Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida
Suplemento Revista Saúde em Redes ISSN 2446-4813 v.2 n.1, Suplemento, 2016
CONTEXTOS RECREATIVOS NOTURNOS DO MUNICÍPIO DE CHAPECÓ-SC: REFLEXÕES INICIAIS PARA UMA EXPERIÊNCIA DE PESQUISAAÇÃO PARTICIPATIVA
Altamir Trevisan Dutra, Murilo Cavagnoli, Myriam Aldana Vargas Santin, Daniela Zawadski, Ana Carolina Duering, Isis Dettweiler, Caroline Chioldeli, Augusto Schimidt, Vanessa Corralo
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
APRESENTAÇÃO: Este trabalho discute o tema dos contextos recreativos noturnos a partir de reflexões de uma experiência de pesquisa ação participativa. Trata-se de uma abordagem colaborativa e de investigação que envolve equitativamente todos os parceiros no processo de pesquisa. Nesse tipo de pesquisa, elege-se um tema de pesquisa com importância para a comunidade-alvo e combina-se conhecimento com ação para alcançar a mudança social, melhorando a saúde da comunidade e diminuindo as desigualdades (MINKLER; WALLERSTEIN, 2008). Essa abordagem de investigação assume uma forma sequencial e cíclica de diagnóstico, planejamento, ação e reflexão, conduzida com e pelas pessoas visadas no programa, em cujo processo o poder é partilhado, o que constitui, por si só, a diferença para com as metodologias de investigação tradicionais (CORNWALL; JEWKES, 1995). Outro ponto que cabe destacar é a busca por um conhecimento gestado de modo dialógico, em uma forma de investigação que considera, de modo especial, os sentidos produzidos na interlocução constante entre pesquisadores e pesquisados. A vida noturna é um momento comum de lazer e é vivenciada e organizada de forma peculiar em cada cidade brasileira. No entanto, várias pesquisas apontam que esses momentos de lazer podem ser também lugares propícios a violências e comportamentos de risco que causam danos à saúde e à população em geral, muitas vezes pelas características específicas do lazer noturno (CALAFAT et. al, 2007). Esses contextos são um fator de risco para o uso de drogas e outros comportamentos de risco relacionados a ele (sexualidade de risco, violência, condução de veículos). METODOLOGIA: Este estudo teve como objetivo apresentar características de ambientes de diversão noturna e de distintos grupos de jovens presentes na cidade de Chapecó-SC, Brasil, e foi concebido por integrantes do Núcleo de iniciação científica direitos políticos sexuais e reprodutivos: implicações e desafios no seu reconhecimento da Universidade Comunitária da Região de Chapecó – Unochapecó. Neste trabalho apresentaremos algumas reflexões sobre experiências de pesquisa ação participativa que utilizamos durante a fase inicial do estudo. A concepção e as metodologias utilizadas estão articuladas com o IREFREA Portugal - Instituto Europeu para o Estudo dos Factores de Risco em Crianças. O IREFREA é uma associação não governamental fundada em 1997 que se dedica à investigação dos comportamentos desviantes da juventude e respectiva prevenção primária, bem como ao estudo dos aspectos associados aos fatores de risco e proteção desses jovens. As metodologias que utilizamos procuram aplicar e adaptar instrumentos criados e avaliados em algumas cidades europeias, de países como Áustria, República Tcheca, Alemanha, Grécia, Itália, Portugal, Eslovênia, Espanha, Reino Unido). Para tanto, a busca de informações foi realizada através do Kit de Avaliação de Diversão Noturna (Karen). O Karen pode ser considerado um método de estimativa rápida que permite a abordagem comparativa entre os contextos de vários lugares. Através de dados qualitativos e quantitativos foram obtidos os dados e informações, descrevendo a cidade de Chapecó, as áreas recreativas da cidade,os locais recreativos, e as pessoas que saem à noite. As informações coletadas no município de Chapecó compreenderam o levantamento de dados secundários, provenientes de diferentes fontes, e dados primários criados pela equipe de pesquisa, basicamente, de natureza qualitativa (entrevistas com pessoas-chave e visitas de observação em contextos de lazer noturno). A primeira etapa do estudo teve caráter exploratório, buscando a inserção, o reconhecimento e a apreensão de sentidos relacionados ao campo de investigação, através da observação participante. As questões centrais do estudo, perscrutadas através da observação participante, se referem ao mapeamento de riscos nesses contextos relacionados ao uso de álcool