Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Reflexões frente à participação em um curso de capacitação e qualificação da equipe de saúde para cuidadores de pacientes com incapacidade funcional
Josiane Emilia do Nascimento Wolfart, Thiago Amador Correia, Marcia Regina Martins Alvarenga

Última alteração: 2015-10-28

Resumo


Este resumo faz parte do relato de experiência da participação do projeto de pesquisa intitulado: “Curso de Capacitação para equipe de saúde na qualificação de cuidadores frente às necessidades de pessoas com incapacidade funcional”, promovido pelo Curso de Extensão, Cultura e Assuntos Comunitários da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - UEMS. O projeto consistiu na qualificação e capacitação de profissionais da saúde e cuidadores de pacientes com incapacidade funcional das unidades de Clínica Médica (adulto e idoso) de um hospital do interior do Estado. Por meio da qualificação destes profissionais espera-se criar novos referenciais em saúde para apoiar familiares e cuidadores, contemplando as ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação em saúde. O projeto teve como objetivo ampliar o atendimento especializado e melhorar a qualidade da assistência prestada a estes pacientes, suas famílias e outros cuidadores, garantindo-lhes segurança na assistência integral a partir do momento em que são admitidos no hospital, no percurso da internação e no momento da alta, bem como o cuidado na contra referência.  Através de práticas educativas, o curso desenvolveu-se da seguinte maneira: oficinais semanais com duração de quatro horas no período de três meses. A finalidade das oficinas foi promover discussões e tomadas de decisões a cerca dos temas sugeridos pelo facilitador – condutor do grupo. Formar grupos de estudos sobre estes temas, como por exemplo: o que é cuidado em saúde; no que consiste a incapacidade funcional; quais são as doenças crônicas mais comuns; sobrecarga do cuidador, dentre outros temas. Ao final de cada oficina eram definidas novas ações – tarefas – as quais conduziriam os próximos encontros. O facilitador teve a função de coordenar as atividades do grupo e finalizar cada encontro com o processo de reflexão das atividades desenvolvidas. Este processo consistia na avaliação formativa, ou seja, cada integrante fazia sua auto-avaliação - como foi sua participação no grupo - como foi a participação do grupo em si e como se deu a condução do facilitador, além de avaliar o conteúdo trabalhado nos encontros. Ao inicio de cada oficina era proposto pelo facilitador uma dinâmica de grupo, com objetivo de promover a interação e integração dos membros participantes, composto por profissionais das áreas de Nutrição, Enfermagem e Psicologia. O objetivo desta tarefa era reforçar a importância do trabalho em equipe, o envolvimento de todos no atendimento ao paciente e sua família facilitando seu acompanhamento de forma integral. Neste sentido a cooperação e o respeito ao próximo, seja ele paciente ou equipe, é primordial para o trabalho em saúde. Dentre as atividades desenvolvidas nas oficinas uma delas consistia no levantamento de artigos relacionados ao tema do cuidado e cuidador de pacientes com incapacidade funcional. No dia do encontro o grupo apresentou as definições encontradas na literatura, então o facilitador solicitou ao grupo que fizesse um levantamento das problemáticas apresentadas sobre tema, como por exemplo: Sobrecarga do Cuidador, problemas encontrados: solidão do cuidador, mudança nos hábitos de vida, falta de conhecimento do cuidado, enfrentamento da doença, uso de termos técnicos, crença em relação à doença, situação socioeconômica, entre outros. Depois de levantados os problemas foram construídas hipóteses que subsidiaram questões de aprendizagem para o grupo, disparando novas buscas e pesquisas com o intuito de responder as questões construídas e fundamentar o aprendizado do mesmo, exemplificando: O uso de termos técnicos gera dificuldade de comunicação entre equipe de saúde e público assistido? A falta de encaminhamento para a rede de saúde leva a sobrecarga do cuidador (recidivas do paciente)? A falta