Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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PROCESSO DE INOVAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO SUPERIOR: O QUE SE PODE?
MICHELLY SANTOS DE ANDRADE

Última alteração: 2015-10-28

Resumo


APRESENTAÇÃO: Inovação pedagógica é uma expressão que tenta abarcar o uso de práticas e metodologias inovadoras no contexto da Educação, reconhecendo no estudante seu papel como protagonista de sua aprendizagem. Todavia, essa ainda não é uma realidade rotineira na Educação Superior como o é em outros níveis de atenção. Os docentes ainda demonstram resistência em experimentar novas possibilidades de ensino-aprendizagem, tornando moroso, difícil e distante a ruptura da prática tradicional de ensino. Apesar disso, nos últimos anos, tem havido por parte de IES e mesmo de alguns de seus docentes, a busca por ferramentas que tornem o ensinar e o aprender algo prazeroso e com sentido. Não obstante, o Ministério da Saúde em parceria com centros de formação importantes no país, tem reconhecido a urgência de se repensar a formação dos profissionais superiores da área da saúde, e medidas como a proposição das diretrizes curriculares nacionais para as 14 áreas reconhecidas, a oferta de cursos como ativadores da formação, baseado no arsenal das metodologias ativas, e ainda o apoio e financiamento de oficinas para sensibilização de docentes e discentes para o SUS, são alguns exemplos. Algumas características devem ser consideradas no processo de inovação pedagógica, tais como: a ruptura com a forma tradicional de ensinar e aprender; a gestão participativa com a atuação dos estudantes na definição de percursos e critérios no ensino; a reconfiguração de saberes incluindo também competências, arte, vivências pessoais; a reoganização da relação entre a teoria e a prática; a modificação da percepção da concepção, desenvolvimento e avaliação da experiência no ensino/aprendizagem; a mediação do docente assumindo relações sócio-afetivas com os alunos, como condição de aprendizagem significativa (subjetividade, conhecimento); o protagonismo como condição para aprendizagem significativa, reconhecendo que tanto estudantes quanto professores são sujeitos da prática pedagógica estimulando a produção de conhecimento pelos estudantes. Em 2013 no Congresso da Rede Unida, houve uma mesa sobre inovação pedagógica. Naquele momento, foram apresentadas as múltiplas metodologias disponíveis para se alcançar tal fim. Dentre elas, a pedagogia colaborativa, pedagogia de projeto, aprendizagem baseada em problemas (PBL), pedagogia invertida, pedagogia baseada na Filosofia da diferença de Deleuze e Guatarri e a “ciência intuitiva” proposta por Spinoza que considera a incorporação ou mesmo reconhecimento do conhecimento imanente à pessoa, produzido pelos afetos, pelas afecções decorrentes do encontro dos corpos, uma pedagogia da exposição. O objetivo do presente texto é narrar um processo de inovação pedagógica vivenciado em três disciplinas do curso de Fonoaudiologia, cujo eixo transversal foi a Saúde Coletiva. E propor um diálogo sobre o que se pode fazer em termos de inovação pedagógica na Educação Superior.   DESENVOLVIMENTO: O uso de práticas e metodologias inovadoras não está previsto na maioria dos projetos políticos pedagógicos dos cursos, cabendo a cada docente o livre uso daquelas que identificar como facilitadoras do processo de ensino-aprendizagem. Dessa forma, o relato presente refere-se às disciplinas de epidemiologia aplicada à fonoaudiologia e atenção à saúde da família, e, sobretudo, ao estágio supervisionado em saúde coletiva, que ocorre nas USF e com visitas técnicas a outros serviços da rede municipal, tais como CAPS, centro de práticas integrativas, serviço de atenção domiciliar, dentre outros. Nas disciplinas, o processo de inovação se inicia desde o primeiro encontro, quando os estudantes são solicitados a expressarem o que esperam da disciplina, o que e o pretendem fazer para alcançar esse objetivo, dando início a uma espécie de contrato pedagógico em que fica clara a responsabilidade de cada ator (professor-estudante). Isso já causa bastante estranhamento na maioria dos estudantes, pois ficam se questionando como isso é possível? Após esse momento, pactuamos ainda questões como