Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Síndrome de Burnout em Enfermeiros da Estratégia Saúde da Família: fator trabalho como produtor de saúde/doença
Francisco Wagner Pereira Menezes

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


APRESENTAÇÃO: A partir da evolução do conceito de saúde, considerado atualmente como um estado de completo bem-estar, inserem-se como fatores relevantes na construção da saúde dos indivíduos diversos pontos de sua vida, conceituados como determinantes sociais da saúde (DSS), que são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população, sendo a ocupação/trabalho do indivíduo fator relevante na produção de sua saúde.  Nesse contexto, surge a atuação do enfermeiro na atenção básica, mais precisamente na Estratégia Saúde da Família (ESF), caracterizada como serviço que incorpora e reafirma os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), tendo como meta ser substitutivo do modelo biomédico hegemônico. Como forma de territorialização permite a demarcação de um espaço concreto de atuação da equipe de saúde, tendo o núcleo familiar como base e unidade para o desenvolvimento de sua atuação. Portanto, os trabalhadores inseridos nesse modelo de atenção à saúde ficam expostos à realidade destas comunidades nas quais, muitas vezes, os recursos são escassos para atender às complexas demandas com as quais se deparam. Somam-se a isto, algumas falhas na rede de atenção à saúde que se refletem no trabalho e afetam a resolutividade das ações. Passos geradores de frustração, estresse e tensão, implicando diretamente no seu nível de saúde e qualidade de vida. Surgem, então, neste ínterim, adoecimentos físicos e/ou psicológicos, apresentando-se a síndrome de burnout como um deles, considerando-se que decorre de altos níveis de tensão e desgaste no trabalho, os quais, por sua vez, conduzem a inadequadas atitudes de enfrentamento das situações de conflito. A Síndrome de Burnout (SB) foi descrita pela primeira vez como sentimento de fracasso e exaustão causado por um excessivo desgaste de energia, força e recursos, descrevendo-se como um "incêndio interno" resultante da tensão produzida pela vida moderna, afetando negativamente a relação subjetiva com o trabalho. O desenvolvimento dessa síndrome decorre de um processo gradual de desgaste no humor e desmotivação acompanhado de sintomas físicos e psíquicos. O trabalhador perde o sentido da sua relação com o trabalho. Objetivou-se identificar a frequência de casos de SB e relacionar os determinantes sociais com suas dimensões em enfermeiros da Estratégia Saúde da Família do município de Maracanaú, Ceará. METODOLOGIA: Tratou-se de um estudo de associação, realizado com 40 enfermeiros. Os dados foram coletados em 2011, utilizando o instrumento de avaliação MBI. A pesquisa teve aprovação do Comitê de Ética da Universidade Estadual do Ceará, sob protocolo de nº 10724916-2, tendo sido realizados os procedimentos éticos conforme resolução n° 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Sobre as dimensões MBI (cansaço emocional, despersonalização e realização pessoal), foram classificadas em níveis baixo, médio e alto. Os participantes mostraram percentagens significativas dos critérios que corroboram positivamente para a inclusão dos enfermeiros do estudo no quadro clínico da Síndrome de Burnout. Um quarto (22,5%) apresentou níveis altos de cansaço emocional, mais de um terço (37,5%) níveis altos de despersonalização e apenas 2,5% os níveis baixos de realização pessoal, o que revela que os profissionais sentem-se realizados profissionalmente, exaustos emocionalmente e experimentam sentimentos de distanciamento afetivo de seus clientes, com médias de 21,4 (+5,8), 8,9 (+3,1) e 33,1 (+4,2), respectivamente. Em relação ao tempo de atuação na profissão, aqueles com < 5 anos apresentaram níveis baixo de cansaço emocional, médio de despersonalização e alto em realização profissional (25%, 30% e 32,5% respectivamente), enquanto que os que possuíam > 5 anos, tiveram níveis médios de cansaço emocional (17,5%), médio e alto de despersonalização (15%) e alto de realização profissional (20%). RESULTADOS: Os resultados obtidos nessa pesquisa identificam nas três dimensões do Burnout, prevalência de níveis médios de cansaço emocional e despersonalização, e níveis altos de realização pessoal. De acordo com o estudo, jovens e pessoas com maior tempo de atuação são mais suscetíveis ao desenvolvimento da SB. Dentre as três dimensões, a baixa realização pessoal foi a menos observada nos enfermeiros do estudo, a maioria dos participantes 52,5 % da amostra apresentaram níveis altos de realização pessoal, ou seja, níveis baixos de insatisfação pessoal. Esse resultado expõe a satisfação dos profissionais enfermeiros, apesar das dificuldades do cotidiano dos serviços. A possibilidade de ajudar o próximo é referência constante. Em relação à prevalência da Síndrome de Burnout (de acordo com os critérios de Grunfeld), obtivemos um resultado bastante relevante de que 52,5% dos enfermeiros apresentavam a síndrome. O estudo reafirma as evidências que confirmam o trabalho em más condições como importante determinador social de saúde, influindo aqui negativamente sobre os profissionais enfermeiros da ESF do município de Maracanaú. Dessa forma, observou-se influência do trabalho sobre a qualidade de vida e saúde do grupo pesquisado, de modo que os níveis das dimensões do MBI mostraram profissionais realizados profissionalmente, exaustos emocionalmente e experimentado sentimentos de distanciamento afetivo de seus pacientes. Foi encontrada uma frequência elevada de casos de SB (52,5%) e, embora não tenha havido associação entre os determinantes sociais e as dimensões da SB, verificou-se que estão presentes em maior frequência nos grupos das dimensões de maior fragilidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Diante dos resultados encontrados, urge em nossa realidade a necessidade de criar estratégias de maior valorização e cuidado para com os enfermeiros e outros profissionais da saúde, quem sabe assim o ambiente de trabalho possa, finalmente, ser um lugar de conforto e de cuidado tanto para aquele que busca o acolhimento humano para o seu padecer, quanto para aquele que acolhe o padecimento, já que, como vimos, os dois polos dessa relação parecem enfraquecidos por aquele lugar que se intitula serviço de saúde. Os casos de SB encontrados nesse grupo de profissionais podem ser considerados altos, sendo necessárias medidas de controle dos fatores geradores dos sinais e sintomas e a luta pela valorização profissional e melhoria das condições de trabalho por parte da própria classe e dos gestores. Além disso, e agindo de modo mais local, a identificação e o controle dos fatores geradores dos sinais/sintomas apresentados pelos trabalhadores pesquisados podem contribuir na promoção da sua saúde individual, da saúde do grupo de trabalhadores de enfermagem (sujeitos às mesmas condições de trabalho) e na melhoria da qualidade dos serviços prestados. O trabalho fornece subsídios à caminhada rumo a uma prática de enfermagem segura para os seus trabalhadores.    

Palavras-chave


Enfermagem; Estratégia Saúde da Família; Síndrome de Burnout