Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
Cartografia da atenção à saúde de imigrantes haitianos na cidade de Chapecó - SC
Ana Paual Risson, Ana Cristina Costa Lima, Regina Yoshie Matsue

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


APRESENTAÇÃO: Os fluxos migratórios contemporâneos têm colocado à sociedade civil e ao Estadodesafios nos âmbitos da saúde, educação, assistência social, mobilidade humana, trabalho, habitação, entre outros.  A presente pesquisa de mestrado tem como objetivo geral: analisar como é realizada a atenção básica em saúde de imigrantes haitianos em Unidades Básicas de Saúde, no município de Chapecó/SC. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: o cenário da pesquisa é a cidade de Chapecó, oeste de Santa Catarina, que nos últimos anos recebeu aproximadamente 3.000 haitianos (número estimado pela Polícia Federal e Secretaria Municipal de Saúde), atraídos pela agroindústria. Estudo de abordagem qualitativa, a presente cartografia se constrói com 90 trabalhadores de seis unidades básicas de saúde, nos territórios de maior concentração da população haitiana. Os dados parciais aqui apresentados advêm de entrevistas semiestruturadas com as coordenadoras das unidades e de seis rodas de conversa, complementadas com observação do cotidiano registrada em diário de campo e pesquisa documental. O percurso cartográfico é construído nos entremeios das relações no âmbito das equipes e nas subjetividades que permeiam o processo de atenção à saúde no contexto especial de repentinamente e sem preparo a atenção básica receber uma população de outro país, em número crescente. Assim, este estudo interdisciplinar parte da saúde coletiva e integralidade em saúde, para habitar os meandros dos estudos culturais e da psicologia social crítica, aliados à compreensão de poderes em Michel Foucault. RESULTADOS: inicialmente, o Estatuto do Estrangeiro (Lei nº 6.815/1980), definido pelo Estado de exceção, portanto, impróprio à sociedade atual, e a morosidade na definição de novo marco legal, aliados à falta de planejamento para o momento atual do país como receptor de imigrantes, são entraves na realização de planejamento em saúde, com vistas a políticas especiais transitórias de acolhimento dessa população. No contexto local, a cidade é marcada pela separação étnica entre os colonizadores europeus, brancos, chegados há menos de cem anos, e os indígenas autóctones, retirados de suas terras milenares. Isto certamente compõe a formação de subjetividades relacionadas à intolerância do diferente, por exemplo. Por fim, os trabalhadores do SUS, envolvidos nesta pesquisa, buscam estratégias criativas de comunicação, como por exemplo: tradutor na internet, mímica e desenhos explicativos, como também realização de exames complementares que ampliem a segurança no diagnóstico.  CONSIDERAÇÕES FINAIS: a imigração descuidada e sem marco legal no país, aliada ao racismo no Brasil, posto que os haitianos sejam negros, contribuem para a ampliação dos preconceitos em relação aos novos habitantes. Por tudo, há dificuldades no acesso aos direitos como cidadãos, que certamente respingam no acolhimento e atenção em saúde no SUS. O desvelamento dos preconceitos e tradicionalismos é necessário para a interação entre usuários e profissionais de saúde. Assim, esta cartografia abre a discussão cultural e de tradições para a ruptura de nossos preconceitos nacionalistas e étnicos.

Palavras-chave


atenção à saúde; trabalhadores da área da saúde; imigrantes.