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 466/2012. Para compreender a conscientização dos profissionais de saúde sobre a avaliação e o manejo da dor, foi desenvolvida uma prática reflexiva norteada pelo arco da problematização de Maguerez. O arco da problematização segue cinco etapas: observação da realidade, pontos-chave, teorização, hipóteses de solução e aplicação à realidade. Entretanto, foram utilizadas para esta prática somente as quatro primeiras etapas. A amostra foi composta por 9 profissionais de saúde de duas equipes de saúde da família que atuam na Estratégia Saúde da Família e no Programa Melhor em Casa. O desenvolvimento desta prática foi realizado na unidade de saúde na qual as equipes estão locadas, no município de Araraquara, interior de São Paulo, durante um período de 2 meses. A prática educativa foi organizada em 8 encontros semanais, de duas horas cada. Num primeiro momento educativo, realizou-se a  observação da realidade, para saber o que os profissionais de saúde conhcem sobre o tema. Num segundo momento, houve um resgate do momento anterior e a identificação dos pontos-chave que deveriam ser trabalhados nesta prática. Num terceiro momento, foi realizada a teorização para elucidamento dos pontos-chave. Num quarto e último momento, realizou-se uma reflexão sobre a prática educativa além da proposta de hipóteses de solução para os problemas encontrados. A coleta e registro das informações foram efetuados através de diários de campo, que foram lidos e reescritos no dia seguinte ao da atividade, para que as idéias não se perdessem, e fosse mantida a fidelidade dos acontecimentos. RESULTADOS: Para realização do primeiro momento, que visava a observação da realidade, foi necessário apenas um encontro. Neste dia, os profissionais participaram de uma dinâmica para que houvesse uma descontração e o maior engajamento na temática em questão, dor. Após a dinâmica, os profissionais foram convidados a refletir e expor para o grupo o que sabiam sobre o tema em questão. Entre as frases ditas, algumas se destacaram como: “...é difícil a gente tratar a dor...” deve perguntar para o paciente como é a dor, usar a escala de carinhas, que a dor é o quinto sinal vital e devemos lembrar que a dor pode ser ligada à morte nós precisamos de outros profissionais para cuidar melhor da dor que é preciso estabelecer vínculos com a família e mostrar que a gente se importa com a dor. Este momento foi muito importante para resgatar o conhecimento dos profissionais, mas mostra que tal conhecimento sobre o tema é muito superficial e limita as ações de saúde que poderiam ser desenvolvidas para minimizar os problemas relacionados à dor dos pacientes e o estresse dos familiares. O segundo momento ocorreu em um único encontro. Neste encontro, foi retomada a discussão do encontro anterior com a categorização de pontos chave que precisariam ser melhor elucidados sobre a temática. Os profissionais decidiram que deveriam saber mais sobre os conceitos de dor e como se dá a dor física e a dor psíquica. Também decidiram que deveriam saber quais as melhores formas de avaliação da dor e as formas de tratamento existentes, inclusive as formas não convencionais. O terceiro momento ocorreu em cinco encontros de duas horas cada. Este foi um período de teorização, no qual foram discutidos com o grupo os conceitos mais atuais sobre o tema. Por se tratar de equipes multiprofissionais, pois havia enfermeiros, fisioterapeutas, médicos, técnicos de enfermagem e psicólogos, este foi um período muito rico na construção de conhecimentos sobre o manejo da dor em todas as suas nuances. Os profissionais avaliaram que tinham pouco conhecimento sobre o tema, sabiam só o superficial e o que era restrito às suas formações, sem conhecer o que os demais profissionais poderiam fazer a respeito. O quarto momento ocorreu em um único encontro. Foi desenvolvida uma prática reflexiva e os profissionais disseram que a participação neste processo foi muito importante para eles. Foi possível perceber que esta prática trouxe contribuições no desempenho das ações de saúde que visam minimizar a dor e o seu impacto para os pacientes e seus familiares. Os profissionais propuseram a construção de um instrumento para avaliação da dor dos pacientes em cuidados domiciliares e outro para avaliar o impacto da dor crônica na vida dos familiares e cuidadores, a fim de sistematizarem suas ações e aumentar a confiabilidade no trabalho da equipe. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Como desenvolvimento deste estudo, foi possível compreender a conscientização dos profissionais quanto às questões relacionadas ao manejo da dor em pacientes atendidos na atenção básica. O arco da problematização utilizado nesta prática privilegiou a ação dos profissionais, tornado-os protagonistas do processo educativo e favorecendo uma aumento da conscientização sobre o problema. Os profissionais ficaram motivados a continuar estudando sobre o assunto e agregar novos processos de trabalho para sistematizar a assistência em saúde dos pacientes que sentem dor.

Palavras-chave


Dor; educação profissional; educação continuada

Referências


BIDARRA,  A. P.  Vivendo com a dor: o cuidador e o doente com dor oncológica.  2010. 372p.  Dissertação (Mestrado), Faculdade de Medicina de Lisboa, Universidade de Lisboa, Lisboa, 2010.

DELLAROZA, M. S. G. et al.  Associação de dor crônica com uso de serviços de saúdeem idosos residentes em São Paulo.  Rev Saúde Pública, São Paulo, v. 47, n. 5, p. 914-22, set/out. 2013.

FREIRE, M. E. M. et al.  Qualidade de vida relacionada a saúde de pacientes com câncer avançado: uma revisão integrativa.  Rev Esc Enferm USP, São Paulo, v. 48, n. 2, p. 357-67, abr/jun. 2014.

GARBI, M. O. S. S. et al . Intensidade de dor, incapacidade e depressão em indivíduos com dor lombar crônica. Rev. Latino-Am. Enfermagem,  Ribeirão Preto ,  v. 22, n. 4, p. 569-575, Aug.  2014 .

STEFANE, Thais et al . Influência de tratamentos para enxaqueca na qualidade de vida: revisão integrativa de literatura. Rev. bras. enferm.,  Brasília ,  v. 65, n. 2, p. 353-360, Abr.  2012 .

AGUILAR-DA-SILVA, R. H.; SCAPIN, L. T., & BATISTA, N. A. Avaliação da formação interprofissional no ensino superior em saúde: aspectos da colaboração e do trabalho em equipe. Avaliação: Revista da Avaliação da Educação Superior. V. 16, 2011, p.165-182.

WATERKEMPER, R.; REIBNITZ, K. S.; MONTICELLI, M.  Dialogando com enfermeiras sobre a avaliação da dor oncológica do paciente sob cuidadosn paliativos. Rev Bras Enferm, Brasília, v. 63, n. 2, p. 334-39, abr/jun. 2010.