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AURORA MATERNA: A PARTILHA DE EXPERIÊNCIAS E SABERES POR MEIO DA RODA DE CONVERSA
Última alteração: 2015-11-11
Resumo
APRESENTAÇÃO: Vivida de forma única e singular, tanto pela gestante quanto pelos amigos e familiares que a cercam, a gestação é uma fase que apresenta a necessidade de diversos ajustes organizacionais nos âmbitos da vida diária para o enfrentamento das mudanças decorrentes da gravidez. Nesse processo, determinados fatores podem influenciar na evolução da gestação como a história de vida pregressa, desejo ou não da gravidez, contexto social, emocional, assistencial e econômico, como também características da gestação a que cada mulher está exposta (VIDO, 2006). Não só no período gestacional, mas também no puerpério, período que sucede o parto, as mudanças envolvem todo o contexto da mulher, seja profissional, pessoal ou dos papéis da vivência, com repercussões nos aspectos biológicos, fisiológicos e psicológicos (PEDROSA, 2013). Desta forma, o ciclo gravídico-puerperal se trata de um momento onde é comum o surgimento de dúvidas sobre diversas questões que envolvem o corpo da mulher, sua saúde e a do bebê (PEGORARO et. al., 2010). A proposta da roda de conversa vem como um meio de esclarecimento destas dúvidas, bem como forma de preparação para as mudanças consequentes do período gravídico-puerperal. Ela propõe um estímulo a construção da autonomia dos sujeitos por meio da problematização, da troca de informações e da reflexão para a ação, sendo uma forma de construir espaços de partilha, confronto de ideias e entendimento baseado na liberdade de diálogo entre os participantes, se afirmando como uma alternativa importante para ampliar o grau de corresponsabilidade das ações na produção de saúde. Na roda, todos os participantes são desafiados a interagiram no processo, tendo o direito de usar a fala para expressar suas ideias e emitir opiniões (NUNES; BRANDÃO; VILARINHO, 2015). Portanto, esta ação educativa apresenta relevância por proporcionar interação social mediante a contribuição e a criatividade de cada um dos envolvidos na experiência. A diversidade de saberes que a roda proporciona é uma riqueza compartilhada, todos detêm experiências diferentes e são parceiros no esforço de aprender e construir conhecimento. Durante as rodas ocorre a discussão dos temas ligados ao ciclo gravídico-puerperal e a cada encontro as pessoas contam um pouco de sua história. OBJETIVOS: Oferecer, em espaço informal, um momento de partilha e troca de experiências entre o grupo, difundindo discussão sobre os temas abordados, criando um contexto de diálogo e promovendo reflexão. Bem como, ampliar os vínculos da gestante/puérpera com acompanhantes e profissionais. E ainda, articular técnicas/estratégias com uma postura pedagógica crítico-transformadora, que viabilizaria a dinâmica do grupo, oferecendo as condições para a construção de uma consciência de grupo indispensável à construção de novas posturas diante da vida. MÉTODO DO ESTUDO: Trata-se de um relato de experiência e reflexão teórica, de Residentes de Enfermagem Obstétrica, baseado em estudo bibliográfico e em análise da vivência em campo de prática, acerca da aplicação da roda de conversa, denominada Aurora Materna, entre gestantes, puérperas e acompanhantes como proporcionador de experiências e saberes. O início das atividades ocorreu na primeira semana de setembro de 2015, em um hospital escola da cidade de Campo – Grande. O projeto consiste em encontros semanais efetuados nas quartas-feiras, devido a presença das gestantes portadoras de Diabetes Gestacional, que realizam acompanhamento na instituição. O grupo apresenta em média 20 participantes e o tema inicial da roda de conversa tratou da importância da presença do acompanhante em todo o ciclo gravídico-puerperal, sendo que os encontros subsequentes tiveram seus temas de acordo com a solicitação dos participantes. Ao todo foram realizados 7 encontros, tendo entre os temas abordados: analgesia de parto, técnicas não farmacológicas para alívio de dor, posições de parto, DST, utensílios necessários para mala da maternidade, cuidados