Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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ESTIMULOS A MEMORIA DE TRABALHO EM IDOSAS ATIVAS: relato de experiência da Terapia Ocupacional na zona oeste do Rio de Janeiro
Ana Carolina da Silva Barbosa

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


INTRODUÇÃO: O aumento da população geriátrica e as queixas frequentes relacionadas às dificuldades de memória deste grupo impulsionam a criação de novas estratégias e recursos capazes de associar longevidade à qualidade de vida. A capacidade de formar, reter e utilizar as informações é a principal propriedade do cérebro, essencial para a sobrevivência dos seres vivos. A memória de trabalho, alvo deste estudo, é um sistema com capacidade limitada, que mantém e armazena temporariamente a informação e, sustenta os processos do pensamento humano. Este trabalho diz respeito os primeiros resultados do projeto de pesquisa intitulado abordagens digitais no envelhecimento: programa de estimulação da memória de trabalho em idosas ativas e asilares, que tem a finalidade de estimular cognitivamente idosos ativos e criação de um programa de treinamento de memória de trabalho no formato DVD. Baddeley e Hitch (2003) dividiram a memória de trabalho em quatro componentes: o primeiro, executivo central, constitui-se de controle atencional, controlador do comportamento e responsável por padrões de hábitos, ou esquemas, implicitamente guiados por pistas ambientais. O segundo vinculado a fonológica, que tem a função de facilitar a aquisição de linguagem, poia se relacionada com habilidades de aquisição de língua estrangeira e o terceiro se refere ao sistema viso-espacial, que tem a função de adquirir conhecimento semântico acerca da aparência dos objetos e de como utilizá-los, orientação espacial e conhecimento geográfico e o quarto componente se vincula ao reservatório episódico, que faz a correlação entre a central executiva e a memória de longo prazo episódica. A Terapia Ocupacional em gerontologia tem a função de prevenir as perdas cognitivas, que causam desajuste no processo de envelhecimento, pois atua como facilitadora das capacidades remanescentes; na tomada de suas próprias decisões; visando independência e autonomia, enfatizando áreas de autocuidado, do trabalho, do lazer e da manutenção de seus direitos e papéis sociais. Entre seus procedimentos o terapeuta ocupacional enfatiza as atividades significativas que treinam as funções sensórias motoras, perceptivas, cognitivas, velocidade de reação e sócias afetivas, tais como: memória; agrupamento e relacionamento interpessoal; cuidados de higiene pessoal e aparência física; reflexão e participação em acontecimentos sociais, políticos e culturais; programação e organização do seu dia a dia. Tudo isso por meio da realização de atividades/oficinas para que estes se percebam e se conscientizem de suas capacidades funcionais/cognitiva, podendo assim transformar o seu viver, tornando-o mais dinâmico e participativo (FRANCSICO, 2004). Esse estudo se justifica, pois ao  analisar as diferentes abordagens de treinamento de memória permitirá a elaboração de programa de treinamento de memória de trabalho em DVD, com as principais estratégias de estimulação de memória das abordagens relatadas, de baixo custo, pois um único exemplar do DVD deverá ser utilizado para estimular grupos de idosos em casas de repouso, asilos, hospitais, na academia, em grupos de convivência, entre outras possibilidades. Além de permitir que o idoso possa assistir quantas vezes ache pertinente para a fixação e o entendimento adequado das informações. OBJETIVO: é oportunizar o relacionamento dos conteúdos teóricos com as situações de prática vivenciadas, desenvolvendo a capacidade de observação, avaliação das situações ligadas à autonomia e desempenho, análise de atividade e determinação de objetivos terapêuticos para desenvolver o DVD. METODOLGIA: utilizada se baseia na pesquisa intervenção que para Serrano-Garcia e Collazo (1992), os processos de investigação e intervenção são simultâneos, pois, durante um processo de pesquisa “desde o momento em que uma pessoa começa a fazer indagações, altera, de forma mínima ou máxima o ambiente e as pessoas que a rodeiam” (p. 218), pois se que toda pesquisa implica em intervenção a qual busca a intencionalidade de mudança, o que envolve informar os participantes, oferecer serviços, se solicitados, considerar