Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Os territórios e as redes vivas de saúde no trabalho dos Catadores e das Catadoras de Resíduos Sólidos no município de Manaus/AM
Denise Rodrigues Amorim, Julio Cesar Schweickardt, Rodrigo Tobias Lima

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


APRESENTAÇÃO: O presente trabalho propõe uma investigação sobre os catadores de materiais recicláveis no município de Manaus e suas relações com o território urbano e formação de redes vivas de saúde. A proposta se insere num projeto maior que busca fazer a relação entre a territorialidade de grupos sociais com os territórios e as redes vivas de saúde na Amazônia. A temática se apresenta relevante porque ainda são poucos os estudos no âmbito da saúde coletiva sobre este grupo que vive e sobrevive da coleta de lixo.  Outro aspecto importante é que essas pessoas são invisíveis às políticas públicas de saúde. Do mesmo modo, passam despercebidos os usos e a percepção sobre o território urbano. O Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis – MNCR (2015) informa que há 600 cooperativas formais de catadores e estão registrados 40 mil profissionais, mas estima que no país há em torno de 800 mil pessoas atuando nesta atividade, sendo a maioria não organizada. A Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB) 2008 identificou que 50,8% dos municípios brasileiros tem como destinação final dos resíduos, os vazadouros a céu aberto (lixões).  A pesquisa apontou ainda que 26,8% das entidades municipais que faziam o manejo dos resíduos sólidos em suas cidades sabiam da presença de catadores nas unidades de disposição final desses resíduos. Tal atividade é exercida, basicamente, por pessoas de um segmento social estigmatizado pelo mercado de trabalho formal, que têm na coleta de materiais recolhidos nos lixões ou aterros uma fonte de renda que lhes garante a sobrevivência. Não se tem conhecimento, dentro da escala de valores das categorias profissionais, de nenhuma outra atividade que seja tão marginalizada e desprestigiada socialmente como o trabalho dos catadores. Observando estes aspectos, este estudo exploratório pretende investigar e analisar as condições de trabalho destes sujeitos na relação com o território e as redes que os mesmos constroem para responder às questões de saúde, tanto as informais quanto as formais, como o Sistema Único de Saúde – SUS. Entendemos que a identidade social desse grupo está diretamente relacionada com a dimensão da organização social e com as noções de espaço e lugar. Neste sentido, norteiam esta proposta algumas questões: Como estes sujeitos constroem sua identidade no espaço social urbano a partir da organização social? Como os catadores acessam os serviços de saúde da rede municipal? Quais as redes de saúde que são acessadas por esses sujeitos no território vivo? Como a política de saúde identifica e compreende esse grupo social? Qual a noção e uso do território dos catadores? Como os serviços de saúde e suas equipes tem olhado para estes sujeitos, muitas vezes confundidos com populações de rua e que carregam sobre si o estigma do preconceito e da invisibilidade? Em outro ângulo, qual a percepção dos catadores quanto ao acesso e o atendimento nos serviços de saúde e o entendimento de prevenção e promoção da saúde? Como esses sujeitos constroem o seu cuidado? O lixo vem, cada vez mais, sendo ressignificado como produto de valor para a indústria de reciclagem no país, movimentando uma complexa cadeia onde os catadores se apresentam como os primeiros agentes desta linha, mas os últimos em reconhecimento e direitos. Ainda, como caminho na pesquisa, investigaremos as iniciativas de articulação coletiva dos catadores que surgem como tentativa de diminuir a exclusão social e a precariedade do trabalho. Ao se organizarem, os catadores potencializam sua capacidade de mobilização de negociação com o poder público e outros setores da sociedade na busca de valorização e direitos. As cooperativas de trabalho, em geral, permitem incorporar os trabalhadores que estão fora do mercado formal restituindo direitos, renda e cidadania. Desse modo, iremos pesquisar os catadores que estão organizados em torno do MNCR. A territorialidade desse tipo de profissional é outro aspecto a ser observado porque percorre o espaço urbano com olhos naquilo que é descartado e jogado. O espaço urbano é um lugar de produção de vida e de sustentabilidade, no qual os materiais recicláveis criam possibilidades de fazer relações e redes. Sendo assim, o espaço da rua também é um lugar de saúde, de multiplicidade preenchida por diferentes sentidos e de produção de redes vivas. O tema de rede tem sido cada vez mais requisitado e explorado na atualidade e se apresenta em vários contextos. A noção de Rede Viva aqui proposta se traduz como modo de produção das conexões existenciais de indivíduos e coletivos, em diferentes contextos de grupalidade e modos de viver, socialmente. Os catadores e catadoras, enquanto redes de existências possuem suas próprias éticas existenciais e modos de conduzir suas vidas, dentre outra lógicas diferentes de existir em um território dinâmico e vivo. Desta forma, nos interessa compreender essa territorialidade a partir de um público que percorre o espaço urbano cotidianamente sob a perspectiva do resíduo e do refugo da sociedade marcadamente capitalista. Os referenciais teóricos do estudo serão pela discussão das redes vivas e micropolítica do cuidado propostos por Merhy (2007), Franco e Merhy (2013) e Gomes e Merhy (2014).  As referências de território vivo Merhy (2007) e Passos, Kastrup e Escóssia (2019); Ferlaetall (2015). Além disso, utilizaremos como referencial a produção das pesquisas do Laboratório de História, Políticas Públicas e Saúde na Amazônia – LAHPSA, especialmente em relação à educação permanente em saúde e a regionalização, organizada por Schweickardtetall (2015). A metodologia será de pesquisa participante com a participação ativa dos catadores em todos os momentos da pesquisa, portanto, a pesquisa é de natureza compartilhada. Os catadores serão convidados a participar da pesquisa como pesquisadores e participar ativamente da construção do conhecimento. Realizamos atividades com os catadores, portanto,  estes já estão na nossa rede de colaboração. Por outro lado, realizaremos uma prospecção com os profissionais de saúde da rede de saúde para que possamos nos aproximar das percepções desses sobre os catadores.  O recurso do diário de campo será utilizado como uma forma de cartografar o território de vida dos profissionais catadores. Os resultados desta pesquisa pretendem contribuir com as políticas públicas, com o próprio movimento dos catadores tanto no aspecto da identidade como da participação social na saúde e podem subsidiar futuras iniciativas de intervenção. 

