Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Os saberes e sabores da interdisciplinaridade como prática inovadora na formação em saúde
Lidiane de Fátima Barbosa Guedes, Arlene de Queiroz Alves, Sandra Cabral Portella

Última alteração: 2015-10-28

Resumo


O presente trabalho objetiva apresentar um relato de experiência acerca do Café Científico e Cultural com saúde, evento ético-formativo, idealizado desde o ano de 2013 pelo curso de Enfermagem da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP), na cidade de Salvador-BA. Trata-se de uma atividade semestral, com caráter de extensão, que visa promover e estimular o exercício da convivência interdisciplinar entre os estudantes dos cursos de Enfermagem e Biomedicina, a partir do protagonismo e autonomia dos mesmos, bem como a produção e compartilhamento de trabalhos científicos que tenham a interdisciplinaridade como foco. A composição teórico-metodológica do evento é fundamentada na Política Nacional de Humanização (PNH), do Sistema Único de Saúde (SUS), sendo a humanização entendida como: “a valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde; os valores que norteiam essa política são a autonomia e o protagonismo dos sujeitos, a corresponsabilidade entre eles, os vínculos solidários e a participação coletiva nas práticas de saúde.” (BRASIL, 2009). O Café Científico tem como Objetivo Geral promover espaços de trocas de experiências interdisciplinares na produção de saberes e práticas em saúde, envolvendo estudantes e professores dos cursos de saúde da EBMSP, a partir da referência do Núcleo Comum; e Objetivos Específicos: experimentar novos modos de ensino aprendizado na formação ético-estético-político do profissional de saúde; promover encontros de produção coletiva de saberes e práticas que envolvam temáticas interdisciplinares em saúde; estimular reflexões acerca da indissociabilidade entre a teoria e a prática do cuidado humanizado em saúde e convocar os estudantes a atuarem enquanto sujeitos autônomos e protagonistas do processo de ensino aprendizado. Sabe-se que o exercício da transversalidade enquanto princípio da PNH é um desafio para a construção de novas formas de atenção e gestão em saúde. Assim, discutir e experimentar esse exercício na graduação dos cursos de saúde se constitui em elemento de extrema importância para o aumento da comunicação intra e intergrupos. Se na PNH temos como norte transversal a aproximação entre trabalhadores, usuários e gestores, no campo acadêmico, tal aproximação convoca os estudantes, professores e gestores em saúde, a um deslocamento ético, afetivo e político. Nesse sentido, o acontecimento do Café torna-se um espaço potente para a troca de experiências na perspectiva interdisciplinar no campo da saúde. Os sujeitos envolvidos são estudantes e professoras do 1º semestre dos cursos de Biomedicina e Enfermagem através dos componentes Ética e Bioética, Metodologia Instrumental, Psicologia e Saúde; e estudantes e professora do 2º semestre de Enfermagem do componente Desenvolvimento do Ciclo de Vida. A realização do Café Científico está atrelada às seguintes etapas: 1ª Etapa: Apresentação da proposta do evento aos estudantes, no início de cada semestre letivo, em concomitância à apresentação dos planos de ensino dos componentes as professoras responsáveis por esses componentes discutem a proposta da atividade avaliativa, nomeada de Encontros Interdisciplinares para o Café Cientifico; 2ª Etapa: Preparação para a atividade avaliativa dos Encontros Interdisciplinares para o Café Científico – em cada componente curricular, a professora trabalha, por equipe de estudantes, a escolha de temáticas relevantes e transversais nos campos - da Saúde, Ética e Bioética e Psicologia - que se desdobram, por exemplos, em debates voltados aos Direitos Humanos, à diversidade sexual e gênero, às Políticas de atenção aos usuários de álcool e outras drogas, descriminalização do aborto e às  questões étnico-raciais,  sociais, culturais e políticas. 