Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A educação permanente sob a ótica de enfermeiros da saúde da família: contribuições e expectativas para o trabalho em saúde
Vanessa de Souza Amaral, Maria Goreth Lourenço Caetano, Ariana Colombari de Godoi Floresta, Marianna Karolina Pimenta Cota, Milleny Tosatti Aleixo, Lucas Henrique da Silva Macedo, Andréia Alves Reis, Deise Moura de Oliveira

Última alteração: 2015-10-28

Resumo


INTRODUÇÃO: As diretrizes curriculares para a formação dos profissionais de saúde, incluindo as da Enfermagem, apontam a educação permanente como requisito importante para o exercício da prática profissional comprometida com as reais necessidades de saúde da população, possibilitando ao enfermeiro o desenvolvimento do processo de mudança das práticas, com vistas à qualificação profissional. O desafio da educação permanente é ainda maior no contexto da Estratégia Saúde da Família, uma vez que a reorientação do modelo assistencial prediz uma implicação dos profissionais de saúde com os micro-processos do trabalho em saúde, configurando a educação permanente como uma ferramenta mediadora das mudanças vislumbradas na prática. Diversos são os estudos que versam sobre a necessidade de educação permanente para os profissionais de saúde, em especial para aqueles inscritos no contexto da saúde da família. No entanto, percebe-se uma lacuna na literatura, no sentido de compreender as práticas e expectativas dos profissionais – entre eles o enfermeiro – com relação ao seu próprio processo de formação em serviço. Desse modo, as seguintes questões nortearam a pesquisa: como o enfermeiro considera que a educação permanente tem contribuído para o seu trabalho na Estratégia Saúde da Família? Quais as expectativas que o enfermeiro vislumbra para a sua prática a partir da Educação Permanente em saúde? Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivos conhecer a contribuição que a educação permanente confere ao cotidiano profissional dos enfermeiros da saúde da família e explicitar as perspectivas vislumbradas por eles a partir da incorporação da educação permanente neste contexto de cuidado à saúde. MÉTODO: o estudo ora apresentado constitui parte de uma investigação mais ampla, que analisou também os significados atribuídos à Educação Permanente por parte de enfermeiros da saúde da família. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, que trabalha o universo de crenças, valores e atitudes dos sujeitos inseridos em uma dada realidade social, onde se inscrevem os fenômenos humanos. O estudo teve como cenário a Atenção Primária à Saúde de um município da Zona da Mata, Minas Gerais. Este conta atualmente com 18 equipes de saúde da família, que atuam em 15 unidades de Saúde da Família. A cidade conta com um projeto de educação permanente na Atenção Primária à Saúde, coordenado por docentes de enfermagem de uma universidade publica, do qual participam os depoentes desta pesquisa.  A coleta de dados foi realizada no período de março a maio de 2015, por meio de um roteiro de entrevista com questões abertas, com perguntas discursivas que permitiam ao enfermeiro trazer o contexto de suas experiências e expectativas relacionadas à educação permanente na Estratégia Saúde da Família. Inicialmente foram realizadas atentas e criteriosas leituras de cada depoimento na íntegra, com vistas à identificação e apreensão inicial do sentido global do contexto de experiências e expectativas do enfermeiro da saúde da família, no tocante à educação permanente. Num segundo momento foi realizada a releitura das transcrições, com o objetivo de identificar locuções de efeito que expressem aspectos significativos da compreensão do vivido, inscrito nos depoimentos dos sujeitos. Os dados foram analisados por meio da análise de conteúdo de Bardin, composta pelas etapas de pré-análise, exploração do material, tratamento dos resultados obtidos e interpretação. De acordo com os objetivos do estudo foram definidos os trechos significativos para a posterior elaboração das categorias, constructo que revelou a convergência de sentidos emergentes a partir dos depoimentos dos participantes. A interpretação dos resultados se deu pautada no conteúdo subjacente manifestado na fala dos depoentes e à luz da literatura pertinente à temática. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Viçosa, conforme o Parecer nº 909.717, de 09 de dezembro de 2014. RESULTADOS: O recorte do estudo ora apresentado permitiu a emersão de duas categorias temáticas: “A importância atribuída à Educação Permanente”  e “Vislumbrando desdobramentos por meio da educação permanente.”  Os enfermeiros entrevistados esboçaram reflexos já percebidos em suas práticas, em função do envolvimento no processo de Educação Permanente. Estes se referem tanto aos produzidos para si quanto para a equipe/cotidiano de trabalho. Quanto aos aspectos relacionados a si, ficou evidente que a educação permanente é percebida pelos participantes como uma ferramenta que lhes capacita para a prática na saúde da família, na medida em que atende à necessidade de reciclagem contínua do profissional, evidenciando-se uma aproximação conceitual com a proposta da educação continuada. Já com relação à equipe afirmam que a educação permanente auxilia na identificação e enfrentamento das situações cotidianas do trabalho em saúde, ajudando-os a organizar melhor o processo de trabalho. Foi também evidenciado pelos depoentes que a educação permanente lhes permite a experiência da troca de experiências com outros profissionais da equipe, além de viabilizar desdobramentos para a melhoria da assistência aos usuários do sistema de saúde. Esta qualificação do cuidado, presente no discurso de alguns enfermeiros, remete ao fato de a educação permanente possibilitar a tríade ação-reflexão-ação, fazendo com que repensem suas práticas e, a partir disso,  retornem para elas modificados. Há que se ressaltar que ao colocarem na pauta o que vislumbram com esta prática a maioria dos enfermeiros utiliza como perspectiva de análise o Projeto de Educação Permanente que participam na universidade pública do município onde o estudo fora realizado. Neste sentido, pontuam expectativas que ampliem o oferecimento de oportunidades para se qualificarem para o contexto em que atuam. Isso denota que tal processo educativo ainda persiste no imaginário como uma prática externa ao processo de trabalho em saúde, mediada por instituições que apóiam – por meio de cursos, oficinas, entre outros – os trabalhadores de saúde a experienciarem os desafios inscritos no cotidiano das práticas de saúde. CONSIDERAÇÕES FINAIS: partindo-se do pressuposto de que a educação permanente não depende de espaço institucional, mas sim do próprio espaço do trabalho como um cenário de problematização e transformação das práticas de saúde, apreende-se que ainda há que se avançar em direção ao seu propósito, posto enquanto política no contexto do Sistema Único de Saúde. Por outro lado, o estudo também mostrou que a educação permanente, enquanto processo educativo, tem despertado os profissionais de saúde – aqui demarcando o enfermeiro –a repensar suas ações cotidianas e a propor mudanças que culminem na qualificação do profissional e da assistência ao usuário. Os achados remetem a necessidade de que a lógica da educação permanente seja efetivada enquanto política inscrita no processo de trabalho em saúde, no âmbito da Atenção Primária. Promove ainda um despertar para os enfermeiros que atuam no ensino e no serviço, quanto à importância de investir na educação permanente no processo de formação e nas práticas de saúde. Para os gestores, espera-se que este estudo sinalize aspectos que merecem atenção e investimento de esforços no incentivo e implementação da educação permanente, de modo a responder as necessidades de qualificação das práticas de saúde no contexto da saúde da família.

Palavras-chave


Enfermagem; Educação Continuada; Saúde da Família