e outras drogas e à compreensão das “relações de gênero” (Butler, 1998). Essa etapa foi realizada por acadêmicos do curso de graduação em Psicologia da Unochapecó, na disciplina de Métodos de Observação e Produção do Conhecimento II, que busca dominar técnicas de observação e registro, entrevista e análise das informações relacionadas a pesquisas participativas. Os estudantes selecionados foram aqueles que frequentam ambientes noturnos que participaram de uma capacitação para o desenvolvimento de habilidades para interagir com informantes de diversas esferas, com diferentes habilidades comunicativas e no processo da pesquisa desenvolveram competências de investigação comuns. Ao mesmo tempo em que se fez a pesquisa de campo, foram produzidas anotações do cotidiano em diário de campo a partir de estratégias de observação e entrevista, buscando identificar características de ambientes e de distintos grupos de frequentadores de contextos recreativos noturnos na cidade de Chapecó - SC. RESULTADOS: As informações foram obtidas por seis estudantes em quatro casas noturnas, duas delas promovendo, nos momentos de observação participante, festas voltadas à música sertaneja, uma apresentando um show de rock e a última casa promovendo evento com temática orientada pela música pop. Essa atividade possibilitou a articulação de diversas teorias e métodos para ampliar o olhar através de práticas de observação, desenvolvendo o interesse pela pesquisa e contando entre professores e acadêmicos com tutorias em grupos, visando qualificar a escrita, com relatos e fundamentação teórica, corroborando para a produção do conhecimento e formação de um profissional da Psicologia atento e crítico à realidade. Percebemos essa atividade como forma de interação entre o saber acadêmico, em seus diversos campos de conhecimento, e os saberes dos sujeitos individuais e coletivos envolvidos na pesquisa. A pesquisa de campo retratou o cotidiano e a produção de informações, através de notas descritivas (relato dos acontecimentos, descrição das atividades, reconstruções de diálogos entre os participantes, incluindo o(a) acadêmico(a) e notas analíticas – análise de implicação, contemplando reflexões teóricas e éticas). CONSIDERAÇÕES FINAIS: Identificamos referenciais de boas práticas em Educação pelos Pares, mobilizando estudantes universitários para interagir com outros jovens, em contextos recreativos, principalmente na escolha da forma de como as informações foram coletadas. A metodologia utilizada foi fundamentada para conceber intervenções educativas dialógicas, criativas e culturalmente competentes; assim como ativar a mobilização comunitária no ensino superior. Dentre os resultados que cabe destacar neste estudo, estão as dificuldades para identificar padrões de consumo, ‘saúde e segurança’ relativos ao contexto recreativo e experiências de prevenção que visam garantir uma vida de lazer seguro e saudável. Outrossim, avaliamos o tipo de dados já existentes sobre o contexto recreativo noturno da cidade de Chapecó. Além disso, percebemos uma clara relação entre estilos musicais, enunciados verbais e apresentações de distintas performances de gênero e consumos (escolha do local, uso de álcool e outras drogas, etc.) em cada um desses contextos.
Palavras-chave
Contextos recreativos noturnos; pesquisa ação participativa; educação em saúde
Referências
BUTLER, J. Fundamentos contingentes: o feminismo e a questão do pós-modernismo. Cadernos Pagu, n. 11, p. 11-42, 1998. Tradução de Pedro Maia Soares.Originalmente publicado no Greater Philadelphia Philosophy Consortium, sob o título Contingentfoundations: feminismandthequestionofpostmodernism, 1990.
CALAFAT, A.;JUAN, M.; BECOÑA, E.; FERNÁNDEZ, C. Mediadores recreativos y drogas:nueva área para laprevención. Palma de Mallorca: IREFREA España, 2007.
CORNWALL, A.; JEWKES, R. What is participatory research? Social Science and Medicine, v. 41, n. 12, p. 1667-1676, dez. 1995. Disponívelem: <http://www.civitas.edu.pl/pub/nasza_uczelnia/projekty_badawcze/Taylor/what_is_participatory_research.pdf>. Acessoem: 10 ago. 2015.
MINKLER, M.; WALLERSTEIN, N.Community-based participatory research for health: from process to outcomes. São Francisco (EUA): Jossey-Bass, 2008.
OBSERVATÓRIO EUROPEU DA DROGA E DA TOXICODEPENDÊNCIA. Relatório anual 2005: a evolução do fenómeno da droga na Europa. Luxemburgo: Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Europeias, 2005.