Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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VER-SUS NA RAPS E A (DES)CONSTRUÇÃO DA LOUCURA: EXPERIÊNCIAS, DIÁLOGOS E DESAFIOS NA SAÚDE MENTAL
Camila Tenório Ferreira, Alberis Luís dos Santos

Última alteração: 2015-10-28

Resumo


APRESENTAÇÃO: A oitava edição das Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde (VER-SUS), construída pela comissão organizadora da Região Metropolitana do Recife (RMR), inovou a proposta da vivência, que trouxe o desafio de potencializar e fazer ser compreendida a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) no estado de Pernambuco (PE). Com o lema VER-SUS na RAPS: “Fazendo Ciranda na Roda da Loucura”, a edição de verão do VER-SUS PE RMR 2015 corroborou com os princípios e objetivos da portaria n° 3.088/2011, que institui e compreende a rede de atendimento para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e enfretamento ao álcool e outras drogas, refletindo sob a égide da lei n° 10.216/2001 e os desafios na saúde mental em PE. Esta iniciativa surgiu como fruto de avaliações das vivências anteriores, onde se percebeu que, diante do impacto gerado pela vivência, os momentos de discussão destinados à Saúde Mental se mostravam insuficientes para contemplar toda a necessidade de debate e aprofundamento acerca do tema, além da necessidade de explicitar as particularidades da Reforma Psiquiátrica dentro da Reforma Sanitária. Sendo assim, faz-se importante pontuar que a proposta não se limitou a vivências nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), mas em toda a RAPS. Objetivou-se relatar a experiência de construção do VER-SUS na RAPS: “Fazendo Ciranda na Roda da Loucura”. Desenvolvimento Sabe-se o quanto ainda são escassas as experiências de vivências e estágios na RAPS durante os processos formativos. A partir disso, buscou-se criar uma proposta de VER-SUS em que seja permitido aos participantes conhecer a RAPS, reconhecê-la como um espaço integrante do SUS e referenciá-la como um novo espaço de aprendizagem. No período de construção da vivência, aconteceram formações políticas com a comissão organizadora envolvendo o tema da RAPS, com a proposta de preparar o grupo para conduzir a vivência junto aos demais participantes. As formações abordaram a história da loucura, da Reforma Psiquiátrica, da Luta Antimanicomial e da RAPS, assim como aspectos históricos centrais para se compreender a nova abordagem proposta pela comissão organizadora do VER-SUS PE RMR. O VER-SUS na RAPS: “Fazendo Ciranda na Roda da Loucura” contou com a participação de 30 participantes, dentre os quais: 15 estudantes do estado de Pernambuco, 05 estudantes de outros três estados de três regiões distintas (Rio Grande do Norte, Mato Grosso e Pará), 05 companheiros do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e 05 facilitadores. A vivência, que ocorreu em um processo de imersão teórica, prática e vivencial durante 13 dias, foi dividida metodologicamente em três módulos: como funciona a sociedade; rede de atenção psicossocial e papel do sujeito na história. No módulo de rede de atenção psicossocial foram discutidos os seguintes eixos temáticos: história da loucura e reforma psiquiátrica; atenção básica e matriciamento; atenção psicossocial especializada; saúde pública x saúde privada; reabilitação psicossocial e promoção da saúde. O mapeamento dos dispositivos de saúde em que foram realizadas as vivências partiu da necessidade de ampliar a percepção dos participantes no entendimento e funcionamento de rede, sendo realizadas vivências em três municípios pernambucanos: Cabo de Santo Agostinho, Camaragibe e Recife. Foram realizadas vivências nos hospitais Ulisses Pernambucano e Geral Otávio de Freitas, no Serviço de Emergência Psiquiátrica Passos I, em leitos integrais do Hospital Evangélico, consultório na rua, em Núcleos de Apoio à Saúde da Família, em Estratégias de Saúde da Família, em CAPS álcool e outras drogas, CAPS infantil, CAPS