com o RN e primeiros socorros para RN. No grupo foram demonstradas e aplicadas técnicas referentes ao assunto da roda, que foram reproduzidas pelos participantes, como por exemplo, as posições de parto, os exercícios para alívio da dor e as manobras para desengasgar RN. Esta ação visa não somente a promoção de conhecimento como a aproximação entre equipe e os usuários do serviço, através do esclarecimento de dúvidas e transmissão de informações. RESULTADOS: O espaço livre e informal da roda de conversa permite que, a partir dos temas abordados, os participantes sintam-se confortáveis para tirar dúvidas, quebrar mitos e tabus a respeito do trabalho de parto, descobrir questões relacionadas à gestação, parto, amamentação e cuidados com o bebê, que fazem extrema a diferença no momento do parto e nos cuidados no puerpério e com o RN. Desta forma, a roda de conversa serve como meio de preparação para os acontecimentos que envolvem o período gravídico-puerperal (trabalho de parto, parto, puerpério, cuidados com RN), tanto para mulher quanto para o acompanhante de sua escolha. Neste sentido, atinge-se o objetivo de empoderar as mulheres, e seus acompanhantes, no que diz respeito à gestação e ao parto, devolvendo este último às mulheres e às famílias, conscientizando-os e lhes garantindo a autonomia para fazer suas escolhas e decisões. Além disso, a roda de conversa também serve como terapia, uma vez que, o compartilhamento de sentimentos e experiências, com pessoas que possuem realidades e vivenciam situações semelhantes, contribui para o fortalecimento das decisões e escolhas, bem como diminui a ansiedade e medo diante dos acontecimentos previstos, como o parto. No momento em que escutam histórias bem-sucedidas de gestação, parto e amamentação, as mulheres e seus acompanhantes se fortalecem e assim podem defender com mais segurança suas escolhas, sem se deixar influenciar pelo ambiente social em que vivem ou mesmo pela opinião de profissionais pouco qualificados. Dentre seus benefícios, nota-se que efetivação da ação da roda de conversa possibilita interação entre equipe, as gestantes, as puérperas e os acompanhantes. Portanto, devido a seus resultados positivos, percebeu-se a necessidade de tornar esta atividade permanente, pois a informação é fundamental para a autonomia do cuidado em saúde, em especial no trabalho de parto e puerpério. Sugere-se então, a manutenção destas atividades e a inclusão de profissionais de outras áreas, para que contribuam para ação com conhecimentos e opiniões distintas. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A roda de conversa é uma experiência que está atingindo os objetivos propostos, aumentando a interatividade e vínculo das gestantes, puérperas e acompanhantes com os profissionais da equipe de enfermagem: técnicas, enfermeiras e residentes. A reunião de grupo proporcionou um espaço de escuta e interação que, muitas vezes, não é possível pela grande demanda de serviços e atendimentos do setor da maternidade. Além disso, a abordagem dinâmica/interativa adotada possibilitou a valorização do conhecimento das mulheres sobre o período vivenciado, permitindo que opinassem e sugerissem temas de sua necessidade e interesse. Assim, foi possível esclarecer dúvidas, bem como, fornecer o empoderamento dos participantes da roda, lhe garantindo mais segurança e autonomia, principalmente em momentos de decisões e escolhas.
Palavras-chave
roda de conversa; gestantes; puérperas
Referências
PEGORARO, V. A.; RIBEIRO, M. S.; FUZA, R. L.; ABREU, S. C. Roda de conversa para gestantes: educação em saúde com criatividade e dinamismo. Enfermagem Brasil, v.9, n.5, p.310-15, set./out. 2010.
PORTELINHA, C. Sexualidade durante a gravidez. Coimbra: Quarteto, 2003.
VIDO, M. B. Qualidade de vida na gravidez. Dissertação (Mestrado em Enfermagem). São Paulo, Guarulhos: Programa de Pós- Graduação em Enfermagem/Universidade de Guarulhos, 2006.
VILARINHO, M. L. C.M.; MACHADO, T. M. G.; CARVALHO, P. I. N.; BRANDÃO, S. A. S. M. A roda de conversa como ferramenta de planejamento de ações: relato de experiência. Revista Eletrônica de Gestão & Saúde ISSN, v. 6, n.1, p. 751-61, mar. 2015.