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Extensão Universitária e mobilização antimanicomial no Sertão do São Francisco: arte, formação e empoderamentoFormação; Saúde Mental; Empoderamento; Extensão Universitária; Cenopoesia
Última alteração: 2015-11-12
Resumo
Desenvolvido na Universidade Federal do Vale do São Francisco/Univasf, o projeto de extensão intitulado “Fortalecimento do Protagonismo de usuários e familiares das Redes de Atenção Psicossocial do Sertão do Submédio São Francisco: articulando formação e arte (PROEX/Univasf)” encontra-se em sua terceira edição. Volta-se à formação em saúde e saúde mental comprometida com a realidade das redes públicas locais, respaldando-se em princípios da Reforma Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial. Busca-se, sobretudo, o empoderamento dos usuários e familiares das redes de cuidado, visando que estes se tornem protagonistas no cenário local em articulação com o Núcleo de Mobilização Antimanicomial do Sertão (Numans), importante dispositivo político que vem promovendo discussões acerca da transformação da atenção em saúde mental e da consolidação das Redes de Atenção Psicossocial (RAPS) no sertão. O projeto é composto por estudantes de graduação e residência multiprofissional, além de outros profissionais e professora orientadora. A metodologia utilizada respalda-se na perspectiva da pesquisa interventiva (Andrade; Morato; Schmidt, 2007) e sustenta-se na compreensão de experiência (Larossa, 2002), valorizando a produção coletiva. Ocorrem encontros semanais do grupo condutor, que contemplam estudos teóricos, planejamento, avaliação das atividades, relatos partilhados do que é vivido, em um movimento de ação e reflexão contínuo. As atividades do projeto viabilizam a inserção dos estudantes no campo, focando a aproximação ensino-serviço e pondo em ato a função social da Universidade. Desse modo, intenta-se aprimorar a comunicação na RAPS, contribuindo para o debate sobre processos de cuidado a partir da valorização da singularidade e do poder de contratualidade dos usuários. Nesta edição do projeto, os integrantes vêm experimentando um recurso artístico, a “Cenopoesia”, utilizado para turbinar as reflexões sobre o direito à saúde e atenção em saúde mental. Tal recurso objetiva provocar as pessoas, pela via da arte, potencializando os discursos e a capacidade de expressão: estimula-se a comunicação entre os participantes das vivências cenopoéticas, transitando pelo teatro, poesia, dança, música, etc. Essa experimentação tem possibilitado falar e fazer saúde mental de modo criativo e lúdico, com foco no exercício protagonista dos sujeitos nas coletividades. Se aposta na potência deste recurso para oportunizar expressões mais criativas e diálogos com a Luta Antimanicomial, fortalecendo o Numans, pela promoção de espaços de fala, encontros e ações alimentados pela lógica antimanicomial. Dentre as ações, destaca-se o Fórum de Mobilização Antimanicomial, que em 2015 teve a sua 5ª versão, com o tema “Ampliar e consolidar a RAPS: possibilidades e responsabilidades no cuidado territorial”. O fórum vem reunindo anualmente uma multiplicidade de participantes – estudantes universitários, professores, profissionais e usuários e familiares da RAPS – constituindo-se espaço de encontros e debates determinantes para a produção de novas sensibilidades em torno da loucura e cuidado. Seguramente, revela-se também como espaço formativo para todos que ali circulam. Compreende-se, assim, que a futura atuação profissional dos envolvidos no projeto, tendo em vista o processo formativo dos graduandos, será possivelmente marcada pela incorporação de um sentido ético-político, valorização do compromisso social na luta por garantias de direitos e a noção de que não se dissocia clínica e política.
Palavras-chave
Formação; Saúde Mental; Empoderamento; Extensão Universitária; Cenopoesia
Referências
ANDRADE, Ângela N.; MORATO, Henriette T. P.; SCHMIDT, Maria Luisa S. Pesquisa Interventiva em instituição: etnografia, cartografia e genealogia. In: RODRIGUES, Maria M. P., MENANDRO, Paulo R. M. (Org.) Lógicas metodológicas: trajetos de pesquisa em psicologia. Vitória: GM Gráfica Editora, 2007. p. 193-206.
LARROSA, Jorge. 20 Minutos na Fila: sobre experiência, relato e subjetividade em Imre Kertész. Bolema, Rio Claro (SP), v. 28, n. 49, p. 717-743, ago. 2002.
VASCONCELOS, Eduardo M. (org) Abordagens psicossociais, vol. II: reforma psiquiátrica e saúde mental na ótica da cultura e das lutas populares. São Paulo: Aderaldo e Rothschild, 2008.