Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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UMA PROPOSTA DE REFLEXÃO SOBRE ABUSO E EXPLORAÇÃO SEXUAL INFANTIL A PARTIR DE UMA ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR
Francisco Gilmário Rebouças Junior, Viviane Oliveira Mendes, Neires Alves de Freitas, Ádyla Barbosa Lucas, Aline Albuquerque Marques, Maria Emanoelle Freire Pessoa, Osmar Arruda da Ponte Neto, Rayane Alves Lacerda

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


INTRODUÇÃO: O abuso e a exploração sexual infantil são problemas de saúde pública, pois implicam em inúmeras consequências para a saúde dos atores envolvidos, levando às várias situações de violências, que podem ser intra e extras familiares. O abuso é caracterizado como qualquer contato ou interação em que a criança ou adolescente sejam estimulados sexualmente por alguém em estágio psicossocial mais avançado do desenvolvimento. A interação sexual pode incluir toques, carícias, sexo oral ou relações com penetração. Quando estas ações estão revestidas de intenções prévias de lucratividade é caracterizado como exploração sexual. A atenção básica, enquanto porta de entrada para os serviços de saúde, tem como atribuição receber as situações de violências contra as crianças e adolescentes, referenciar aos órgãos e políticas que também são corresponsabilizados pelo assunto, como: conselhos tutelares e a Política de Assistência Social e de Segurança. Para isso a atuação interdisciplinar é fundamental para ampliar o cuidado com o usuário, sendo necessário articulações e compartilhamentos de ações no âmbito da unidade de saúde e, sobretudo, a interdisciplinaridade no processo de trabalho e na capacidade de cuidado de toda a equipe. A interdisciplinaridade é a substituição de uma concepção fragmentária para uma concepção unitária do ser humano. Nesse contexto, a atenção básica traz a ideia da ampliação da saúde, passando a perceber o sujeito como um todo, com características particulares, imersos em sua realidade socioeconômica e familiar, revelando na interdisciplinaridade o resgate da totalidade do usuário. OBJETIVO: Descrever a experiência interdisciplinar na ação sobre o combate ao abuso e exploração sexual infantil. METODOLOGIA: Trata-se de um relato de experiência com abordagem qualitativa. O estudo se deu na Escola José Parente Prado no Bairro Sumaré, Sobral, Ceará. Participaram da experiência os profissionais da Residência Multiprofissional em Saúde da Família – RMSF, terapeuta ocupacional, educadora física, psicóloga e assistentes sociais e duas professoras da escola.  A ação envolveu dezoito pais e vinte e cinco crianças com idade entre 8 e 12 anos. O momento foi dividido em duas estações, sendo uma com enfoque para as crianças e a outra para os pais. Foram utilizados como recursos para o desenvolvimento da ação: vídeos, slides, tarjetas, jogos, desenhos e brincadeiras infantis. A estação com os pais foi dividida em quatro momentos: 1) apresentação de um vídeo, o qual problematizava acerca do abuso e exploração sexual infantil, no intuito de incitar reflexões sobre o assunto. 2) exposição slides informando os locais adequados para se fazer algum tipo denúncia, bem como slides retratando os sinais de alerta que a criança e o adolescente podem sinalizar quando encontram-se em situações de violência. 3) Jogo “Mitos e Verdades”, através do uso de frases escritas em tarjetas, para os pais analisarem as afirmativas em verdadeiras ou falsas. 4) Avaliação do momento com a utilização de “emotions” espalhados no local da estação, representando rostos com expressões tristes, alegres, entusiasmadas e zangadas. Ressaltando que todos os pais avaliaram o momento com os “emotions” alegres e/ou entusiasmados. A estação com as crianças foi dividida em quatro momentos. 1) roda de conversa informando o objetivo da atividade e coletar o conhecimento prévio das crianças sobre assunto 2) atividade autobiográfica: através do desenho em uma folha de papel ofício, todas as crianças retrataram, de acordo com o direcionamento dado pelas cuidadoras do momento, sobre aspectos relacionados ao seu contexto familiar, tais como: com quem moram, o que gostam de fazer, como definem a sua família, quais os parentes que elas são mais próximos. Em seguida, todos compartilharam seus desenhos. 3) Foram realizadas atividades lúdicas: jogos e brincadeiras (vivo-morto, caça ao tesouro, futebol, basquete). 4) Por fim, cada criança avaliou o momento com apenas uma palavra, sendo as mais citadas: legal, divertido, bom e ótimo. RESULTADOS: No decorrer da ação, percebemos que os pais se apresentaram entusiasmados com a temática, relatando que existem muitos casos no bairro onde residem e não sabiam como denunciar. Destacaram acerca da informação sobre a denúncia anônima, o que os encorajariam a denunciar, contribuindo desta forma no combate a prática da exploração sexual infantil, de modo que o denunciador não fique exposto a nenhum risco ou ameaça. No momento das discussões surgiram muitas dúvidas sobre o assunto, bem como desconhecimento do mesmo pelos pais. Questionaram sobre as possíveis alterações comportamentais nas crianças e adolescentes, quando estes são abusados e explorados sexualmente e indagaram se deveriam ou não procurar o Centro de Saúde da Família (CSF), pois não sabiam se o agravo era de competência dos serviços de saúde ou dos serviços jurídicos. Ressaltaram também a importância do desenvolvimento da atividade e parabenizaram a metodologia utilizada. Foi possível identificar, o receio dos pais em verbalizar sobre o assunto, porém, trouxe várias elucidações que incitaram a reflexão dos mesmos. Ao final do momento, dois pais procuraram as profissionais cuidadoras para compartilharem casos que ocorreram em seu seio familiar. As crianças mostraram-se a vontade para verbalizar sobre sua composição familiar e interagiram durante as brincadeiras, percebemos que a maioria delas eram desinibidas e ativas durante as atividades, um pequeno número apresentou comportamento apático e sem iniciativa durante as brincadeiras. A mãe de uma delas, que estava na estação com os pais, relatou que a filha sofre bullying na escola e o caso foi encaminhado para atendimento especializado no CSF.  O momento trouxe muitas elucidações sobre a temática uma vez que a abordagem interdisciplinar proporcionou abordar o assunto no âmbito psicossocial. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Destacamos a relevância do trabalho interdisciplinar como direção de um fazer coletivo, através de abordagens que busquem cuidar dos indivíduos, utilizando recursos existentes nas instituições e comunidades, buscando reflexões e corresponsabilizações com todos os atores envolvidos.

Palavras-chave


Atenção Básica, Exploração Sexual, Atenção Interdisciplinar

Referências


REFERÊNCIAS:

ANDRADE, Lucas Melo Biondi; et al. Analise da implementação dos núcleos de apoio à saúde da família no interior de Santa Catarina. In: Sau. &Transf. Soc., Florianópolis, v.3, n.1, p.18-31,2012. Disponível em: < http://www.incubadora.ufsc.br/index.php/saudeetransformacao/article/view/1471/1707 > Acesso em: 12/06/2015.

 

HABIGZANG, Luis P. Abuso Sexual Infantil e Dinâmica Familiar: Aspectos Observados em Processos Jurídicos. Psicologia: Teoria e Pesquisa Set-Dez 2005, Vol. 21 n. 3, pp. 341-348. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/ptp/v21n3/a11v21n3> Acesso em: 12/06/2015.

POLONI, Delacir Ramos. A política educacional no Brasil e o ensino de Geografia. 1998. Tese de Doutorado. FFLCH/USP, São Paulo.