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Hanseníase: apontamentos indutores e promotores de cuidado à saúde na atenção básica
Última alteração: 2015-11-12
Resumo
INTRODUÇÃO: A hanseníase é uma patologia causada pelo MycobacteriumLeprae que atinge alguns sistemas do corpo humano como o nervoso periférico e alguns órgãos como a pele, dentre outros. Pode apresentar-se na forma paucibacilar, contagiosa e multibacilar, não contagiosa, sendo as vias aéreas o principal canal de transmissão. OBJETIVO: Descrever a experiência de profissionais da Estratégia Saúde da Família, no mapeamento precoce e cuidado com pacientes acometidos pela hanseníase. METODOLOGIA: Trata-se de um relato de experiência, com abordagem qualitativa, realizado no Centro de Saúde da Família (CSF) Herbert de Sousa, localizado no bairro Padre Palhano, no município de Sobral-Ceará. Os participantes do estudo foram residentes multiprofissionais em saúde da família e profissionais do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), juntamente com a equipe mínima do CSF, composta por: terapeuta ocupacional, enfermeiros, assistente social, nutricionistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogo, profissional de educação física, psicólogo, farmacêutico, médicos e agentes comunitários de saúde, além do envolvimento da população que reside no bairro em questão e usuários do CSF. Considerando a importância da Educação Permanente (EP) em Saúde, foram realizados momentos de atualização sobre a temática, utilizando o espaço da roda de gestão com os trabalhadores, que acontece semanalmente, para aprofundamento sobre causa, diagnósticos, medicação, profilaxia dentre outros, objetivando sanar dúvidas, aprimorar saberes e práticas. Para identificação de pacientes acometidos por esta doença potencializou-se espaços de atendimento individual, grupos de salas de espera, rodas de quarteirão com a comunidade, grupo de autocuidado, busca ativa, visitas domiciliares, panfletagem, ações educativas descentralizadas do CSF, como intervenções em estações do metrô e apresentação teatral feita pelas Agentes Comunitárias de Saúde (ACS) do CSF em grupo de práticas corporais da comunidade. RESULTADOS: Todas as ações realizadas em prol da Hanseníase aconteceram da seguinte forma, primeiro momento: de EP com os profissionais do CSF, foi utilizado um jogo de tabuleiro para abordar a temática da Hanseníase. Os profissionais foram divididos em duas equipes e foi escolhido um representante para iniciar o jogo, o qual iniciou com o lançamento de um dado sinalizando a casa que o profissional teria que avançar. O tabuleiro continha 35 casas e em cada uma delas havia uma pergunta referente à temática, sendo: verdadeiro ou falso, escolher a alternativa correta, entre outros, de forma que tanto os profissionais de nível médio quanto superior compreendessem o assunto. O momento culminou com o envolvimento de toda a equipe com a temática, proporcionando trocas de experiências, conhecimentos, esclarecimento de dúvidas e aprofundamento do conteúdo, possibilitando aos profissionais, identificar possíveis casos de Hanseníase, assim como adotar as condutas corretas em relação à patologia. Segundo momento: durante os momentos de espera dos pacientes, foram realizadas atividades de integração com informações sobre Bacilo de Hansen, alertando a comunidade quanto ao surgimento de manchas pelo corpo, com rarefação de pelos e alteração da sensibilidade, além disso, foram distribuídos panfletos informativos. Foi observado durante esta atividade que a comunidade possuía um significativo conhecimento prévio sobre a doença, pelo fato do município e bairro onde residem serem hiperendêmicos. Ao final desta atividade, três usuários procuraram atendimento com os profissionais do CSF e após exames e avaliações, foram diagnosticados com Hanseníase e encaminhados para tratamento. Terceiro momento: Foram realizadas rodas de quarteirão que é uma abordagem coletiva em alguma área crítica do território. Participaram alguns moradores de uma rua onde existem duas pessoas em tratamento de Hanseníase e consequentemente vários contatos. Neste momento foi notada a preocupação dos moradores daquela área quanto à transmissão da doença e identificado um novo caso. Quarto momento: no grupo de autocuidado são dadas orientações sobre prevenção de incapacidades e sequelas decorrentes da Hanseníase, sendo público alvo desta abordagem tanto pacientes que estão em tratamento quanto os que já finalizaram a poliquimioterapia. Quinto momento: Em um passeio de metrô com um grupo de mulheres, foram realizadas distribuições de panfletos para todos os passageiros, contendo informações sobre a doença. Algumas pessoas desconheciam, outras já tinham determinada familiaridade com o assunto. Sexto momento: apresentação teatral feita pelas ACS, esta ocorreu no grupo de práticas corporais, que acontece as terças e quintas-feiras, na quadra do bairro. A temática foi abordada de forma lúdica e artística, com cenas que simulavam o comportamento da patologia em uma pessoa, elucidando sinais e sintomas, bem como tratamento. Sétimo momento: visitas domiciliares, busca ativa e atendimentos individuais foram realizados para acompanhamento dos casos existentes no bairro, no intuito de ofertar um maior aporte aos pacientes de Hanseníase. Percebeu-se que lidar com algumas doenças como a hanseníase, ainda é um desafio para o Sistema Único de Saúde (SUS. Ao observar este fenômeno, neste cenário sociocultural, observamos que muitos profissionais de saúde necessitam de um aporte técnico-pedagógico para produzir uma assertiva nos diagnósticos de casos positivos e estabelecer uma linha contínua de cuidados àqueles com sequelas de ordens diversas. Constataram-se dúvidas substanciais sobre a doença, modos distintos de observá-la e carência na flexibilidade dos profissionais e tempo para oferecer as condutas terapêuticas indicadas. Apreendeu-se que as doenças a cuidar são muitas, desde as infectocontagiosas, às crônico-degenerativas. Sabe-se que a atenção é concedida de modo mais intenso a algumas doenças, por existirem programas instituídos, ou por estarem em um indicador específico de saúde. Além disso, considerou-se essencial a ampliação dos espaços de identificação da doença, e inventiva de métodos de coproduzir e promover saúde, atuando extramuros, pois, em alguns cenários de prática, a demanda não acessa os ambulatórios, que formalmente estão estruturados para este fim. No entanto é importante que profissionais de saúde tenham acesso a estes usuários que estão no território e desconhecem a doença, ou até mesmo seu diagnóstico, sendo um potencial disseminador. Com esse escopo de ações programáticas foi possível diagnosticar casos de hanseníase, outrora desconhecidos, bem como compreender o itinerário terapêutico de muitos usuários e estabelecer uma linha de cuidados de acordo com suas necessidades. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A efetivação das ações de educação permanente em saúde para os profissionais, e de educação em saúde, para usuários, encorajando o empoderamento e autonomia, são de suma importância, não somente para atender aos acometidos pela doença, mas também para garantir assistência integral e longitudinal assegurando a notificação de novos casos e terapêutica efetiva aos já antevistos na atenção primária em saúde.
Palavras-chave
Educação Permanente; Hanseníase; Residência Multiprofissional