Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A experiência do GRUDO como Educação Permanente em Saúde na comunidade Portinho/Parnaíba-PI
Antonio Ciro Neves do Nascimento, Paula Evangelista Ferreira, Nágila de Azevedo Marques

Última alteração: 2015-10-27

Resumo


A Educação Permanente em Saúde como centro privilegiado da aprendizagem, através da transformação no pensamento da educação na saúde, tem como proposta a busca do processo de trabalho ressignificado. Nesse sentido surge o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde – PET Saúde, que consiste em um dispositivo de educação permanente em saúde de reorientação da formação profissional para as necessidades do Sistema Único de Saúde - SUS buscando articular ensino, pesquisa e extensão financiada pelo Ministério da Saúde, através das Secretarias de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. O Programa de Educação pelo Trabalho visa propiciar a articulação ensino-serviço-comunidade pelo aprendizado a partir dos fazer dos serviços do SUS, construindo conhecimentos para transformar a realidade. No caso da experiência de Parnaíba o PET Saúde – Rede de atenção trabalha a modelagem de Redes de Atenção (RAS) para o fortalecimento da mesma, que propicia a articulação ensino-serviço-comunidade pelo aprendizado a partir do fazer nos serviços do SUS, construindo conhecimentos para transformar a realidade. Para atingir tais perspectivas as ferramentas de aproximação e conhecimento da realidade devem dar conta de dimensões ampliadas de saúde e de estratégias de construção de vínculos e afetos capazes de firmar propostas coletivas e conjuntas que consigam superar o projeto de enfraquecimento e precarização do SUS – sistema único de saúde e seus trabalhadores. A perspectiva de trabalho do PET se propõe nova em aspectos metodológicos, mas acima de tudo vivenciais, ricos de possibilidades no cotidiano dos serviços, espaço privilegiado de conteúdo e fazeres do fazer saúde. A cartilha do projeto traz como objeto de atuação do PET Saúde - Redes de Atenção consiste em desenvolver o processo de modelagem Rede Cegonha e da Rede de Atenção Psicossocial no município de Parnaíba. Esta proposta visa qualificar estudantes e profissionais para o SUS, de forma a contribuir para o desenvolvimento de linhas de cuidado na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e Rede Cegonha. O Ministério da Saúde através da Portaria nº 3088, de 23 de dezembro de 2011, instituiu a Rede de Atenção Psicossocial - RAPS, no âmbito do SUS para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, ampliando e promovendo o acesso da população, de forma a garantir a articulação e integração dos pontos de atenção das redes de saúde no território, qualificando o cuidado por meio do acolhimento, do acompanhamento contínuo e da atenção às urgências. A RAPS é uma forma de organização da atenção à saúde, considerando a importância da criação de serviços substitutivos ao modelo hegemônico, a organização de um processo de trabalho com enfoque no território e abordagem na família. Nesse sentido, o Programa de Educação pelo Trabalho (PET- Saúde) Redes de Atenção traz a proposta de trabalho junto à Rede de Atenção da cidade de Parnaíba, procurando compreender a política de saúde mental e a organização da RAPS no município. Aqui resgato as atividades desenvolvidas na comunidade Portinho, zona rural Parnaíba/PI, em especial o Grupo de Respeito e União Dedicado ao Outro (GRUDO) - grupo terapêutico. Durante o período de territorialização, com visitas pela comunidade, constata-se que as principais demandas que chegavam à equipe de petianos eram pessoas com sofrimentos psíquicos leves e moderados e ainda pessoas que fazem consumo de álcool e outras drogas. A primeira demanda - transtornos mentais comuns (TMC) - constituem sintomatologias que podem ter manifestações somáticas, sendo questão de saúde pública, são os casos de sintomas ansiosos, depressivos que, mesmo não satisfazendo todos os critérios diagnósticos de doença mental, apresentam uma elevada prevalência na população, entretanto, apenas uma pequena parte deles é identificada e tratada, aumentando o sofrimento individual e com implicações socioeconômicas significativas. Na segunda demanda, observou-se que dentre os transtornos detectados, há predominância de transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas, onde produzem impacto na vida do indivíduo e dos familiares envolvidos. A principal queixa vem de usuários que recorrem às drogas para tentar resolver dificuldades afetivas, familiares e sociais. Desta forma, o uso continuado altera o equilíbrio do organismo, adaptando-se a presença da substância química com tendência a aumentar e manter o efeito. A partir desse ponto as dificuldades como crises familiares, financeiras, sociais exacerba, favorecendo sérios problemas de saúde - físico e psíquico – tendo relato de suicídio. Assim, além das visitas domiciliares e atendimentos pontuais, surge a ideia do grupo terapêutico como espaço de escuta entre pares, permitindo um conhecimento do outro e a si mesmo. O Grupo de Respeito e União Dedicado ao Outro (GRUDO) foi a estratégia de possibilitar o enfrentamento das dificuldades e potencializar indivíduos empoderados com as demandas de sua comunidade. Os encontros do GRUDO aconteceram uma vez ao mês na comunidade Portinho, revezando entre a igreja católica e a escola municipal da comunidade e seu objetivo é fomentar a participação social da comunidade, apoio comunitário, dar vazão as principais demandas em saúde mental e o desenvolvimento da autonomia desta comunidade. Desenvolveu-se a partir de temáticas que tratassem da realidade da comunidade e seus interesses, sempre os consultando e servindo como fontes disparadoras para a discussão. Configurava-se como um grupo aberto à comunidade que desejasse participar, com grande participação popular, em média 40 pessoas, desde crianças a idosos. É nesse sentido que os mecanismos como a Atenção Básica, a RAPS e programas como o PET/Saúde – Redes de atenção se justificam pela necessidade em oferecer serviços de saúde mental integrados, articulados e efetivos nos diferentes pontos de atenção, ampliando e destinando recursos também para as pessoas com demandas decorrentes do consumo de álcool, crack e outras drogas, sendo reforçadas as diretrizes e princípios que privilegiam a ética, o respeito aos direitos de cidadania, o acesso e a qualificação das ofertas, já anteriormente estabelecidos pela Política de Saúde Mental e pela Lei 10216. As atividades PET/Saúde-Redes de atenção é o começo para isso, contudo com o término do período do programa e concomitante das atividades dos acadêmicos e preceptor, considera-se importante a Rede de Atenção Psicossocial abraçar essa ideia e possibilitar juntos a atenção básica, Centro de Atenção Psicossocial II (CAPS II) e Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas III (CAPS-AD III), um mecanismo que possibilite a comunidade está sempre em contato com as demandas de saúde mental, seja ela os TMC´s ou uso abusivo de álcool e outras drogas Este texto procura refletir como tenho buscado princípio da Educação Permanente em Saúde através das atividades do PET/ Redes de atenção, contribuindo para a melhor articulação da RAPS no território, para o acompanhamento de itinerários terapêuticos de usuários, e para potencializar o trabalho em equipe e a atuação em rede para o SUS e ainda ao início do enfretamento a comunidade sobre os seus agravos, pois percebe-se que a comunidade tem se empoderado sobre suas demandas. 

Palavras-chave


Educação Permanente em Saúde; Programa de Educação para o Trabalho; Grupo Terapêutico;

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