Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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ATENDIMENTO MULTIPROFISSIONAL AO PACIENTE IMUNODEPRIMIDO: UM RELATO DE CASO
Mayara Bontempo Ferraz, Aline Bergman de Souza Herculano, Anna Caroline Milani, Aryne Arnez, Camila Nunes de Souza, Ramon Moraes Penha

Última alteração: 2015-11-12

Resumo


INTRODUÇÃO: A infecção pelo vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) é considerada uma pandemia mundial, tendo sido observados casos notificados em quase todos os países. Sua característica se deve pela redução progressiva dos linfócitos CD4, causando consequentemente uma depleção do sistema imunológico do organismo infectado resultando no aparecimento de inúmeras infecções oportunistas e neoplasias malignas consideradas indicadores da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS). A pneumocistose é causada pelo fungo Pneumocystisjiroveci, que acomete principalmente esses indivíduos, visto que frequentemente é a primeira infecção oportunista diagnosticada em pacientes com HIV positivo, cursando para quadro de pneumonia grave e óbito. A transmissão ainda não foi esclarecida e atualmente o isolamento desses pacientes não se faz necessário. O início dos sintomas habitualmente é insidioso, estendendo-se de dias a semanas em que o paciente apresenta febre, tosse não produtiva, dispneia podendo evoluir para franca insuficiência respiratória. RELATO DE CASO: Paciente do sexo feminino, 39 anos, apresentou durante 3 dias, distensão abdominal, dor difusa à inspiração profunda com  irradiação para flanco esquerdo e flanco direito, placas esbranquiçadas na boca, que prejudicavam a alimentação por deixar gosto amargo, febre não aferida e desconforto respiratório aos grandes esforços. Foi admitida no dia 06/07/15 no Pronto Atendimento Médico (PAM) do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (HUMAP) com diagnóstico de HIV há 10 anos. Foi acolhida  pela equipe da Residência Multiprofissional de Atenção ao Paciente Crítico no dia 15/07/2015 na enfermaria de Doenças Infecto Parasitárias com diagnóstico de pneumocistose. Ao exame físico da admissão apresentava sinais vitais estáveis, à avaliação de dor foi obtido 10 pontos na escala numérica (0 a 10), consciente, orientada em tempo e espaço, hipocorada (+2/+4), hipoativa e restrita ao leito. Em anasarca, respiração espontânea com máscara de Venturi em 50%, com desconforto respiratório, caracterizado por dispneia. Apresentava assimetria facial, sonda nasogástrica inserida por narina esquerda, raízes residuais dos elementos dentários 36 e 45, fratura em bordo incisal de elemento 11, expansibilidade torácica reduzida, uso de musculatura acessória, ausculta pulmonar com estertores crepitantes e sibilos difusos em ambos os hemitórax. Abdômen globoso, ruídos hidroaéreos presentes, timpânico a percussão, fígado mensurado em 10 cm, doloroso a palpação superficial e profunda. Genitália hiperemiada (+4/+4) e edemaciada (+4/+4) em região inguinal, grandes e pequenos lábios. Dorso íntegro. Membros superiores e inferiores edemaciados, com pulsos periféricos presentes e simétricos, perfusão menor que 2 segundos e acesso venoso periférico em membro superior direito e esquerdo. DISCUSSÃO: Atendimento Multiprofissional: O HIV/AIDS por si só, leva a alterações musculoesqueléticas que não poupam o sistema respiratório e em pacientes com criptococose como infecção oportunista necessitam de reabilitação respiratória devido ao comprometimento pulmonar rotineiro. O acompanhamento fisioterapêutico e tratamento desta paciente basearam-se na manutenção da força muscular respiratória e periférica, manutenção dos volumes e capacidades pulmonares, manutenção da permeabiliadade das vias aéreas, redução da necessidade de oxigênio suplementar, manutenção de valores adequados de oxigenação, manutenção da capacidade funcional e otimização do retorno venoso. As condutas de enfermagem foram amparadas pelas sistematização da assistência de enfermagem (SAE). Primeiramente foi coletado o histórico de enfermagem, constituído pela história pregressa e exame físico. Em seguida foram elaborados os diagnósticos de enfermagem, sendo os principais: Integridade tissular prejudicada caracterizado por tecido lesado; Risco de infecção relacionado a defesas primárias e secundárias inadequadas, procedimento invasivos e desnutrição; Autocontrole ineficaz da saúde caracterizado por falha em incluir regimes de tratamento á vida diária; Disposição para melhora do autocuidado caracterizado por desejo de aumentar o conhecimento sobre estratégias para o autocuidado; Volume de