Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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GERENCIAMENTO DA TERAPIA MEDICAMENTOSA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA DO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE: uma autoetnografia da transformação profissional
Daniela Álvares Machado Silva, Clarice Chemello, Djenane Ramalho de Oliveira

Última alteração: 2015-11-27

Resumo


APRESENTAÇÃO: A atenção primária à saúde (APS) é o ponto central no Sistema Único de Saúde (SUS) para a construção de Redes de Atenção à Saúde (RAS), cujo foco é multiprofissional, com o objetivo de atender um paciente com um caráter cada vez mais crônico. Nesse contexto, o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) constitui-se em retaguarda especializada para estratégia saúde da família (eSF), atuando no lócus da própria APS. Entretanto, para desenvolver um trabalho compartilhado e colaborativo faz-se necessário que todos os profissionais envolvidos sejam capazes de se reconhecerem como coparticipes do cuidado ao paciente. A falta de clareza do papel do farmacêutico no cuidado ao paciente dificulta a responsabilização e compreensão da sua real contribuição como profissional de saúde, tornando-o vulnerável dentro da proposta de atuação do NASF. Neste sentido, é necessário que haja uma sistematização da prática clínica do farmacêutico inserido no NASF, visando aumentar os benefícios e a segurança relacionados ao uso dos medicamentos. OBJETIVOS: Compreender a experiência de ser uma provedora de Gerenciamento da Terapia Medicamentosa (GTM) na Atenção Primária no município de Belo Horizonte. METODOLOGIA: Estudo autoetnográfico, para o qual utilizou-se de técnicas de observação participante e reflexões em diário de campo  para descrever e analisar sistematicamente as experiências da pesquisadora com o objetivo de compreender uma experiência cultural. Ademais, entrevistas semiestruturadas foram realizadas com outros farmacêuticos que vivenciam experiências semelhantes na APS. RESULTADOS: A análise das narrativas da pesquisadora, bem como das entrevistas realizadas, levaram a descobertas sobre a atuação clínica do farmacêutico na APS que emergiram em uma linha do tempo, aqui listadas como os seguintes temas: 1. Centrada no medicamento: o papel da formação tecnicista do farmacêutico e a dificuldade de centralização no indivíduo no desenvolvimento das ações do cuidado, até então desconhecidas. Dificuldade de se localizar e desenvolver a tomada de decisão e responsabilização sobre suas ações. 2. Desafiando conhecimentos anteriores: Após exposição à atenção farmacêutica, sistematização da prática e raciocínio clínico que o GTM proporciona, a farmacêutica começa a desafiar a forma de olhar o outro e suas condutas enquanto profissional de saúde. 3. Isolamento: A partir desse momento percebe-se diferente dos outros profissionais de saúde e não se encaixa mais no conceito desenvolvido pelos outros farmacêuticos dentro da APS no âmbito do NASF. 4. Expectativas para a transformação da prática: Início da atuação clínica com a metodologia do GTM e toda a mudança de paradigma que esta proporciona. 5. Buscando o meu lugar (Como se faz GTM?): Aceitação e entendimento da prática como referencial teórico-metodológico para seu posicionamento frente ao papel clínico exigido e enfrentamento dos problemas relacionados ao uso do medicamento junto ao paciente e junto aos outros profissionais de saúde envolvidos. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A autoetnografia apresenta-se como trajetória metodológica rica e capaz de iluminar os processos envolvidos na transformação do farmacêutico tradicional para o farmacêutico do cuidado no contexto da APS.

Palavras-chave


gerenciamento da terapia medicamentosa; atenção primária; atenção farmacêutica

Referências


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