II e CAPS III. Destacamos o envolvimento do Núcleo Estadual de Luta Antimanicomial Libertando Subjetividades, que teve papel fundamental durante o desenvolvimento desta edição, desde o surgimento da ideia, passando pelos primeiros planejamentos e processo de construção e durante toda a vivência. A presença de militantes do Núcleo na construção do VER-SUS na RAPS, com o conhecimento crítico da rede de serviços, seus funcionamentos e da Reforma Psiquiátrica foram de grande importância para repensar os eixos temáticos do metodológico e adaptá-los nesta edição inovadora do projeto. RESULTADOS: Divididos em grupos de vivência, os estudantes iniciavam o dia realizando as vivências nos dispositivos de baixa à alta complexidade da Rede de Atenção Psicossocial e no retorno ao alojamento, utilizando o método freireano de produção do conhecimento, realizavam leituras, estudos de caso, oficinas teatrais e atividades lúdicas, discussões em grupo, assistiam documentários relacionados às temáticas, problematizando o que foi vivenciado. Sendo assim, era possível realizar discussões aprofundadas sobre os dispositivos de saúde visitados, enxergando-os dentro da rede, problematizando seu papel na política e entendendo o que temos e o que queremos quando se trata do cuidado em Saúde Mental. Durante a vivência, observamos uma referida necessidade entre os participantes em se organizar politicamente no campo de defesa dos direitos sociais, da Reforma Sanitária e Psiquiátrica, do movimento estudantil, entre outros. Destacando a Luta Antimanicomial como movimento estratégico para desmistificação da loucura, combate à opressão e segregação às pessoas em sofrimento mental, novos militantes versusianos foram surgindo no decorrer das vivências, legitimando, assim, o desafio do VER-SUS na RAPS em promover um debate horizontalizado na perspectiva de uma educação popular em saúde, da inclusão social, repensando a relação sujeito-rede-direitos para fortalecimento do movimento antimanicomial congruente com os princípios de Universalidade, Equidade e Integralidade do SUS. Após a vivência grande partes dos egressos do projeto se aproximaram de coletivos, núcleos, associações e diretórios acadêmicos que tem como bandeira principal a luta por um SUS público, equânime e de qualidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Constatou-se que o VER-SUS na RAPS foi um importante espaço para formação crítica acerca do SUS, tornando-se um diferencial na trajetória acadêmica dos egressos do projeto, que serão os futuros trabalhadores das Redes de Atenção em Saúde. Os resultados observados no período pós VER-SUS possibilitaram afirmar a importância do VER-SUS na RAPS para o engajamento dos participantes egressos na construção de novas propostas equânimes junto aos movimentos estudantis, sanitários, psiquiátricos e conselhos municipais, revelando a positividade das vivências que somam forças nas redes de serviços em saúde e de intersetorialidade. Diante dos fatos experenciados com a articulação do diálogo sobre a RAPS, evidencia-se a importância da temática da Saúde Mental na dimensão problematizadora do VER-SUS, com efeito significativo nas atividades campais, reflexivas e pedagógicas, consubstanciando nas redes de trabalho pós-vivencia. Portanto, trabalhar na lógica da Rede de Atenção Psicossocial como meio de despatologização e desinstitucionalização, atribuindo valor aos serviços substitutivos, imprimindo sentido à vida, desmitificando o que se entende sobre loucura na sociedade, tornou o VER-SUS na RAPS um potente instrumento capaz fortalecer o movimento de luta contra os retrocessos psiquiátricos e isolamento de subjetividades. Nesse sentindo, a luta em prol da humanização psiquiátrica exprimiu o compromisso do VER-SUS na RAPS em dialogar com os diversos espaços culturais, de transformação dos agentes sociais, de forma a conscientizar sobre o processo de saúde-doença na desconstrução do paradigma da loucura.

Palavras-chave


VER-SUS; RAPS; Saúde Mental