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DIFICULDADES NO RECONHECIMENTO DO SUICIDIO POR PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM
Última alteração: 2015-11-24
Resumo
APRESENTAÇÃO: A cada ano, cerca de um milhão de pessoas morrem por suicídio no mundo, o que constitui uma importante questão de saúde pública e para além dos números, o impacto psicológico e social em uma família e na sociedade é inatingível. O suicídio é definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um ato intencional do indivíduo para extinguir sua própria vida, E vários fatores podem estar associados como, tentativas anteriores de suicídio, transtornos mentais como a depressão, transtornos por uso de álcool e outras drogas, ausência de apoio social, histórico de suicídio na família, forte intenção suicida, eventos estressantes e características sócio demográficas, tais como pobreza, desemprego e baixo nível educacional. Algumas tentativas de suicídio são vistas como manifestações histéricas e essa percepção desencadeia atitudes hostis e desumanizadas por parte da equipe de saúde, particularmente quando o risco de vida é mínimo ou nulo. Estas posturas acarretam em condutas assistenciais inadequadas e mesmo a desatenção dos casos ocorridos. Santos afirmam que a interpretação dos comportamentos suicidas, por parte dos profissionais de saúde, revela-se muito importante para determinar a atuação junto dos indivíduos, no que respeita ao atendimento hospitalar e ao posterior encaminhamento. Os sinais indiciários da seriedade da intenção suicida, tais como a comunicação prévia de que iria ou vai se matar, mensagem ou carta de adeus, planejamento detalhado, precauções para que o ato não seja descoberto, ausência de pessoas por perto que possam socorrer, tudo isso revela que quem quer cometer o suicídio apresenta alguns sinais anteriormente. É importante salientar que atitudes estigmatizastes influenciam negativamente a atenção e o tratamento recebidos pelos pacientes e, além disso, têm impacto na psicologia de receptor e no seu bem-estar, atuando como obstáculo considerável para a busca de ajuda, acesso ao tratamento, adesão e eficácia do mesmo. Objetivo: Descrever as dificuldades no reconhecimento do suicídio por profissionais de Enfermagem. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo qualitativo, exploratório, que propõe uma compreensão particular e profunda dos fenômenos sociais em questão. O campo empírico desta pesquisa teve como cenário de estudo um hospital público do município de Feira de Santana, Bahia. As participantes que compuseram este estudo foram 14 profissionais que fazem parte da equipe de Enfermagem, sendo elas 08 técnicas e 06 enfermeiras, que atuavam em unidades de emergência do hospital mencionado. Foi utilizada como técnica para coleta de dados a entrevista semiestruturada, e para o tratamento do material empírico foi adotada a análise de conteúdo temático proposta por Bardin. Todas as participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, observando-se os preceitos éticos em pesquisas envolvendo seres humanos. Os dados foram coletados no mês de Maio de 2015. As entrevistas foram realizadas durante os plantões, nas instalações próprias da unidade. As mesmas foram gravadas e transcritas após apresentação da atividade proposta e autorização do entrevistado. Para a sua operacionalização o projeto de pesquisa fora submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Nobre de Feira de Santana, sob o parecer de nº CAAE: 42053415.8.0000.5654, respeitando a Resolução n. 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde que dispõe das normas e diretrizes regulamentadoras para pesquisas em seres humanos. Resultados: A principal dificuldade percebida durante o relato dos entrevistados foi a dos profissionais em identificar os sinais associados ao suicídio, devido ao subjulgamento inerente ao atendimento, que por vezes os profissionais tendem a apresentar uma certa incompreensão em relação à pessoa que tentou o suicídio. Ao analisar a fala das entrevistadas percebeu-se que há um subjulgamento das mesmas em relação ao ato cometido pelos pacientes. Ao considerarem que supostamente as ações cometidas seriam mais uma forma para “chamar atenção”, demonstra as fragilidades no processo de identificação de uma tentativa de suicídio. Tais posicionamentos acarretam em condutas assistenciais inadequadas e mesmo a desatenção dos casos ocorridos. Os profissionais de enfermagem demonstraram dificuldade na compreensão do reconhecimento dos sinais que levam os indivíduos a cometerem suicídio a partir de uma concepção ampliada, que consideram como relevante para este reconhecimento, os elementos representativos e preciptadores, uma vez que estes indivíduos encontra-se em situação de suicídio. Outra problemática enfrentada pelos profissionais no momento do atendimento a pessoa vítima de suicídio, é a questão da estigmatização a estas. Esta dificuldade então, se torna expressiva ao considerar as falas que traduziam conceitos preconceituosos e naturalizadores do fenômeno da violência. Ficou evidenciado no estudo a presença de preconceitos e julgamentos, não havendo a compreensão de que esse problema pode desencadear uma depressão, e gerar novas tentativas por parte do indivíduo, podendo conseguir com êxito finalizar com a vida. Isso demonstra o quanto os profissionais que se encontram nas grandes emergências hospitalares estão despreparados para lidar com tais situações, e o quanto essas atitudes podem prejudicar na assistência prestada. Portanto, é de significativa relevância que os profissionais de enfermagem, possuam adequada informação a respeito do suicídio e dos comportamentos que estão diretamente relacionados a ele, para que de fato uma assistência mais acolhedora possa ser implementada. Foi possível identificar também, dificuldade na condução dos casos, bem como fragilidades no processo assistencial prestada pela equipe de enfermagem, uma vez que a concepção de dificuldade para estas profissionais está associada ao nível de comprometimento das vítimas. Com isso é importante que este profissional esteja capacitado, para que possa estar atento as expressões, pois simples gestos, olhares ou palavras podem ser interpretados pelo outro como ameaçadores. Outro fato importante a ser considerado é a questão da sobrecarga de trabalho por parte dos profissionais da emergência, a desarticulação entre os setores intra-hospitalares, ausência de leitos e dificuldades nas transferências para serviços e setores mais especializados, e poderão comprometer a qualidade da assistência prestada. Faz-se perceber comportamento suicida necessitam de uma assistência mais individualizada, intensa e que elas tentam prestar essa assistência mais completa, capaz de assistir esses pacientes na sua totalidade. Considerações Finais: O estudou evidenciou que os profissionais ainda desconhecem os sinais do comportamento suicida, não valorizam as demandas expressas pelos pacientes com comportamentos suicidas e enfrentam dificuldades na condução dos casos, negligenciando a complexidade da problemática. Sendo assim torna-se relevante discutir a problemática a fim de promover reflexões e mudanças de condutas. É importante enfatizar que o trabalho em equipe proporciona um atendimento individualizado, uma discussão mais detalhada do caso, aprofundamento nas causas associadas ao suicídio, como forma de promover um enfrentamento da problemática, conferindo resolubilidade a outras questões que não se resumem as afecções de ordem física. Dessa forma, uma atuação pautada nessas premissas abrange as intervenções técnicas e interação entre a equipe multidisciplinar de maneira a coordenar seus planos de ação.