Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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INTEGRAÇÃO ENSINO-SERVIÇO-COMUNIDADE: O QUE ELA TEM A NOS DIZER?
MICHELLY SANTOS DE ANDRADE

Última alteração: 2015-11-12

Resumo


APRESENTAÇÃO: Com o advento do SUS e das ofertas para fortalecê-lo por meio da formação dos profissionais de saúde de nível superior, abrem-se os serviços de saúde como cenários de práticas dos estudantes, preconizados pelas diretrizes curriculares nacionais, e se coloca em processo de ressignificação, as práticas de ensino-aprendizagem tanto de docentes quanto discentes no que tange à saúde coletiva. Bem como, provoca uma organização dos serviços e da comunidade para receber essa nova clientela. No âmbito da universidade o desafio é aproximar teoria da prática, educação do trabalho. Nesse movimento, a construção de redes colaborativas para se pensar a integração ensino-serviço-comunidade tornaram-se necessárias e urgentes. Esse trabalho visa descrever alguns processos de interação entre os atores desses espaços, vivenciados nos últimos três anos por um curso de Fonoaudiologia na cidade de João Pessoa, tendo como parceira a Rede Escola. DESENVOLVIMENTO: A Política da Rede Escola foi instituída desde 2006 e está sob a responsabilidade da Gerência de Educação em Saúde (GES). Com o objetivo de regulamentar a aprendizagem pelo trabalho no âmbito da rede municipal de saúde e estabelecer relações de cooperação pedagógica, incluindo atividades de parceria na área de ensino, atenção e pesquisa em saúde, realiza reuniões mensais do seu colegiado, para estabelecer parcerias na construção e efetivação da aprendizagem pelo trabalho na rede de serviços, favorecendo a melhoria da qualidade e humanização da atenção prestada e contribuindo para a formação dos futuros profissionais com perfil de que a população necessita. Na prática, trata-se de uma tentativa de exercitar o conceito de quadrilátero da formação para a área da saúde: ensino, gestão, atenção e controle social. E nessa perspectiva, a promoção de uma gestão da educação na saúde como parte integrante da gestão dos serviços de saúde, tendo na educação permanente, um dispositivo importante para se refletir sobre as práticas de saúde relacionadas à produção do cuidado. Assim, como forma de amenizar algum desses impasses, mesmo havendo um fluxo determinado pela GES, procuramos primeiro o serviço, apresentamos a proposta de nossa atuação no serviço, minimamente para o gerente da USF, e sempre que possível com pelo menos um representante de cada equipe (a maioria das USF em nossa experiência são integradas, com no mínimo 2 e no máximo 4 equipes). Apenas após esse momento é que nos dirigimos ao distrito sanitário para atender as demais etapas de pactuação dos estágios e/ou visitas técnicas. Durante as atividades de reconhecimento do território, visitas domiciliares, exposição aos serviços ofertados na USF, tentativas de dialogar com ações dos demais cursos, no sentido de atuar de forma interdisciplinar e garantir um cuidado integral, identificação de cuidados necessários, procuramos dialogar com usuários, trabalhadores e gestores, de maneira a reavaliar quaisquer pontos que se façam necessários. Na etapa de planejamento e desenvolvimentos das ações individuais e coletivas em saúde, antes de sua execução, estudamos juntos com a equipe o que pensamos e a convocamos para participar desse planejamento, dando sugestões, avaliando as propostas. Até então, também não conseguimos contar com a representação dos usuários nesse momento, a não ser ouvindo-os sobre os problemas identificados na comunidade, através da estimativa rápida, como tentativa de dar voz aos mesmos. Mas é preciso ampliar essa representação. IMPACTOS: É incontestável o avanço nas relações de cooperação pedagógica entre os entes constituintes da Rede Escola. A solidez das pactuações com os cenários de prática, bem como a promoção de espaços para dialogar a formação de profissionais