líquidos excessivo caracterizado por anasarca, ruídos respiratório adventícios, mudanças no padrão respiratório, hemoglobina diminuída e hematócrito diminuído; Mobilidade física prejudicada caracterizada por dispneia ao esforço e amplitude limitada de movimento; Dor aguda caracterizado por relato verbal de dor; Conforto prejudicado caracterizado por relato de falta de sentir-se a vontade com a situação;  Ansiedade caracterizado por insônia, Troca de gases prejudicada caracterizado por dispneia e gases arteriais anormais. Para a continuidade da SAE, eram realizadas prescrições de enfermagem diárias, reavaliações dos diagnósticos de enfermagem e evolução da condição clínica da paciente. As principais intervenções foram: medidas de conforto para alívio e prevenção da progressão de hiperemia em região de genitália, controle hídrico, sinais de congestão pulmonar e sinais vitais, solicitação de avaliação e acompanhamento psicológico e de uma assistente social, promover momentos em que o paciente possa expressar seus medos e angustias, empoderamento ao autocuidado e orientações quanto as mudanças no estilo de vida. A contribuição farmacêutica ocorreu através da monitorização da terapia medicamentosa, verificando possíveis interações e reações adversas, pois a paciente era polimedicada. A terapia antifúngica foi iniciada pela fase de indução para pacientes HIV positivos, com Anfotericina B desoxicolato 30mg ao dia intravenosa, e fluconazol 400mg intravenoso a cada 12 horas, conforme preconizado pela literatura. Foram encontradas interações farmacológicas ao restituir a terapia antiretroviral com Nevirapina e o antifúngico Fluconazol, porém o manejo clinico necessário era apenas a monitorização dos efeitos adversos do antiretroviral. A infusão endovenosa de Anfotericina B provocou flebite, reação adversa comum à este fármaco, sendo solucionado ao aumentar o tempo de infusão da droga. Os exames laboratoriais também foram monitorados, dada uma anemia importante, sendo necessário realizar transfusões de bolsas de concentrado de hemácias. Com relação às condutas odontológicas, devido à presença de placas esbranquiçadas em cavidade oral, sugestivo de candidíase oral, foi decidido juntamente com a equipe responsável a introdução de um bochecho  de Suspensão oral de Nistatina 100.000 UI cinco vezes ao dia durante 14 dias e diante da presença de foco infecciosos em cavidade oral, foram realizadas exodontias de duas raízes residuais, a beira leito, sob anestesia local e restauração provisória de elemento dentário com lesão cariosa cavitada com o material restaurador provisório. O acompanhamento nutricional ocorreu através da avaliação nutricional. Foram considerados parâmetros clínicos, antropométricos, sinais físicos, consumo alimentar e dados laboratoriais para diagnóstico nutricional. Após análise das características encontradas, classificou-se o diagnóstico nutricional em desnutrição moderada.  Planejamento dietoterápico: 35 kcal/kg e 1.5 g/kg de proteína: caracterizando dieta hipercalórica e hiperproteica. Alimentando-se via oral, consistência branda conforme aceitação. Após 22 dias uma nova avaliação nutricional foi realizada obtendo ganho de peso 2.2 kg, melhorando o estado nutricional. A Conduta nutricional foi mantida conforme evolução. CONSIDERAÇÕES FINAIS: De acordo com as áreas que compõe a equipe multiprofissional a fisioterapia associada as demais intervenções, foram efetivas para redução do edema presente em MMSS, MMII e tronco, melhora da função pulmonar com progressão do desmame da oxigenoterapia, melhora dos volumes e capacidades pulmonares e otimização da capacidade funcional e para o exercício. Os cuidados de enfermagem proporcionaram a paciente maior autonomia, fortalecimento da resiliência e compreensão da importância do tratamento através de orientações sobre as patologias oportunistas, medidas de prevenção e formas de contágio e evolução da doença. Dentro da odontologia foram feitas orientações quanto a uma adequada higiene oral e encaminhamento para arealização de restaurações de resina composta nos elementos dentários com restauração provisória. O acompanhamento nutricional foi fundamental para melhora do estado nutricional, reconstituindo as reservas corporais e ofertando as necessidades energéticas necessários, prevenindo a progressão da desnutrição. Assim conclui-se que o atendimento multiprofissional proporcionou um atendimento individualizado e humanizado, resultando na melhora da independência nas atividades de vida diárias, conscientização da importância e aderência ao tratamento do HIV/AIDS e a alta hospitalar no dia 12/08/15.