3ª Etapa: A organização dos Encontros Interdisciplinares para o Café Científico: requer dos professores envolvidos participação em reuniões semanais para alinhamento teórico, metodológico e logístico das atividades, e supervisões sistemáticas das equipes de estudantes de cada componente curricular. Em média há uma distribuição de 10 a 12, cada uma com 8 a 10 estudantes, participando, em média, 100 estudantes, e 4 apresentações por dia. 4ª Etapa: Momento de integração para os Encontros Interdisciplinares para o Café Científico: é promovido um momento de integração entre os estudantes desses diferentes componentes curriculares - em local que comporte em média 100 pessoas; 5ª Etapa: Realização dos Encontros Interdisciplinares para o Café Científico: durante 8 semanas os estudantes compartilham a apresentação dos seus trabalhos temáticos durante 30 minutos, utilizando-se de recursos artísticos. Nessa ocasião, os modos de pensar e agir o cuidado em saúde se amplia na direção da interdisciplinaridade, onde o diálogo e a produção de sentidos em saúde acontecem a partir da convivência entre os diferentes sujeitos e saberes. 6ª Etapa: Momento de Avaliação – A avaliação das apresentações é feita a partir de um Barema, previamente apresentado aos estudantes, embasado nos seguintes critérios: Habilidades Conceituais (comunicação e participação); Habilidades Procedimentais (cumprimento do roteiro e articulação conceitual com a proposta da interdisciplinaridade); Habilidades Atitudinais (criatividade), valendo 9 pontos. A autoavaliação, valendo 1 ponto, possibilita a reflexão crítica do processo ensino-aprendizagem dessa experiência. Essa etapa corresponde a 10 pontos da atividade avaliativa; 7ª Etapa: Escolha dos trabalhos para apresentação no Café Científico: a partir dos resultados do Barema utilizado na avaliação. São escolhidos três trabalhos para serem apresentados no Café Científico e Cultural com Saúde; 8ª Etapa: Café Científico e Cultural com Saúde: acontecimento protagonizado pelos estudantes do primeiro semestre dos cursos de Biomedicina e Enfermagem, em cumprimento aos créditos dos componentes curriculares: Metodologia Instrumental, Ética e Bioética e Psicologia e Saúde. No dia do evento, as comissões formadas pelos estudantes se incumbem de recepcionar, acolher e estimular os seus convidados a experimentarem um ambiente de trocas entre os diferentes sujeitos e debates no campo da saúde, tendo como foco a interdisciplinaridade. Dessa forma os participantes do Café são:  estudantes que integraram a etapa da atividade avaliativa dos Encontros Interdisciplinares para o Café Científico; e estudantes dos outros cursos da EBMSP e/ou de outros componentes curriculares que tenham desenvolvido trabalhos e vivências com enfoque interdisciplinar no campo da saúde; professores e colaboradores da EBMSP interessados em partilhar experiências artísticas culturais e científicas articuladas ao campo da saúde e interdisciplinaridade. No Café da Bahiana, estudantes, professores e colaboradores experimentarão e assistirão cenas artísticas culturais e criativas de temáticas atuais da área de saúde. O convite para os seus apreciadores apresenta as seções: Café com saúde: mesa redonda sobre o tema; Café em Cena: apresentação dos trabalhos realizados pelos estudantes da EBMSP; Café com Afeto: homenagem aos professores da instituição e apresentação de sua trajetória profissional e produção acadêmica na EBMSP e Café com ciência: “O que aprendi na Bahiana?” exposição de trabalhos inovadores desenvolvidos na EBMSP. RESULTADOS/IMPACTOS: a partir dessa experiência, contatou-se a constituição de um espaço demobilização dos estudantes do 1º semestre na organização de um evento científico e cultural bem como a mobilização dos professores na proposição de temas interdisciplinares como parte do processo avaliativo; além da aproximação dos estudantes do 1º semestre com o ambiente de produção científica e exercício de vivências interdisciplinares no campo da saúde entre os diferentes estudantes dos cursos de saúde da EBMSP. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A proposta deste trabalho evidencia a necessidade de investir na interdisciplinaridade, não apenas como um ideal a ser alcançado, mas como uma posição ética, estética e política na formação do profissional de saúde, valendo-se de uma estratégia de enfrentamento aos campos do saber ainda restritos à concepção do cuidado humanizado sob enfoque dos especialismos.

Palavras-chave


interdisiciplinaridade, Política Nacional de Humanização, saúde, formação

Referências


  • Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS. Clínica ampliada e compartilhada / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS. – Brasília: Ministério da Saúde, 2009.
  • SILVA, Maria Júlia Paes. Comunicação tem remédio: a comunicação nas      relações interpessoais em saúde. 8. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2011.
  • SPINK, M.J.P. Psicologia Social e Saúde: Práticas, Saberes e Sentidos.        Petrópolis, RJ. 3ª edição. Editora Vozes, 2003.