os problemas e soluções no contexto da comunidade ou grupo, explicar com detalhes os objetivos da pesquisa, planejar com as mesmas os esquemas de ação social. Para coleta de dados usar-se-á: entrevista, oficinas cognitivas e oficina de inclusão digital. RESULTADO PRELIMINAR: participam desse projeto dez idosas ativas, residentes do entorno do campus Realengo. O local que se desenvolve é a Clinica da Saúde da Família Armando Palhares, as oficinas são semanais com duração de durante uma hora e meia. Nas oficinas cognitivas realizam-se atividades com palavras, com quebra cabeças, ditados populares, anagramas e associações de categorias. Vamos relatar a experiência dos anagramas que consiste em formar palavras apenas com as letras as quais são disponibilizadas, podendo repetir as letras apenas uma vez cada. Inicialmente foram selecionadas oito letras e as idosas tinham que formar palavras a partir delas sem repetição. Apesar de não ter o caráter competitivo, as mesmas foram impulsionadas a criar cada vez que uma companheira verbalizava para o grupo uma palavra nova, pois elas se sentiam se estimuladas a produzir algo novo. Nesses momentos eram percebidos a importância do outro e do grupo como processo terapêutico. Importante ressaltar que para a realização desta atividade as idosas usavam sua memória de trabalho resgatando de suas experiências passadas a recordação de objetos, ações, pessoas, sentimentos e comportamento vinculados as letras indicadas. Assim pode-se avaliar a habilidades de construção das palavras, acapacidade de compreensão e construção da linguagem oral e escrita, uso da memória de trabalho e recente e a evocação. No aspecto social observou-se mínima organização entre elas para que ocorresse o respeito e o direito de cada uma sendo que quando uma falava a outra não a interromperia. Ressalto o aspecto da motivação que estava sempre presente nesse grupo de mulheres, pois as mesmas sempre a participam ativamente do trabalho proposto, e na linguagem corporal depara-se com sorrisos, comentários descontraídos sobre a família, do cotidiano, dos netos e dos filhos, clima afetivo e harmônico e de uma leveza que já faz até parte das nossas semanas no grupo terapêutico. Dessa prática pode-se perceber que a atividade tem sua função terapêutica, mas tem ela traz consigo algo além do uso funcional do fazer, ela traz a prática que aproxima, cria vínculos tanto entre profissionais e usuários quanto entre os usuários em si. Ou seja, a atividade além de estimular, reabilitar e organizar funcionalidades é usada como viés principal na construção das relações em determinado espaço, nesse caso o estímulo à memória de trabalho. Nessas oficinas, não se está simplesmente pesquisando ou estimulando a cognição, o que já seria de extrema importância, mas também se desenvolve a relação social, porque se estreita laços, diminui a solidão, gera vínculos, produz conhecimento, e vivencia experiências em conjunto por meio do fazer. Palavras como "Estou melhorando, gosto de estar aqui, essas pessoas me agradam e quero participar", estimula a continuar e a criar novos métodos para estimulá-las, pois nada é mais gratificante para um profissional de saúde perceber, ouvir e sentir que faz bem ao seu usuário como um todo. CONCLUSÃO: Cada vez que uma participante sai de sua casa, se compromete em comparecer ao grupo terapêutico e contribuir para a realização da atividade de maneira ativa, ela traz consigo intrinsecamente a vontade de continuar com sua função preservada e ainda o componente afetivo e que a Terapia Ocupacional é um instrumento pelo qual se processa o encontro, o fazer e desabrocha o ser e o estar em convívio mútuo e prazeroso, além de estimular a cognição e a interrelação.

Palavras-chave


estimulação cognitiva; terapia ocupacional; idosos ativos

Referências


BADDELEY, A. (2003). Working Memory: looking back and looking forward. Nat. Rev. Neurosci. 4: 829-839.

BALL, K., BERCH D.B., HELMERS, K.F., JOBE, J.B.,LEVECK, M.D., MARSISKE, M., MORRIS,J.N.,REBOK, G.W.,SMITH, D.M., TENNSTEDT, S. L., UNVERZAGT, F.W. & WILLIS, S.L. (2002). Effects of Cognitive Training Interventions With Older Adults: A Randomized Controlled Trial. Jama. 18: 2271- 2281. 135

FRANCISCO, B.R. Terapia Ocupacional. 3ª ed. São Paulo: Papirus, 2004:66.

SERRANO-GARCIA, I. ; COLLAZO, W. R. Contribuciones Puertorriqueñas a la Psicología Social-Comunitária. Puerto Rico: Ed.Universidad de Puerto Rico, 1992.