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Percurso de uma formação EAD em Micropolítica da Gestão e Trabalho em Saúde: Problematizando o agir cotidiano da gestão em saúde
Última alteração: 2015-10-30
Resumo
O presente trabalho parte da experiência dos autores como coordenador pedagógico e tutores, no curso de Especialização em Micropolítica da Gestão e Trabalho em Saúde, em EAD (Educação à Distância), iniciado em novembro de 2014 e que ainda está em andamento. Com objetivo de formar especialistas em Gestão do Sistema Único de Saúde e contribuir para o aprimoramento dos processos de organização das redes de atenção à saúde, o curso tem abrangência nacional, com a realização de três encontros presenciais (com defesa de Monografia no último deles), e fundamentam-se em alguns pressupostos, tais como: o uso das experiências do cotidiano da gestão como condutoras do processo de ensino e aprendizagem, perpassados pelos conteúdos das unidades de aprendizagem (Políticas de Saúde; Planejamento e Gestão; Epidemiologia; Avaliação em Saúde; Financiamento do SUS; Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde), consideradas como ferramentas para reflexão sobre a prática dos alunos e entendidas com valor de uso, ambos esses aspectos, como dispositivos de diálogos, integração de coletivos e de mudanças loco regionais. No Estado do Pará foram abertas sete turmas, distribuídas de acordo com as 13 Regiões de Saúde do estado, e os encontros presenciais têm sido realizados congregando-se cinco dessas turmas na cidade de Belém, uma em Santarém (Região de Saúde do Tapajós e Baixo Amazonas) e uma em Conceição do Araguaia (Região do Araguaia Tocantins). Desse modo, e a partir da realização de diversas atividades de avaliação e fóruns de discussão que são propostos à medida que os alunos avançam no curso, pretende-se trazer seus cotidianos de trabalho em gestão para dentro da plataforma, para trocas entre os próprios alunos e entre estes e o tutor de sua respectiva turma. A partir desses aspectos, nesse trabalho pretende-se pensar sobre tal experiência, particularmente a partir da implicação de estar em um cargo de gestão na área da saúde e se tornar aluno de um curso como o aqui descrito. Problematizando seus agires militantes em saúde e os territórios que eles forjam para si e para os outros (coordenação, tutores e demais alunos) a partir de suas práticas e vivências, ou seja, seus modos de governar. Referindo-se aqui, especificamente àqueles que estão em uma situação de governo formal, ocupando lugares na máquina estatal, pois bem sabemos que trabalhadores e usuários também governam, disputando projetos e transformam cenários. Estar em um curso EAD gera algumas demandas que não são tão simples de serem superadas. Mesmo em um curso que se pretende menos estruturado, com atividades avaliativas e participação em fóruns de avaliação com prazos mais flexíveis, cumprir com determinadas exigências requer certo planejamento da vida diária. Nesse sentido, bastante comum entre os alunos e gestores argumentos de diversas ordens, tais como a “falta de tempo”, para justificar o fato de ou não estarem acompanhando o curso como deveriam, ausentando-se do mesmo por período igual ou superior até ao prazo máximo tolerável pelo curso, muito embora relatassem a continuidade do interesse em permanecer no mesmo. Desse modo, olhando para tais aspectos nos coube problematizar o fato de esses alunos e gestores ainda se verem desvinculados do curso, isso considerando não apenas que a atividade de gestão na área da saúde, é comumente descrita como uma atividade cheia de compromissos e apostas de governo, mas também que um dos fundamentos mais importantes do curso é a aposta de fazer os alunos/gestores pensarem sobre o seu agir cotidiano na gestão, a micropolítica do trabalho em saúde e trazê-lo para a plataforma, no ambiente virtual de aprendizagem e trocas de experiências entre eles, os demais e os tutores. Assim, não seria o curso, justamente uma possibilidade para que os mesmos pudessem fazer isso junto com os demais e com os próprios tutores. Não estariam eles presos a lógicas administrativas que não os permitem coletivizar seus fazeres, o que poderia contribuir para pensar seu cotidiano de gestão a partir de uma lógica menos econômico centrada e mais usuário centrada, numa dimensão mais cuidadora? Não seria essa uma potente possibilidade de operar a gestão cotidiana a partir de sua micropolítica e como um dispositivo que incorpore outras tecnologias do agir em saúde? A partir disso, temos que, caminhando para o término do curso, podemos pensar na possibilidade de os alunos/gestores estarem fabricando um território da gestão que se codifica não no coletivo e, a partir daí, ainda estarem colados “na gestão”, que só passa a existir como um território quando corporificada nos corpos, em ato de performatividade que não se submete a nada, sendo nada mais do que um ato de produzir uma ação e delimitar um território de atuação – o da gestão em saúde. Eles, alunos gestores, como componentes de um governo, participantes da rede de poder do Estado, tem a autoridade para a fabricação deste mundo, o território da gestão. Verificamos as grandes possibilidades de a “não socialização” das experiências através dos fóruns na sua plenitude. Mas apostamos que a construção coletiva do projeto de intervenção traga para as equipes do território a reflexão da troca e da construção conjunta a partir da problematização e busca de objetivos comuns: o acesso à saúde da população!
Palavras-chave
Educação à Distância; Micropolítica do Trabalho; Gestão em Saúde.
Referências
Cruz, K. T. Agires militantes, produção de territórios e modos de governar: conversações sobre o governo de si e dos outros. Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Clínicas Médicas, 2015.
Merhy. E. E.; Magalhães Júnior, H. M.; Rimoly, J.; Franco, T. B.; Bueno, W. S. O trabalho em saúde: olhando a experiência do SUS no cotidiano. São Paulo: Hucitec, 2007 (Saúde em Debate, 155)