de conhecimento da família e do paciente aliada as suas crenças em relação à doença, provocam aflição e angustia e dificuldade de enfrentamento da doença? A cronicidade da doença junto com a condição socioeconômica gera limitação na atividade diária do doente e possivelmente, na adaptação a doença?Dentre outros. Esta atividade foi especialmente enriquecedora, pois mobilizou o grupo na busca ativa de literatura que tratavam dos temas abordados, comprovando ou refutando estas hipóteses, dando maior credibilidade ao processo de aprendizado do grupo além de poder entrar em contato com a realidade das demandas do serviço de saúde presentes no país, naquilo que vai de encontro à oferta de cuidado ao paciente com incapacidade funcional, família e outros cuidadores. Esta atividade também nos fez refletir sobre o cuidado em saúde ofertado em nossa instituição. Como parte da metodologia do curso, fomos capacitados para aplicação do instrumento MIF – Medida de Independência Funcional - preconizado pelo Ministério da Saúde. O instrumento mensura a ajuda necessária para realização de um conjunto de dezoito tarefas classificadas em seis dimensões, sendo elas: I autocuidado (cuidar de si mesmo: alimentação, higiene pessoal, banho, vestir-se); II controle dos esfíncteres; III transferências (capacidade de se transferir do leito para a cadeira e outros locais); IV locomoção; V comunicação (compreensão e expressão de ideias); e VI cognição social (relacionada à interação social). Cada profissional deverá avaliar as tarefas durante a aplicação do instrumento, em seguida o paciente receberá uma classificação em escala de graus de dependência, composta por sete níveis: nível 1 equivale à dependência total, níveis 2, 3 e 4 correspondem respectivamente à assistência máxima, moderada e mínima. O nível 5 diz respeito à supervisão - de outra pessoa ou cuidador -  quanto ao estímulo, preparo, controle, sugestão ou encorajamento para determinada atividade, ou ainda, quando é necessário que o cuidador prepare os objetos que serão utilizados ou ajude na colocação da órtese. O nível 6 trata da independência modificada, na qual as atividades requerem uma ajuda técnica, adaptação, prótese ou órtese e/ou são realizadas em tempo excessivo. Por fim o nível 7 é corresponde ao grau de independência completa, ou seja, aqui as tarefas são realizadas sem ajuda técnica, em tempo razoável. Através do MIF realiza-se uma avaliação das reais condições de cada paciente, discutidas em conjunto com paciente, família, cuidadores e equipe de saúde. A avaliação é base para planejamento assistencial e educacional na capacitação dos cuidadores – família – paciente mediante as necessidades de cuidados apresentadas; estendendo a orientações quanto ao uso de medicações, dietas, cuidados de higiene pessoal, referência ambulatorial, encaminhamentos para rede de saúde, possíveis dificuldades que venham a surgir com a mudança de rotina tanto do paciente quanto do cuidador. No âmbito institucional, pretende-se ampliar o contato com toda equipe de saúde, fortalecer o dialogo com a rede de Atenção Básica – referência e contra referência, objetivando diminuir o índice de re-internação hospitalar, prevenir ou retardar algumas complicações como piora do paciente; capacitar o cuidador para melhor enfrentamento da situação, evitando o adoecimento deste. O projeto ainda esta em andamento, o próximo passo é desenvolver as atividades na prática da instituição hospitalar. Entendemos que ainda existe muito a se fazer em nossa realidade. Problematizar nossa prática faz parte do processo de cuidado. Todo profissional de saúde, independente do seu papel, deve ser um operador do cuidado, preocupado em atuar no campo das tecnologias leves. É preciso uma aproximação maior dos membros da equipe de saúde e desta com o paciente e seus cuidadores. Por meio do acolhimento, responsabilização e vínculo - responsáveis pelo projeto terapêutico - conseguimos a promoção, prevenção e a recuperação em saúde, sobretudo, promotores de uma nova forma de pensar a saúde.

Palavras-chave


capacitação; cuidador; paciente;

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