Palavras-chave


Trabalho; participação social; territorialidade; redes vivas de saúde

Referências


Referências Bibliográficas

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FRANCO, Túlio Batista; MERHY, Emerson. Trabalho, produção do cuidado e subjetividade em saúde. São Paulo: Hucitec, 2013.

GOMES, Maria Paula Cerqueira; MERHY, Emerson (orgs). Pesquisadores IN-MUNDO: um estudo da produção do acesso e barreira em saúde mental. Porto Alegre: Rede Unida, 2014.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Amazonas: Manaus. Disponível em: http://cidades.ibge.gov.br/xtras/temas.php?lang=&codmun=130260&idtema=20&search=amazonas|manaus|pesquisa-nacional-de-saneamento-basico-2008 >. Acesso em 10 out. 2015

MERHY, Emerson. Saúde: a cartografia do trabalho vivo. 3 ed. São Paulo: Hucitec, 2007.

MOVIMENTO NACIONAL DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS. Tecnologia para reforçar organização. 2015. Disponível em:http://www.mncr.org.br/noticias/noticias-regionais/tecnologia-para-reforcar-a-organizacao. Visualizado em 14 de outubro de 2015.

PASSOS, Eduardo; KASTRUP, Virgínia e ESCÓSSIA, Liliana da (Orgs). Pistas do método da cartografia: Pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2009.

SCHWEICKARDT, Júlio; SOUSA LIMA, Rodrigo Tobias; CECCIM, Ricardo; CHAVES, Simone; FERLA, Alcindo Antônio. Educação Permanente em Gestão Regionalizada da Saúde: Saberes e Fazeres no Território do Amazonas. Porto Alegre: Rede Unida, 2015