horários, pontualidade na entrega das atividades a serem realizadas, dentre outras. Na execução da programação, a flexibilidade é percorrida ao máximo possível, seja atrasando um pouco ou avançando algum conteúdo que a turma entenda necessário. Como técnicas utilizamos várias possibilidades que vão desde a roda de conversa, aonde todos são estimulados e convocados a participarem das atividades, pequenos grupos, representação da aprendizagem por meio de cordel, paródia, dramatização, problematização e até mesmo, ao final da disciplina, a confecção de um produto que pode ser no formato de vídeo ou mesmo na forma de uma instalação artística. Dois exemplos dessa última foram na disciplina de atenção à saúde da família, na qual a turma subdividida por temáticas (saúde da criança, saúde da mulher e do homem, saúde do idoso e saúde mental), levaram para a mostra uma escultura representando o cuidado com a criança, um painel constituído por roupas íntimas, masculinas e femininas, para chamar atenção sobre o assunto de quem passava pelo lugar da exposição, um guarda-chuva, no qual cada haste havia uma foto que levava à reflexão da temática. No estágio, as possibilidades de afecção são ainda maiores pela frequência e intensidade dos encontros. Como instrumento, utilizamos o portfólio na sua versão reflexão, ou seja, além do registro das atividades realizadas durante e após as vivências nos cenários de prática e espaços de processamento, também é solicitado que os estudantes narrem como foi vivenciar tal situação e o que aquilo influenciou na sua formação profissional e humana. Recentemente, para auxiliá-los nesse processo, inserimos ainda o diário de aprendizagem, onde eles registram dia a dia, as cenas que lhe chamaram mais atenção. Isso tem permitido uma expressão da aprendizagem para além do conteúdo, mas reflexão sobre as práticas em saúde e na produção do cuidado, que envolve o compartilhamento de saberes na busca de uma atenção integral à saúde. Além disso, outra ferramenta potente tem sido o uso da educação permanente (EP) já no processo de formação, na lógica da indissociabilidade entre educação e trabalho, entre teoria e prática. Apostamos na aprendizagem como um processo inerente à atividade do trabalho e utilizamos a EP para analisarmos as relações de trabalho que estão diretamente envolvidas na produção de (des) cuidado. Alinhamos o conhecimento prático, à experiência em cada espaço, que se estende do ambiente puramente “acadêmico”. Produzimos saberes em quaisquer lugares e com quaisquer pessoas que estejam dispostas a trocá-los entre si. E uma aprendizagem que ultrapassa a linha do conteúdo, mas uma formação para a vida.   IMPACTOS: Para realização dessas atividades, os grupos precisaram reunir-se, traçar objetivos e metas, pensar nas formas de representar o conhecimento aprendido e nele as afecções do processo. Desenvolveram o agir comunicativo, tomada de decisões para planejamento de ações e reflexão sobre a formação ética-humanística necessária para atender às populações/questões ali representadas. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Inovações pedagógicas são possíveis, viáveis e exequíveis, apesar da resistência ainda presente, inclusive nos estudantes. O que se pode? Tudo que servir para facilitar a aprendizagem. Vale combinar técnicas, metodologias desde que o protagonismo estudantil seja promovido/ampliado. Vale apostar em se considerar as afecções presentes no processo de aprendizagem. Seja em relação a si próprio, aos outros. Respeitando a subjetivação de cada estudante. Vale o docente e mesmo o discente estar em educação permanente constante, indagar suas práticas, funcionamentos. Só não vale o ativismo pelo ativismo. Fácil é colocar as cadeiras em círculo; difícil é fazer as ideias circularem.  

Palavras-chave


INOVAÇÃO PEDAGÓGICA; EDUCAÇÃO SUPERIOR

Referências


CUNHA, M. I. da. Inovações pedagógicas: o desafio da reconfiguração de saberes na docência universitária. Cadernos Pedagogia Universitária, USP, 2008. https://www.ufpe.br/proacad/index.php?option=com_content&view=article&id=958&Itemid=208

 

FRANCO, T.B. A ÉTICA EM PESQUISA E A ESTÉTICA DO CONHECIMENTO. REVISTA BRASILEIRA DE SOCIOLOGIA | Vol 03, No. 05 | Jan/Jun/2015. www.sbsociologia.com.br/revista/index.php/RBS/article/download/.../74