da saúde nos serviços de saúde, tais como fórum e oficina, eventos realizados anualmente pela política supracitada, possibilitam a educação permanente tanto de trabalhadores dos serviços, docentes, discentes, gestão e um canal de comunicação com os usuários. Todavia, o ente usuário ainda não se faz representado devidamente nem nas ações nem no colegiado de educação e saúde (CORES), o que no cotidiano, se materializa com o estranhamento de estudantes circulando nos territórios, nos domicílios, nas USF ou em quaisquer outros serviços. A comunidade e mesmo alguns trabalhadores parecem ainda não compreender que a gestão da saúde e a produção de cuidado compartilhado só podem ser efetivas, se construídas nos espaços e com as pessoas envolvidas nesse processo. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A experiência tem se mostrado positiva, sendo bem aceita por todos os gerentes e equipes de saúde, nas quais realizamos esse movimento. Que incluíram ações voltadas para a equipe na perspectiva da educação permanente em saúde. Tal resultado foi selecionado como uma das práticas exitosas a ser compartilhada na oficina da Rede Escola em 2013. A partir desse compartilhamento, ideias foram discutidas no sentido de aperfeiçoar o fluxo de informação para pactuação dos estágios e visitas técnicas nos serviços de saúde da rede municipal. Todavia, não significa que chegamos a um ponto pacífico. Não podemos esquecer a alta rotatividade dos trabalhadores (atenção/gestão), devido à fragilidade ainda persistente das contratações na saúde, e mesmo de docentes/discentes e usuários nessa relação. É algo que precisa ser continuamente trabalhado e esse tem sido um dos motivos dos encontros mensais do Colegiado de Educação em Saúde da GES. Os esforços para integrar ensino-serviço-comunidade têm mostrado alcances, porém ainda limitados quando não conseguem contemplar todos os atores envolvidos com a gestão do cuidado em saúde. Pois todo mundo faz gestão dos cuidados de si e dos seus. O controle social ainda não tem ocupado todos os espaços devidos e seus representantes ainda são poucos e não parecem se atentar para a importância de uma formação para a saúde, na qual os futuros profissionais possam desde a sua formação entrar em contato com as necessidades reais da comunidade e do mundo do trabalho. Essa é uma questão que precisa urgentemente ser revista tanto nos espaços instituídos para celebrar essa interação entre ensino-serviço/gestão-comunidade, como nos conselhos (locais/municipais) de saúde. Esforços precisam urgentemente ser dirigidos nessa direção. Essa fala precisa ecoar. Ressoar. Provocar ressignificação da gestão da educação na saúde, e nela, a gestão dos serviços de saúde. Mas, sem uma de suas pontas, o controle social, o quadrilátero da formação para a área da saúde encontrará dificuldades para se efetivar. Nessa perspectiva, a educação permanente em saúde deve ser uma estratégia adotada às práticas de gestão dos serviços de saúde e também às práticas docentes. De maneira a construirmos uma “educação responsável por processos interativos e de ação na realidade para operar mudanças (desejo de futuro), mobilizar caminhos (negociar e pactuar processos), convocar protagonismos (pedagogia in acto) e detectar a paisagem interativa e móvel de indivíduos, coletivos e instituições, como cenário de conhecimentos e invenções (cartografia permanente)”.

Palavras-chave


INTEGRAÇÃO ENSINO, INTEGRAÇÃO SERVIÇO; CONTROLE SOCIAL; GESTÃO; EDUCAÇÃO E SAÚDE

Referências


CECCIM, R.B.; FEUERWERKER, L.C.M. O Quadrilátero da Formação para a Área da Saúde: Ensino, Gestão, Atenção e Controle Social. PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 14(1):41- 65, 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/physis/v14n1/v14n1a04.pdf Acesso em: 15/10/15.

 

 

JOÃO PESSOA. Secretaria Municipal de Saúde. Rede Escola. Disponível em: http://www.joaopessoa.pb.gov.br/secretarias/saude/ges-rede-escola/ Acesso em: 15/10/15.