Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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VER-SUS “NA ROTA DO SERTÃO DO PAJEÚ” PERNAMBUCO: A EXPERIÊNCIA DO PIONEIRISMO DA REGIONALIZAÇÃO
Camila Tenório Ferreira, Daianny de Paula Santos

Última alteração: 2015-10-27

Resumo


APRESENTAÇÃO: Considerando a saúde como direito de todos e dever do Estado, os sujeitos que acreditam nesta veracidade devem lutar para uma efetivação de um Sistema Único de saúde (SUS) acessível para todos. Observa-se, porém, que na maioria das formações acadêmicas existem lacunas no que diz respeito à formação de pessoas para o setor saúde. Ao longo do tempo têm sido desenvolvidas estratégias e políticas voltadas para a adequação da formação dos trabalhadores de saúde às necessidades da população e ao fortalecimento do SUS. Neste contexto, as Vivências e Estágios na Realidade do SUS (VER-SUS) vêm se revelando como estratégia de educação permanente para a formação de trabalhadores para o SUS, contribuindo para a composição de sujeitos capazes de promover transformações. Na Região Metropolitana do Recife - Pernambuco, o projeto VER-SUS tem sido construído coletivamente por estudantes, professores, gestores, trabalhadores da assistência, representantes de movimentos sociais e vem cumprindo, nos últimos nos, um papel de sensibilização de corações e mentes para a luta por um SUS possível e uma sociedade igualitária. De 2012 até o momento, foram realizadas oito versões do VER-SUS, sendo registradas cerca de 750 participações entre estudantes, facilitadores e viventes. Em todo o Estado, municípios de diversas Regionais já pactuaram com o projeto para receber as vivências. Destacamos a experiência do “VER-SUS Sertão do Pajeú” que ocorreu entre os dias 13 a 21 de janeiro de 2015, no Assentamento de Reforma Agrária Virgulino Ferreira, que contou com cerca de 70 participantes, vindos de sete estados da região nordeste. Deste modo, objetivou-se relatar a experiência do VER-SUS Sertão do Pajéu, da construção até a pós-vivência. DESENVOLVIMENTO: O VER-SUS Sertão do Pajeú teve como proposta pioneira vivenciar a regionalização da saúde nas articulações entre os serviços de saúde pertencentes à XI Regional de Saúde (XI GERES) de Pernambuco, com o intuito de interiorizar cada vez mais estágios de vivências na realidade do SUS. O processo de construção e execução da vivência consistiu nas seguintes etapas: (1) Organização logística; (2) Articulação intersetorial; (3) Organização pedagógica da vivência; (4) Realização da vivência; (5) Avaliação geral; (6) Prestação de contas e relatório final; (7) Certificação; (8) Pós-VER-SUS. Para tornar operacional estas etapas e propiciar organicidade dos membros da comissão organizadora (CO), o grupo se distribuiu nas seguintes comissões: comunicação/divulgação; seleção de viventes/facilitadores; infraestrutura e projeto; formações político-pedagógica e secretaria operativa. Em relação às articulações intersetoriais realizadas, destaca-se a articulação com os companheiros do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra da Regional do Sertão do Pajeú. Tal fato possibilitou que o alojamento da vivência fosse a um assentamento de reforma agrária, além da participação ativa dos companheiros na vivência na condição de viventes, possibilitando a reflexão sobre a questão social e a saúde no campo e a aproximação dos participantes com os ideais de luta e organização dos movimentos sociais. O VER-SUS Sertão do Pajeú se deu num processo de imersão teórica, prática e vivencial dentro do sistema de saúde, de comunidades de populações específicas e de resistência. A metodologia dos 13 dias de imersão foi organizada em três módulos: como funciona a sociedade; redes de atenção à saúde e papel do sujeito na história. Por possuir uma metodologia singular, a vivência foi estruturada a partir dos fundamentos pedagógicos de Paulo Freire, que propõem um processo educativo compartilhado voltado para “o despertar” da consciência. Partindo da premissa do comprometimento do VER-SUS Sertão do Pajeú com a regionalização da saúde, as vivências ocorreram em municípios pertencentes à XI GERES: Calumbi, Carnaubeira da Penha, Flores, São José do Belmonte, Serra Talhada e Triunfo. Neste processo os participantes foram oportunizados a vivenciar o funcionamento dos serviços e atendimentos à saúde da população, observando as disparidades da rede de atenção regional compartilhada entre os municípios. IMPACTOS: Em relação à aproximação da gestão da XI GERES com o projeto, tal fato possibilitou uma reflexão acerca do que existe enquanto política pública e as questões que precisam ser aprimoradas na rede municipal e regional de saúde. Sem dúvida, esse espaço de diálogo e troca de visões sobre a saúde já se configura como um impacto positivo, uma vez que permite aos gestores refletirem sobre a condição de saúde dos municípios e ouvir de outros atores as indagações e sugestões sempre suscitadas pelas vivências e debates que ocorrem no transcorrer do VER-SUS, o que poderá contribuir direta ou indiretamente na tomada de decisões no tocante à saúde. Coloca-se como desafio para a potencialização do projeto VER-SUS em Pernambuco o envolvimento das demais GERES, no sentido de garantir ampla interiorização e regionalização, além de contrapartida financeira; a manutenção da autonomia dos grupos estudantis na condução da vivência; a construção dê continuidade às discussões iniciadas durante a experiência, bem como atenda às demandas de formação da população do campo junto aos movimentos sociais populares. As vivências nos serviços de saúde e nas comunidades de populações específicas e de resistência, aliadas à fundamentação teórica utilizada trouxeram novos elementos para entender a realidade do SUS, bem como a apropriação de temas relevantes à formação acadêmica diante da atual conjuntura. O contato com essas informações deu aos estudantes a oportunidade de compartilhar de um espaço ímpar de aprendizado, difusão de saberes e formação política, possibilitando-os uma reflexão crítica acerca da realidade vivenciada. Isto resultou em um saldo positivo, exposto na avaliação final do projeto, onde muitos externaram o desejo de atuar como agente multiplicador da experiência seja na academia ou em demais espaços de troca de saberes e militância. Além disso, a experiência gerou impactos que refletiram sobre a comunidade do assentamento, que acompanhou toda a vivência, participando de espaços como o de compartilhamento sobre a luta pelo direito à terra, direito à saúde e sua relação com a sociedade e o objetivo de projetos como o VER-SUS. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Em suma, apesar de ser difícil transcrever no papel as sensações e reflexões geradas através do VER-SUS Sertão do Pajeú, a partir deste relato é possível perceber que o projeto foi capaz de despertar o contato com o novo, a sensação de incômodo e o desejo de ação dos estudantes em seu processo de formação acadêmica. A sua mensagem de consciência política, a troca de experiência e vivências acabou por produzir estímulos e transformações da concepção de sociedade e do papel social de cada indivíduo para além da formação, revelando o potencial da metodologia participativa, não-bancária, que  faz com que os estudantes passem a se reconhecer enquanto atores sociais e agentes políticos capazes de promover transformações na sociedade onde estão inseridos.

Palavras-chave


VER-SUS; Sistema Único de Saúde; Regionalização