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GLOBAL HEALTH WATCH 4: EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO EM SAÚDE GLOBAL
Última alteração: 2015-10-29
Resumo
APRESENTAÇÃO: Trata-se de relato de experiência sobre a participação no ciclo de encontros denominado “Tópicos em Saúde Global - Global Health Watch4”, ação promovida no primeiro semestre de 2015 por ativistas do Movimento pela Saúde dos Povos que atuam em diferentes instituições: Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Escola de Saúde Pública do Estado do Rio Grande do Sul (ESP/RS) e Universidade de Bolonha - Itália. Os objetivos do ciclo eram estudar, discutir e problematizar questões relevantes contemporâneas, no campo da Saúde Global, tendo como ponto de partida a análise elaborada por movimentos sociais na publicação “Global Health Watch 4 – AnAlternative World Health Report”. Para avaliação das atividades realizadas foram utilizadas as críticas feitas pelos participantes ao término do ciclo de encontros. METODOLOGIA: As inscrições para o ciclo de encontros eram gratuitas e realizadas por e-mail. Trabalhadores da saúde envolvidos com movimentos sociais foram estimulados a participar. Houve um total de 85 inscritos. Destes, 35 compareceram aos encontros e 14 aceitaram avaliar a ação. As atividades foram desenvolvidas ao longo de dois meses, em encontros semanais, totalizando carga horária de 15 horas-aula. Consistiam na leitura e na discussão de textos selecionados do livro - publicação em língua inglesa, resultado de uma iniciativa colaborativa de seis organizações da sociedade civil e que envolveu ativistas e acadêmicos de todo o mundo. O livro foi estruturado para discutir e questionar as políticas vigentes de saúde e propor alternativas, através de análises críticas dos principais temas de saúde da atualidade e da apresentação de histórias de resistência de coletivos de diversos países. As discussões promovidas visaram ajudar os participantes a compreenderem as dinâmicas da Saúde Global e a correlacionar os temas estudados às realidades locais.Os tópicos discutidos foram: a crise da saúde em um contexto de globalização neoliberal e a luta social e da saúde na América Latina; o atual discurso da Cobertura Universal no âmbito do SUS; o papel dos agentes promotores de saúde; a crise da saúde materna e reprodutiva; determinantes sociais e estruturais de saúde: violência de gênero e soberania alimentar; financiamento da saúde: o papel das ONGs e a influência do setor privado sobre as políticas públicas de saúde; histórias de luta e resistência em saúde: mapeamento e cartografia de movimentos e territórios.O ciclo de encontros foi coordenado por duas professoras (Cursos de Fonoaudiologia e Saúde Coletiva), ambas do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UFRGS, e uma servidora da ESP/RS. A ideia inicial foi concebida por duas acadêmicas (Cursos de Saúde Coletiva/UFRGS e Medicina da Universidade de Bolonha - Itália, em intercâmbio na Faculdade de Medicina da UFRGS) que colaboraram na realização da ação. Os tópicos foram pré-selecionados pelas ministrantes e reavaliados no primeiro encontro, através da validação dos participantes. Ao término das atividades, os participantes foram incentivados a avaliarem, de forma anônima, o ciclo de encontros. RESULTADOS: A participação no ciclo de encontros proporcionou uma aproximação com políticas internacionais e nacionais de saúde e visou fornecer ferramentas que possibilitem a seus participantes desenvolverem análises críticas sobre os tópicos tratados ao longo das atividades. Acredita-se que a apresentação dos temas, feita em conjunto com histórias de resistência, seja elemento provocador do questionamento do modelo biomédico vigente e mobilizador de alternativas de enfrentamento às estratégias colonizadoras em saúde. Além disso, os encontros permitiram a expansão das redes dos participantes, que entraram em contato com as narrativas contidas no material de apoio, mas também com as situações vivenciadas pelos próprios colegas de aula, descobrindo nessas pessoas companheiros de luta e apoiadores. As avaliações dos participantes ressaltaram a inovação das atividades propostas e o fato de existirem poucos espaços, seja na academia, seja no âmbito do trabalho, para discussão dos tópicos abordados. Os participantes também destacaram a metodologia, apontada como participativa e horizontal, a relevância dos tópicos discutidos e a maneira como foi feita a escolha dos temas - pré-seleção pelas proponentes da ação e decisão final em conjunto com os participantes -, além da possibilidade de ouvir as experiências de colegas de aula de diversas formações e que atuam em diferentes campos. A relevância dos assuntos debatidos, a aplicabilidade das ferramentas abordadas nas discussões no cotidiano de trabalho também foram pontos indicados como positivos, tendo sido apontado também que as discussões trouxerem um novo ânimo para o trabalho.A leitura em língua inglesa foi um ponto indicado como positivo por alguns participantes e negativo por outros. Outro ponto ambíguo foi o horário: os encontros foram planejados para serem noturnos e permitirem que trabalhadores também tivessem a possibilidade de participar. Esse ponto foi elogiado por uma parte dos participantes, tendo sido, também indicado como uma dificuldade, principalmente em relação ao deslocamento, pois o local era distante do centro da cidade e o início das aulas era em horário de bastante trânsito em Porto Alegre. Algumas avaliações indicaram a necessidade de sair de sala de aula e ir a campo, o que inicialmente foi proposto, não tendo sido possível em função do horário e do local onde eram realizadas as atividades. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Após o ciclo de encontros, acredita-se que seus participantes são capazes de compreender melhor as dinâmicas de Saúde Global, contextualizar os tópicos estudados em relação às realidades locais, reconhecer e interagir com espaços promotores de saúde na comunidade. As discussões realizadas contaram com a participação ativa da maioria dos presentes, que apresentaram suas realidades de vida e de trabalho através dos tópicos propostos, processo que evidenciou as inter-relações entre fenômenos locais e globais e seu caráter indissociável e possibilitou, ainda, um ambiente de troca de experiências e aprendizados. Os participantes seguem em contato através de grupo de discussão criado para o ciclo e através dos canais do Movimento pela Saúde dos Povos. Não se espera em absoluto que o ciclo de encontros tenha sido suficiente para esgotar a discussão sobre os tópicos propostos, mas sim, que ele tenha se constituído em uma ferramenta disparadora e instigadora sobre a importância do debate acerca da Saúde Global no cotidiano, não apenas acadêmica, mas também do trabalho. O campo da Saúde Global, apesar de sua relevância, ainda é pouco discutido na realidade brasileira e acredita-se que iniciativas como a do ciclo de encontros “Tópicos em Saúde Global - Global Health Watch4” possam ser multiplicadoras e incentivadoras de mais ações nessa área.
Palavras-chave
saúde global; políticas de saúde; participação social