Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A importância da Educação Permanente relacionada à execução de curativos numa Unidade Básica de Saúde: um relato de experiência
CLAUDIA DA CRUZ PARIS, Carol Lanne Moura, Joana D'Arc Alves da Silva, Nadja de Carvalho Moreira de Oliveira

Última alteração: 2015-12-07

Resumo


APRESENTAÇÃO: Trata-se de um Relato de Experiência vivida em uma UBS na cidade de Duque de Caxias, Rio de Janeiro, na sala de curativos, os quais são realizados por profissionais despreparados para a execução da técnica. Além disso, a sala é inapropriada para tal prática. Conta com um tanque, onde todos os pacientes indiscriminadamente têm seus pés lavados, um após o outro, insumos pouco diversificados e em quantidade muito limitada, além de reduzido quantitativo de E.P.I. (equipamento de proteção individual). Não há bandejas disponíveis, nem mesmo campos estéreis. Baseados no que afirma a Lei nº 7.498/86, de 25 de junho de 1986, que dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem e dá outras providências, em seu artigo 11°, são atribuições PRIVATIVAS DO ENFERMEIRO, consulta de enfermagem e prescrição da assistência de enfermagem. Isto posto, entendemos a relevância da Consulta de Enfermagem no cuidado aos pacientes com úlceras venosas. Desta fazem parte o Exame Físico e a Anamnese, nos quais o enfermeiro deve ter olhar o holístico para com o paciente, visando seu bem-estar, numa perspectiva que leve em consideração todos fatores relacionados ao processo de adoecimento. Além disso, apesar de o Técnico ou Auxiliar de enfermagem serem autorizados pelo Código de Deontologia de Enfermagem a executarem curativos, é impossível que estes sejam feitos sem a supervisão técnica e orientação do profissional Enfermeiro. Sendo assim, decidimos realizar a capacitação, sem desconsiderar a questão da sensibilização do quadro de funcionários, visando o papel do enfermeiro como educador e transmissor de conhecimento na objetivação de promover o bem-estar da comunidade. O Ministério da Saúde, por meio da Portaria nº 198/GM/MS em 13 de fevereiro de 2004, institui a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS) como estratégia do Sistema Único de Saúde (SUS) para a formação e o desenvolvimento de trabalhadores para o setor e dá outras providências. A educação tem por objetivo ampliar a competência do profissional, ofertando-lhe ferramentas técnico cientificas para que este, de forma autônoma, possa solucionar determinadas situações cotidianas. A mesma é reconhecida como trabalho que articula a atenção à saúde, a formação, a gestão e o controle social para a transformação das práticas de saúde e da organização no trabalho. A educação permanente consiste no desenvolvimento pessoal que deve ser potencializado, a fim de promover, além da capacitação técnica específica dos sujeitos, a aquisição de novos conhecimentos, conceitos e atitudes. Entendemos então, que a Educação Permanente em Saúde promove processos formativos estruturados a partir de problematização do seu processo de trabalho, cujo objetivo é a transformação das práticas profissionais e da própria organização do trabalho, tornando como referência as necessidades de saúde das pessoas e das populações, da gestão setorial e o controle social em saúde. OBJETIVOS: Este trabalho tem por objetivo apresentar uma experiência vivenciada em uma UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE (UBS) do município de Duque de Caxias/Rio de Janeiro por discentes do curso de Enfermagem da Universidade UNIGRANRIO, do nono período, realizando Estágio Integralizador com a docente Enfermeira Mestranda Nadja Moreira. METODOLOGIA: A experiência deu-se pela vivência das práxis in loco na sala de curativos de uma UBS. Sendo a úlcera venosa, um problema de saúde pública, caracteriza-se pela principal causa de acesso à UBS pelos pacientes que frequentam a sala de curativos durante anos, sem apresentar melhora. Observamos lesões com más condições de cicatrização e o tratamento em desacordo com as principais recomendações da literatura, sendo necessário repensar a organização dos serviços para atender melhor essa população. Os pacientes que comparecem para a realização dos curativos diariamente têm lesões crônicas por muitos anos sem evolução clínica. Isto despertou-nos a atenção para a técnica empregada nesses pacientes, e tomamos a iniciativa de realizar a Educação Permanente na Unidade sobre Curativos. RESULTADOS: Com o apoio da direção da Unidade marcamos data e hora e divulgamos com cartazes o tema a ser palestrado, além da divulgação “boca-boca”. Realizamos a palestra que teve duração de aproximadamente 1h30min., com auxílio visual de data show, apresentando slides ilustrados e de forma dinâmica. Também foram confeccionados folders explicativos. Além disso, foi disponibilizada uma apostila digital, no formato PDF, a qual foi enviada para os presentes via e-mail. Houve uma adesão de aproximadamente 50% (cinquenta por cento) do quantitativo de funcionários da unidade. Houve, por parte de alguns, certa resistência à capacitação, o que se deve também ao fato de a educação permanente ser situação estranha para estes e pouco frequente. Apesar disso, os que estiveram presentes, participaram ativamente do evento, fazendo anotações e alguns comentários positivos. Sabemos que, capacitações esporádicas proporcionam efeitos efêmeros. Todavia, esta foi nossa tentativa de disparar na unidade a percepção por parte da chefia de enfermagem de que o papel do Enfermeiro é não somente o de assistência de saúde, mas também o de educar. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A educação permanente representa ferramenta de suma importância no desenvolvimento da enfermagem enquanto ciência e profissão. Cabe ao enfermeiro, detectar em sua equipe, fragilidades técnico-científicas, dirimindo erros, evitando a iatrogenia, e contribuindo para a diminuição das desigualdades entre profissionais, sejam eles do serviço público ou privado. Não é concebível que haja diferença de capacidade entre os servidores de saúde destes serviços, quando a população atendida é vitimada por uma segregação social que atinge diretamente a saúde. Esta passa a ser direito não mais de todos, mas somente de alguns, aqueles financeiramente mais abastados, enquanto que aos menos favorecidos resta um serviço público, rotulado como ineficiente e indigno dos mais ricos. No SUS, o sistema interage para a promoção, proteção e recuperação da saúde. Seus princípios doutrinários rezam a universalidade, equidade e integralidade. Tal sistema e tais princípios participam conjuntamente da efetivação da democracia brasileira, a partir do momento em que, todo cidadão tem o direito de acesso à saúde, em seus variados níveis de atenção. A UBS, que compõe o nível primário desta atenção, o qual deve ser porta de entrada para o sistema, não deve de forma alguma configurar espaço de discriminação e desigualdade para a população.

Palavras-chave


ATENÇÃO BÁSICA, EDUCAÇÃO CONTINUADA, ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM

Referências


Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. 
Departamento de Gestão da Educação na Saúde. Política de educação e desenvolvimento para o SUS: caminhos para a educação permanente em saúde: pólos de educação permanente em saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Departamento de Gestão da Educação na Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde; 2004.


SILVA, Jaqueline Alcântara Marcelino da; PEDUZZI, Marina. Educação no trabalho na atenção primária à saúde: interfaces entre a educação permanente em saúde e o agir comunicativo. Saude soc.,  São Paulo ,  v. 20, n. 4

CUNHA, Ana Zoé Schilling da et al; Implicações da educação permanente no processo de trabalho em saúde. Revista espaço para a saúde, Londrina, v. 15, n. 4, p. 64-75, Out-Dez. 2014