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UMA PROPOSTA DE REFLEXÃO SOBRE ABUSO E EXPLORAÇÃO SEXUAL INFANTIL A PARTIR DE UMA ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
INTRODUÇÃO: O abuso e a exploração sexual infantil são problemas de saúde pública, pois implicam em inúmeras consequências para a saúde dos atores envolvidos, levando às várias situações de violências, que podem ser intra e extras familiares. O abuso é caracterizado como qualquer contato ou interação em que a criança ou adolescente sejam estimulados sexualmente por alguém em estágio psicossocial mais avançado do desenvolvimento. A interação sexual pode incluir toques, carícias, sexo oral ou relações com penetração. Quando estas ações estão revestidas de intenções prévias de lucratividade é caracterizado como exploração sexual. A atenção básica, enquanto porta de entrada para os serviços de saúde, tem como atribuição receber as situações de violências contra as crianças e adolescentes, referenciar aos órgãos e políticas que também são corresponsabilizados pelo assunto, como: conselhos tutelares e a Política de Assistência Social e de Segurança. Para isso a atuação interdisciplinar é fundamental para ampliar o cuidado com o usuário, sendo necessário articulações e compartilhamentos de ações no âmbito da unidade de saúde e, sobretudo, a interdisciplinaridade no processo de trabalho e na capacidade de cuidado de toda a equipe. A interdisciplinaridade é a substituição de uma concepção fragmentária para uma concepção unitária do ser humano. Nesse contexto, a atenção básica traz a ideia da ampliação da saúde, passando a perceber o sujeito como um todo, com características particulares, imersos em sua realidade socioeconômica e familiar, revelando na interdisciplinaridade o resgate da totalidade do usuário. OBJETIVO: Descrever a experiência interdisciplinar na ação sobre o combate ao abuso e exploração sexual infantil. METODOLOGIA: Trata-se de um relato de experiência com abordagem qualitativa. O estudo se deu na Escola José Parente Prado no Bairro Sumaré, Sobral, Ceará. Participaram da experiência os profissionais da Residência Multiprofissional em Saúde da Família – RMSF, terapeuta ocupacional, educadora física, psicóloga e assistentes sociais e duas professoras da escola. A ação envolveu dezoito pais e vinte e cinco crianças com idade entre 8 e 12 anos. O momento foi dividido em duas estações, sendo uma com enfoque para as crianças e a outra para os pais. Foram utilizados como recursos para o desenvolvimento da ação: vídeos, slides, tarjetas, jogos, desenhos e brincadeiras infantis. A estação com os pais foi dividida em quatro momentos: 1) apresentação de um vídeo, o qual problematizava acerca do abuso e exploração sexual infantil, no intuito de incitar reflexões sobre o assunto. 2) exposição slides informando os locais adequados para se fazer algum tipo denúncia, bem como slides retratando os sinais de alerta que a criança e o adolescente podem sinalizar quando encontram-se em situações de violência. 3) Jogo “Mitos e Verdades”, através do uso de frases escritas em tarjetas, para os pais analisarem as afirmativas em verdadeiras ou falsas. 4) Avaliação do momento com a utilização de “emotions” espalhados no local da estação, representando rostos com expressões tristes, alegres, entusiasmadas e zangadas. Ressaltando que todos os pais avaliaram o momento com os “emotions” alegres e/ou entusiasmados. A estação com as crianças foi dividida em quatro momentos. 1) roda de conversa informando o objetivo da atividade e coletar o conhecimento prévio das crianças sobre assunto 2) atividade autobiográfica: através do desenho em uma folha de papel ofício, todas as crianças retrataram, de acordo com o direcionamento dado pelas cuidadoras do momento, sobre aspectos relacionados ao seu contexto familiar, tais como: com quem moram, o que gostam de fazer, como definem a sua família, quais os parentes que elas são mais próximos. Em seguida, todos compartilharam seus desenhos. 3) Foram realizadas atividades lúdicas: jogos e brincadeiras (vivo-morto, caça ao tesouro, futebol, basquete). 4) Por fim, cada criança avaliou o momento com apenas uma palavra, sendo as mais citadas: legal, divertido, bom e ótimo. RESULTADOS: No decorrer da ação, percebemos que os pais se apresentaram entusiasmados com a temática, relatando que existem muitos casos no bairro onde residem e não sabiam como denunciar. Destacaram acerca da informação sobre a denúncia anônima, o que os encorajariam a denunciar, contribuindo desta forma no combate a prática da exploração sexual infantil, de modo que o denunciador não fique exposto a nenhum risco ou ameaça. No momento das discussões surgiram muitas dúvidas sobre o assunto, bem como desconhecimento do mesmo pelos pais. Questionaram sobre as possíveis alterações comportamentais nas crianças e adolescentes, quando estes são abusados e explorados sexualmente e indagaram se deveriam ou não procurar o Centro de Saúde da Família (CSF), pois não sabiam se o agravo era de competência dos serviços de saúde ou dos serviços jurídicos. Ressaltaram também a importância do desenvolvimento da atividade e parabenizaram a metodologia utilizada. Foi possível identificar, o receio dos pais em verbalizar sobre o assunto, porém, trouxe várias elucidações que incitaram a reflexão dos mesmos. Ao final do momento, dois pais procuraram as profissionais cuidadoras para compartilharem casos que ocorreram em seu seio familiar. As crianças mostraram-se a vontade para verbalizar sobre sua composição familiar e interagiram durante as brincadeiras, percebemos que a maioria delas eram desinibidas e ativas durante as atividades, um pequeno número apresentou comportamento apático e sem iniciativa durante as brincadeiras. A mãe de uma delas, que estava na estação com os pais, relatou que a filha sofre bullying na escola e o caso foi encaminhado para atendimento especializado no CSF. O momento trouxe muitas elucidações sobre a temática uma vez que a abordagem interdisciplinar proporcionou abordar o assunto no âmbito psicossocial. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Destacamos a relevância do trabalho interdisciplinar como direção de um fazer coletivo, através de abordagens que busquem cuidar dos indivíduos, utilizando recursos existentes nas instituições e comunidades, buscando reflexões e corresponsabilizações com todos os atores envolvidos.
Palavras-chave
Atenção Básica, Exploração Sexual, Atenção Interdisciplinar
Referências
REFERÊNCIAS:
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POLONI, Delacir Ramos. A política educacional no Brasil e o ensino de Geografia. 1998. Tese de Doutorado. FFLCH/USP, São Paulo.