Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida
Suplemento Revista Saúde em Redes ISSN 2446-4813 v.2 n.1, Suplemento, 2016
POSSIBILIDADES E LIMITES DO ACOLHIMENTO E CLASSIFICAÇÃO DE RISCO EM URGÊNCIA: revisão sistemática integrativa
Daniela Machado PEREIRA, Alaíne Nicácio ROSA, Fernanda Barreto NEGREIROS, Mariana Morena Souza Araujo, Célia Maria Sales VIEIRA, Maria Teresa Brito Mariotti Santana
Última alteração: 2016-01-06
Resumo
INTRODUÇÃO: Os serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) destinada ao atendimento de urgência/emergência, onde são atendidos usuários em situações graves com risco de morrer elevado ou com alto grau de sofrimento, tem a demanda espontânea aumentada pela procura de usuários que não se enquadram nesse perfil, culminando com a superlotação e conseqüentemente com a baixa qualidade da assistência. É importante ressaltar que o acesso aos serviços do SUS, na atenção básica ainda é muito difícil, sendo que uma grande parcela da população, principalmente os usuários de baixa renda, enfrentam longas filas de espera para consultas e exames. A demanda espontânea ocorre, também, devido às características desses serviços, que funcionam vinte quatro horas por dia, todos os dias da semana, com equipe multiprofissional de saúde. Para ter o acesso ao atendimento com médicos especialistas, investigação laboratorial, não é necessária agendar o horário e nem pegar senha. Nesse contexto, a Política Nacional de Humanização do SUS, propõe a tecnologia leve de processo, o Acolhimento e Avaliação com Classificação de Risco (AACR), que pressupõe a determinação de agilidade no atendimento a partir da análise, sob a óptica de protocolo pré-estabelecido, do grau de necessidade do usuário, proporcionando atenção centrada no nível de complexidade e não na ordem de chegada. OBJETIVO: Analisar as possibilidades e limites para a implantação da tecnologia AACR nos serviços urgência/emergência, destacando os pontos positivos e negativos da prática do acolhimento e da classificação de risco. METODOLOGIA: Trata-se de uma revisão sistemática integrativa. A coleta de dados ocorreu nos meses de setembro e outubro de 2014, com a consulta dos estudos publicados em periódicos nacionais, e indexados na base eletrônica de dados LILACS, que compõe parte do acervo da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS). O descritor utilizado na busca eletrônica foi “Acolhimento”. A avaliação crítica dos estudos pré-selecionados foi realizada conforme os critérios: publicação como artigo abrangendo os anos de 2006 á 2014 independente do método de estudo; escrito em língua portuguesa; disponibilidade online com acesso gratuito do texto na íntegra, publicados na América do Sul. Resultou em um total de 87 artigos. Procedeu-se a leitura dos títulos e dos resumos. Foram validados para inclusão os artigos classificados como originais pelo editor do periódico, com resumos estruturados e que continham uma abordagem da prática da tecnologia do AACR, nos serviços de urgência/emergência. Excluídos os repetidos, ou que não retratavam, especificamente, o objeto do estudo. Obteve-se a amostra final com oito estudos para serem analisados na integra. Para a coleta de dados foi utilizado o formulário baseado no instrumento validado por Ursi (2005) para revisão integrativa, citado por Souza, Silva, Carvalho (2010, p. 106). Possui dois domínios: o primeiro contém as variáveis da representação das características da pesquisa original: ano de publicação, tema, título, autores, titulação dos autores, fonte de publicação, base de dado em que foi encontrado o texto na íntegra. A segunda obteve-se os objetivos, delineamento do estudo; coerência teórico-metodológica; análise dos dados, resultados e discussão; e conclusões. Foram preenchidos para cada estudo da amostra, selecionado os elementos mais relevantes, que se identifiquem com o objetivo do estudo. Em seguida, foram agrupados e analisados, para que assim, sejam elaborados os resultados, discussões e a conclusão deste estudo, a partir da comparação dos artigos analisados, estabelecendo-se uma relação das semelhanças e contradições contidas na literatura. Analisando os dados obtidos, os estudos foram subcategorizados, posteriormente categorizados em unidades temáticas. Para a apresentação dos resultados foi construído quadros, tabelas e gráficos, empregando técnica de estatística simples, com números inteiros, a fim de colaborar na consolidação dos achados, na explanação e na melhor compreensão dos resultados encontrados, tendo sempre como norteadores os objetivos previamente estabelecidos. Para esta construção, foram utilizados como ferramentas básicas os programas Microsoft Office Excel. RESULTADOS: Obteve-se referente à caracterização dos estudos foram encontrados em 2010 publicados três (37%) artigos; em 2011 publicados 2 (25%); em 2012 publicado 1 (12,5%); em 2013 publicados 2 (25%). Não foram encontradas publicações anteriores a 2010. Quanto à autoria dos estudos e a titulação, considerando até o terceiro autor, dezesseis eram enfermeiros (as) (duas com especialização, três com mestrado e seis com doutorado); três acadêmicos de enfermagem (duas graduandas e uma mestranda). Referente à análise da amostra composta pelos estudos incluídos emergiram duas categoria. Na primeira apresentam o conhecimento dos profissionais de saúde sobre o AACR como sendo uma tecnologia leve para a mudança do processo de trabalho com melhoria na organização do fluxo de atendimento dos usuários, com prioridade do atendimento para os casos potencialmente graves, classificados a partir da escuta sensível e qualificados pelo profissional, que se empenha para dar uma resposta satisfatória ao problema do usuário e acreditam que a tecnologia do AACR deve ser praticada, também com o acompanhante. Em outros estudos o conhecimento sobre o AACR apresenta-se limitado restrito ao setor da unidade ou ao profissional que faz a classificação. Na segunda categoria emergiram as dificuldades para implantação da AACR nas unidades de urgência/emergência devido à falta de interesse dos profissionais diante da demanda espontânea elevada pela ineficiência do funcionamento das Unidades Básicas de Saúde que se agrava com a deficiente estrutura física das unidades, sem recursos materiais, humanos e desarticulação entre os setores de uma mesma unidade e entre a rede de serviços do SUS. Também foi feita referência ao estresse e a sobrecarga de trabalho dos profissionais com consequente falta de sensibilidade para a escuta e o diálogo para a união entre as equipes de saúde. Reconhecem a necessidade de capacitação para os profissionais incluindo vigilantes, padioleiros, recepcionistas e agentes administrativos diversos como também é necessário capacitar o usuário e seus familiares. CONCLUSÕES: Diante dos estudos realizados aponta como possibilidade a implantação da tecnologia do AACR o conhecimento dos profissionais sobre essa tecnologia, pois favorece a humanização da relação usuário-profissional, para garantir a resolutividade de suas necessidades, assim como também a co-responsabilidade dos indivíduos envolvidos neste processo. Portanto o atendimento e a resolução dos problemas dependem da postura e ações dos usuários, profissionais e gestores. Quanto aos limites são grandes, principalmente, quando existe e ineficiência da atenção básica que gera demanda espontânea elevada para os serviços de urgência/emergência. A reorganização da rede de saúde pode ser fator fundamental para garantir a assistência integral e igualitária a toda população de acordo com sua prioridade Recomenda-se que sejam desenvolvidas ações educativas como ciclo de palestras nas universidades, nas comunidades e na sociedade em geral para difusão da Política Nacional de Humanização do SUS e a tecnologia do AACR.
Palavras-chave
Acolhimento; Classificação de risco; Unidades de Urgência
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